Série: heartshaped star - estrela cadente / noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados

iv-iii. as primeiras séries

16 de dezembro de 2017

noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados iv: acendendo as luzes da cidade

 

não, a Sobrenome Lindo não foi a única menina dessa época. eu lembro de no mínimo mais uma que se perdeu por aí, cuja mãe era muito amiga da minha mãe, e nós brigávamos muito e às vezes nos odiávamos muito mas de vez em quando estávamos um na casa do outro e de vez em quando brincávamos.

na primeira série lembro de três meninas, duas delas irmãs. não vou desenrolar a história porque não lembro de maioria dos detalhes. lembro o nome das três meninas.

a menina que não era irmã das outras duas conviveu comigo até a quinta série, a partir da sexta ela se mudou de escola e não nos falamos mais (acho que nunca contei a ninguém que fiquei muito triste por isso ter acontecido, mas só nunca contei porque ninguém perguntou). tínhamos uma história de amor e ódio bem bonita para nossa idade: brigávamos muito sobre qualquer assunto possível mas sempre que nos machucávamos de verdade pedíamos desculpa, fazíamos carinho geralmente verbal mas vez ou outra físico, puro e inocente um no outro; várias vezes combinamos “a partir de hoje eu nunca mais falo com você”, todas as vezes algum de nós quebrou o trato; uma vez fiz uma maldade enorme com ela (calma! envolvia quebrar lancheira, algo do tipo), meus pais ficaram sabendo, tomei uma surra bem memorável e ela, ainda chateada comigo, me contou muito triste que não queria que eu tivesse apanhado embora vez ou outra os sentimentos de raiva ainda a fizessem falar um “você mereceu”; no último ano juntos aconteceu algo que julguei ser o fim do mundo para mim (claro que não era! era ansiedade, muita ansiedade) e ela se esforçou muito em me acalmar por horas, ao ponto de eu lembrar tudo o que ela me falou, mas não ao ponto de reproduzir aqui para o leitor; em um desses anos, não vou falar qual mas talvez fale no futuro, ela atacou a minha sexualidade (oooops… já despertada) numa festinha e eu fiquei totalmente perdido sem entender o que tinha acontecido, ela ficou o resto da festa me pedindo desculpas e eu na verdade só não sabia o que pensar, aliás, duvido muito que ela tenha entendido isso da mesma forma que eu.

ou não, né. dizem que mulher já nasce sabendo de tudo.

as irmãs duraram menos. a história delas não é tão marcante quanto a dessa outra menina, talvez mais intensa porque uma delas era briguenta ao nível de querer bater nos meninos e eu já devo ter apanhado dela alguma vez, a outra só me dava uns tapas e às vezes me mordia. longe de mim querer alimentar estereótipos, ainda mais racistas, é só parte da história: uma era frágil branquinha e a outra era agressiva moreninha, a agressiva protegia a frágil mas há algo na minha memória avisando que a frágil não era assim tão frágil. lembro uma vez de ter chamado a frágil de feia, brincando na roda de meninos como bons meninos em roda de meninos, e ela ficou muito, muito, muito triste comigo; levou um tempão pra explicar que era brincadeira mas, bem, isso não se faz mesmo.

elas se mudaram, não lembro se de cidade, de estado ou de país na segunda série e só voltaram na quinta, bem maiores e ainda mais gatinhas. ficaram mais algumas séries mas acabamos nos distanciando um pouco lá pela sétima, quando deixei de ir para a escola de van e passei a ir de ônibus, tornei-me um verdadeiro delinqüente daqueles que cospem em pessoas na rua e outras coisas tenebrosas de adolescente revoltado. por algum motivo eu era muito revoltado na adolescência, muito mesmo, o pouco que externalizava não era digno dos repetentes mas havia algo diferente em mim, algo ousado, que me fazia discutir de igual pra igual com os professores e convencer eles a me deixarem em paz.

uma vez fiz uma professora, na sétima série, descer do salto ao me encaminhar para a diretoria porque fiz um comentário maldoso muito bem-calculado sobre o novo cabelo dela. minha mãe, como professora, ficou muito brava comigo, mas ninguém conseguiu recusar a idéia de que ela estava me punindo como mulher, não como professora. (eu gostava do cabelo dela. aliás, achava ela bem gatinha pra uma senhora de quarenta ou cinquenta e às vezes a elogiava. foi uma brincadeira amplificada pela raiva que eu estava sentindo no momento. aliás, talvez eu volte nela sem você perceber)

mas não quero saltar para a sétima série assim, de uma vez. dei saltos estranhos porque foi um caso da primeira série até a quinta, depois da primeira para a quinta até a sétima, mas tenho todo um quadro de anos com eventos muito interessantes para desenhar. também quero, em uma das análises, voltar ao jardim de infância. o jardim de infância não teve apenas flores, ele teve muita tragédia.

 

Você leu um capítulo da série heartshaped star - estrela cadente

Você leu um capítulo da série noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados

escrito por nubobot42 narrado por heartshaped star