Série: heartshaped star - estrela cadente / noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados / heart-shaped star: estrela cadente x

iv-xxi. Brunette

16 de dezembro de 2017

noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados iv: acendendo as luzes da cidade

 

os meus dezenove anos foram difíceis, muito difíceis. como disse eu estava em depressão profunda, sendo uma boneca sexual do universo feminino e homossexual masculino também, me protegendo no meu quarto construindo um relacionamento forte com Deus embora meu quarto ainda fosse um templo profano da morte e da perversão. acho muito sério dizer que Deus não coabita com o pecado mas Deus é poderoso e amoroso demais para não travar uma luta dessas pelo seu filho, não tinha outra saída, eu não estava pecando por vagabundagem mas por isso ser a desgraça interna que quase levou a minha vida. era escravo disso e não era alguém que não sabia o que estava acontecendo, eu era um desviado, não era um demônio em mim mas um demônio mais sete.

eu também era abrigo emocional de muitas pessoas. de muitas meninas, principalmente. eu era o único menino que tinha o coração da garota lésbica da minha sala na faculdade, não arrisco dizer nessa história se ela alguma vez ficou afim de mim apesar de lésbica (vai saber, né?), mas eu sabia dos sentimentos dela porque ela me contava e se sentia à vontade para contar. eu sabia também dos sentimentos da outra menina da sala, que não era da pequena londres e namorava um cara da cidade dela, como amigo e não como namorado, embora alguém que não tenha a ingenuidade que ela tinha por ser uma pessoa de uma cidade minúscula e eu tinha por ser basicamente um assexuado com ela acreditasse que as atitudes dela com relação a mim não eram de amiguinhos. uma vez ela estava pra terminar com o namorado e comentou sobre isso corriqueiramente, eu não deixei o assunto escapar e comecei a perguntar coisas mas percebi que isso estava a fragilizando e a fazendo se aproximar de mim de uma maneira que poderia não terminar bem então comecei a elogiar seu namorado, a elogiá-la como namorada, a sugerir coisas que ela poderia fazer para mudar o cenário da relação e ela relutou a princípio mas acabou acatando. eles continuam namorando hoje, três anos depois, se é que não casaram.

eu conhecia a trajetória emocional de ambas. também conhecia a trajetória emocional de muitas meninas na internet e nunca percebi que elas poderiam ter segundas intenções ao me contarem isso, que elas poderiam estar tentando despertar em mim sentimentos como a Carinha de Anjo fez embora talvez sem essa malícia porque queriam algo genuíno, bondoso, comigo. eu, acima de tudo, conhecia a trajetória emocional da Moça da Carta de Amor e várias vezes disse que a amava como amigo.

mas a história ainda não é sobre ela.

aos dezenove anos eu intensifiquei a história com uma amiga minha, também leitora assídua das histórias estranhas que escrevia na época. a Brunette. me desculpe se você ainda é leitora e se achar aqui, assim como se achou nA Garota Mais Legal Do Mundo, mas as minhas histórias não perdoam ninguém.

a Brunette era uma dessas meninas que me contavam seus sentimentos. houveram várias, várias mesmo. tive uma história alternativa engraçada, porém muito triste, de uma menina maluquinha que se apaixonou por mim e terminou com o namorado que era um conhecido meu para tentar se aproximar de mim embora pra mim estivesse bem claro que ela era só uma amiga, ela não conseguiu me fisgar e, em algum momento da história que não sei se foi próximo de mim ou se teve relação com a frustração comigo e espero que não tenha, passou a gostar de meninas, enquanto o namorado veio me contar a história e me chamar de viado por não ter pegado ela (!!!). eu só fiquei pensando “uau”. e até hoje penso isso: uau. ela não gosta necessariamente apenas de meninas, algumas outras vezes se aproximou de mim com intenções ou não, algumas vezes disse que o pior castigo do mundo era se apaixonar por mim porque eu nunca corresponderia e também nunca a comeria e jogaria fora para frustrá-la e dar motivos para ela me esquecer.

esse pessoal é todo maluco.

a Brunette, no entanto, conseguia ser mais maluca. ela era uma mocinha toda pervertida, mais nova que eu, e me tratava como se fosse o melhor amigo de sempre. eu conhecia todas as aflições dela, todas. e eram muitas, muitas mesmo. ela tinha grandes ambições que nunca atingia, grandes tempestades na vida onde sempre era o centro e sempre era atingida em cheio pelo mais furioso dos raios e é claro que não vou contar nenhuma porque gosto dela, dessa completa maluca, e quero que ela se irrite comigo não por ter exposto seus problemas mas por ter lembrado daquilo que todo mundo viu. a Brunette era uma linda mocinha pervertida sofrida e via em mim um grande descanso emocional, ela deve ter sido a primeira menina com quem conversei diariamente no whatsapp na minha vida, só que ela não era o único contêiner de carências da história: eu também era, envolvido em toda essa lama onde estava, e logo suas fotinhas lindas todas produzidas falando que era uma pessoa horrível em busca de elogios passaram a me atingir em cheio.

