um mês depois, meu leitor, ocorreu a história da Primeira Vítima.
talvez você entenda melhor meus sentimentos agora, talvez você entenda que a noite na pequena londres não tem nada a ver com uma história de garoto espertinho que quer provar o melhor das meninas e jogá-las fora depois, como talvez tenha ficado subentendido no desenrolar dessas histórias. o narrador antigo foi muito infeliz em começar a história com a Primeira Vítima e desenrolar a partir dela, mas o narrador antigo não queria contar uma história de dor. ele queria contar uma história legal sobre carros, céu, estrelas, postes de luz acesos e algumas meninas. honestamente era o que estava ao seu alcance.
eu, heart-shaped star, senti dor, e às vezes canto minha dor. eu cantei na sétima estrela e cantei mais uma vez aqui, na décima, com essa história em minhas mãos. prometo terminá-la na décima-primeira estrela, em seu último capítulo. esse narrador antigo é uma pessoa muito bondosa e estava em um processo de reabilitação social, eu fui aprisionado e o deixei vivendo daquela forma porque ele precisava aprender a viver em sociedade. ele não teria condições de aprender a falar e se expressar se estivesse comigo porque eu sou um verdadeiro turbilhão de emoções e personalidades distintas sem interesse algum em ser compreendido pelas pessoas, ele precisava de unidade e do sentimento de pertencimento a algum lugar. escolhi a igreja para ser esse lugar, com suas pessoas boas e suas pessoas horríveis, porque me identifico com a igreja no aspecto dela ser a noiva de Cristo. eu fui a noiva de Cristo durante a minha depressão também, ele me salvou da morte como se eu fosse uma donzela em apuros e cuidou de mim com a paciência do melhor marido do mundo.
entenda, leitor, que o impulso light fuse and get away não é apenas romântico no meu caso. ele está cheio de impurezas por causa da dor. ele examina as pessoas e vê o quanto elas vão me fazer sofrer, com intenção de me fazer sofrer ou não, baseado nos vários casos de aflição que sofri ou que confortei durante a minha vida e esses casos não são nem um, nem cinco, nem dez. eles são centenas. esses meus impulsos não são apenas impulsos, eles são verdadeiras pessoas dissociadas de mim agindo no imaginário das pessoas que se aproximam para prová-las em seus traumas e decidirem por mim qual distância devo manter delas. às vezes pego as pessoas em seus traumas mais profundos e elas dizem pra mim com toda a certeza do mundo, “eu não vou fazer isso com você! eu só faço isso com as pessoas que odeio ou que fazem muita maldade comigo”, eu não estou lidando com um relacionamento superficial, um relacionamento profundo abre várias possibilidades desconhecidas boas e ruins mas mantém todas as possibilidades que já foram abertas e essas coisas que aconteceram com os outros com certeza vão acontecer comigo porque somos todos iguais.
não, nada disso é verdade. esse é o monstro dentro de mim. ele é forte, alimente-o antes da hora e tudo cai. eu não me sinto feliz vendo tudo cair, eu sinto uma tristeza muito profunda que já não me importo mais de sentir porque raramente senti coisas diferentes disso, é o que estou acostumado a sentir. estar acostumado a sentir, ter uma facilidade enorme para se reerguer disso, chorar intensamente por uma semana para tudo ficar bem logo ao invés de ficar fingindo felicidade por meses para esconder os sentimentos ruins, ter uma chama de fé sempre acesa, tudo isso eu aprendi para sobreviver em meio a esse caos que é a minha vida. eu aprendi tudo isso sozinho. talvez absorvendo um pouco de uma pessoa ali, de outra acolá, mas nunca tendo alguém para me ensinar como ela vive aquilo, eu sempre tive que colocar as variáveis na minha cabeça e montar meu próprio sistema para processá-las. é por isso que tudo o que digo parece ter uma linguagem tão única e diferente, é por isso que eu montei a minha própria linguagem e cada um entende da sua forma e preenche com a sua própria imaginação, a minha linguagem é montada por uma pessoa solitária que não sabe muito bem até que ponto está se identificando com os outros e até que ponto está sendo uma pessoa completamente diferente de todo mundo.
eu maltratei a Primeira Vítima fazendo ela se sentir incapaz de alcançar meu coração com a sua simpatia e compartilhando seus hobbies fofos que ela mesma considerava ridículos, eu maltratei a Namorada fazendo ela se sentir incapaz por ter sido um homem que antes de oferecer seu coração a ela ofereceu uma pancada de coisas que ela nunca poderia retribuir como ajuda financeira e um abrigo emocional, eu maltratei a Miss Maldade sendo o garotinho mais fofo da sua vida e logo depois desaparecendo e a deixando sem entender o que tinha acontecido. em todas essas situações e mais algumas outras eu senti uma aflição enorme e uma incapacidade de continuar conversando, porque comecei a identificar semelhanças nessas histórias com as histórias que sofri no passado, elas estavam se tornando cenas vivas na minha cabeça que me atormentavam todas as noites e eu já não poderia mais suportar nada disso sem querer enfiar uma faca no meu peito.
infelizmente algumas dessas histórias não precisaram durar um mês sequer para eu me tornar um rapaz marcante, trazendo uma mensagem diferente e um coração enorme de gostinho irresistível.
esse é o processo de nascimento e criação de um verdadeiro destruidor de corações, filho dos céus estrelados. o narrador antigo não conseguiu trazer a vocês, eu trouxe. não é safadeza, não é maldade e também não é muito ego. a melhor palavra pra isso é “aflição”. a segunda melhor, talvez, “insegurança”. mas é sempre bom que nunca tragam apenas a insegurança, é injusto, a insegurança em si remete a uma covardia pura, asquerosa e repreensível.
a insegurança de uma pessoa aflita remete a uma doença que precisa de cura.