então, o pequeno star entrou no ensino médio.
colégio novo porque o antigo não me suportou e acabou me expulsando dali naquela oportunidade que toda escola pública tinha de filtrar seus alunos: o ensino médio, onde ela reteria os melhores alunos e recomendaria “escolas mais próximas” aos piores.
fui parar na escola onde minha mãe dava aula. ali eu teria de me manter na linha, não poderia aprontar nada como pular o muro (eu pulei tanto o muro na sétima série que uma vez meu pai estava esperando do outro lado), não poderia me envolver com os maus elementos, já meninas… ah, minha mãe sabia que eu não dava problema com meninas, eu só tinha beijado uma (eu não tinha beijado nenhuma, nunca beijei ninguém, só disse que beijei porque queria evitar constrangimentos. aos quatorze, por ser perturbadoramente sujo por dentro, eu não conseguia me olhar no espelho, julgava ser a pessoa mais feia do mundo e me sentia rejeitado por todos).
aos quatorze, na internet, me envolvi com homens bem mais velhos que eu e os absorvi mentalmente prestando atenção em suas conversas. a princípio levei muito a sério e aprovei tudo mas, depois de um tempo, fiquei de saco cheio e, cansado daquele converseiro toda pessoa muito filosófica inventa para moralizar e até intelectualizar o ato de transar, equiparei aquilo ao incesto usando todo o aparato lógico-moral que montei nos anos anteriores unindo meu super-intelecto com a falta do que fazer com a intenção de me sentir melhor pelo fato de me interessar por coisas tão horríveis, intensas e destrutivas e desmoralizei todos eles. foi a primeira vez que tentei contaminar pessoas com a minha frustração, como uma mulher que gosta de virar cabeça de hominhos que se acham inocentes: eu não estava acreditando que eles conseguiam se iludir tão bem que eram mais do que pessoas cheias de práticas horríveis e nojentas como eu, eu precisava vê-los perdidos como eu, eu precisava vê-los sofrendo com a sua sexualidade como eu sofria. e eu fiz isso, rindo da reação escandalosa sem argumento nenhum contra mim, apenas falando “você não entende! com mãe é imoral, ela cuidou de você e blablabla…” como se eles não estivessem fazendo uma desmontagem seletiva da palavra “imoral”, eu só respondia “se você pode fazer com quem quer do jeito que quer desde que os dois queiram, você faz com quem quer do jeito que quer desde que os dois queiram”. não era certo desejar o que eu desejava, eu sabia disso, nunca me fechei num quarto com uma mulher porque a única coisa que ainda não tinha feito era consumar o erro e eu estava desesperado não querendo passar dessa linha. eu sabia disso. eles precisavam saber também. pior, eu sabia que eles sabiam, eles só estavam brigando com sua própria alma.
eu era uma mulher de salto dourado e eles eram um ursinho de pelúcia. e era muito gostoso pisar em todos eles, ainda mais lembrando de todas as suas conversas sujas, tudo o que eles sugeriram que eu deveria fazer, tudo o que eles me explicaram e eu acreditei que era sério, absorvi e não consegui mais esquecer depois (ninguém tem noção de como despertei para coisas terríveis ouvindo os conselhos deles, embora isso não tenha sido culpa deles, eles só impulsionaram alguém que já era errado demais. não posso acusar ninguém nesse mundo, eu tinha uma sexualidade despertada com quatro anos na periferia de uma cidade que exporta música de corno, eu nunca tive como dar certo). as bandas de post-rock e edm que meu espírito sabia que eram uma porcaria mas eu, de alma completamente embriagada, me apaixonei por todas. não importava que eles gritassem tanto tentando me chamar de louco, de doente, dizer que eu não estava entendendo, o simples fato de eles estarem gritando me agradava porque eu sabia que estava os afetando e, quando cansei, só parei de prestar atenção: o mais divertido de pisar em alguém que é muito menor que você é que, quando você encosta no chão, a pessoa morre.
eu fui mais que uma rebecca pra eles.
eu fui o próprio diabo.