não muito tempo depois eu já não era mais apenas seu descanso emocional, eu já era sua fonte de incentivo e elogios. ah, e também estava me apaixonando e tentando esconder isso como podia sem motivo lógico nenhum, pelo simples fato de que tinha me acostumado a esconder meu coração das pessoas. mas ela sabia, ela também tinha invadido alguns dos meus sentimentos com o clássico “pode me usar um pouquinho também, parece que só eu me abro com você”. ela sabia reconhecer o que eu gostava pelas nossas conversas, pelos nossos flertes que até então eu não sabia que eram flertes: nunca tinha ouvido essa palavra na minha vida, eu era tão egocêntrico que achava que as pessoas sempre sabiam quando eu estava sendo sério e quando estava brincando e isso era um verdadeiro caos porque elas nunca sabiam, pode ser que eu seja a pessoa mais sarcástica do planeta.

ela sabia reconhecer a minha sexualidade. ela atingiu em cheio minha sexualidade com algumas das fotos (não, leitor, não eram fotos nuas. eu nunca recebi uma foto de mulher nua na minha vida e nem quero. primeiro que continuo sendo uma pessoa que acredita na castidade, segundo que não pretendo incentivar sequer minha esposa a fazer isso porque morro de medo de ser hackeado ou roubado e a coitada da mulher ser vista por pessoas indesejadas). ela notou isso e ficou cheia de si, mas… ela não era apaixonada por mim nem nada disso, acho. nós estávamos num ponto muito perigoso da amizade e eu, então, me declarei pra ela, algo que ela não teve coragem de recusar dizendo que não gostava de mim e sim dizendo que não estava muito interessada em relacionamentos, o que aceitei sem problema algum e só continuamos amigos. uma pena que continuamos com a nossa relação do jeitinho que estava, com ela precisando do meu coração e das minhas palavras, como uma versão menos má e mais adoecida da Carinha de Anjo e eu não vi problema nisso.

até o dia em que ela, a pessoa que “não estava interessada em relacionamentos”, começou a namorar outro rapaz. o meu coração se arrebentou muito feio, muito feio mesmo, mas não consegui me expressar emocionalmente. tudo o que consegui expressar foi que estava muito chateado com as mentiras dela e com o rapaz e com meio mundo de coisas tentando equilibrar tudo numa balança de justiça. não tinha justiça ali, era sentimento. era coração ferido. ela, por ser muito maluca das idéias, mas muito maluca das idéias mesmo, achou que manteríamos a relação de amizade exatamente igual mas isso era absurdo. não que não pudesse ser uma amizade (na verdade não poderia! mas eu também era ruim da cabeça, eu também acreditava que pessoas mexendo com a sexualidade uma da outra poderia ser apenas amizade desde que elas não fizessem sexo, até porque eu nem sabia mais o que era sexualidade já que eu era uma sexualidade ambulante) mas ela estava namorando e o namorado iria morrer de ciúmes de uma coisa dessas, eu não poderia fazer isso com ele mesmo que não gostasse dele porque blablabla sentimentos.

eu… finalmente entendi que meninas poderiam fazer isso não por serem vagabundas, não por serem vadias, mas porque lidar com o coração e as enganações da própria mente é muito complicado para uma moça perdida no mundo. algumas vezes, em períodos muito sombrios de sua vida que graças a Deus são cada vez menos freqüentes, ela aparece do nada pra conversar comigo. eu não tenho mais sentimento nenhum por ela mas o alicerce emocional ficou, ela passou por situações tão complicadas que, para ela, ninguém entenderia, só eu entenderia. só eu era tão louco e cheio de aflições quanto ela, só eu compartilhava essa minha intimidade maluca com ela, só a minha estrutura emocional era segura o suficiente para ela. eu não respeitei isso por ter segundas intenções, embora ainda seja uma pessoa suspeita para o namorado então sempre a incentive a encontrar um caminho de se comunicar com sua família e com ele para não complicar ninguém, eu respeitei isso como amigo. talvez ela não converse mais tanto comigo não porque tenha melhorado, mas porque entendeu o quão sérias eram minhas recomendações de montar essa estrutura emocional segura com seu namorado. eu perdoei racionalmente tudo o que ela fez e, se ainda não tinha a perdoado emocionalmente, era porque meu coração era tão oculto que ainda não sabia que tinha sofrido. assim que descobri que essa situação me fez sofrer eu pedi ao meu coração que a perdoasse também e, sem muitos problemas, ele a perdoou.

 

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escrito por nubobot42 narrado por heartshaped star