esse não é o fim das histórias tristes da minha infância. como disse, tenho algo a acrescentar aí: tive problemas com mulheres adultas na infância por ter despertado minha sexualidade tão cedo e não serei específico nem no tipo de mulher adulta porque odeio a idéia de denunciar alguém mesmo que implicitamente, odeio mesmo. algumas mulheres notavam eu reparando em coisas que só homens (às vezes nem os homens) reparavam, não crianças, então eu não sei o que acontecia na cabeça delas (torço para que curiosidade e apenas curiosidade) que elas resolviam instigar e terem certeza de que não era só viagem na maionese, de que eu estava mesmo observando. bom, sim, eu estava, suas loucas. uma vez a Heartbreaker Prototype me contou que fez isso com uma criança de dez anos, ela nem se deu conta do que tinha feito e me contou como se tivesse feito com um adulto, eu não soube o que sentir ouvindo.
uma vez uma dessas mulheres, bastante próxima de mim, que já tinha me instigado várias vezes a prestar atenção nessas “coisas” dela, ficou muito irritada com algo que eu tinha feito e resolveu atacar minha sexualidade por raiva. aos cinco anos de idade. foi um episódio que me marcou muito, lembro até hoje até da sensação, fiquei aterrorizado por semanas com os efeitos na minha mente e não consegui me livrar, como se fosse uma mulher despertada para a coisa mais horrível do mundo tentando parar de fantasiar mas cada tentativa me aproximava mais daquilo ao invés de me afastar. o fato de que eu ainda via aquela mulher todos os dias e, em todos os sentidos exceto o sexual, ainda gostava dela tornava tudo muito mais difícil. é muito assustador pensar nisso: ela me pegava no colo, já pegou na minha mãozinha para atravessar a rua e um monte de outras coisas meio maternais (não, não estou falando da minha mãe), depois de ter despertado em mim fantasias terríveis como se fosse nada porque de fato não deveria ser nada para uma criança de cinco anos.
se querem saber: esse foi o episódio que me despertou para a perversão, para a maldade. antes dele eu era despertado para a sexualidade, só, o que era perigoso mas sem nada consumado. nesse a minha cabeça virou, eu senti tensão sexual no desprezo de uma pessoa vinte anos mais velha que eu e desde então nunca mais voltei ao normal. desde então, alimentando-me do desprezo das pessoas, sendo uma criança incapaz de lidar com esse tipo de sentimento e não um adulto que sabe que é só um sentimento, eu deixei de ter interesse em me envolver sexualmente com elas. desde então eu me fechei para a sexualidade e você pode me considerar, virtualmente e só virtualmente, um homossexual. desde então prometi a mim mesmo que resistiria a qualquer tentativa feminina de me seduzir porque a mulher é má, perigosa e me despreza.
aos cinco anos de idade.
esse tipo de bloqueio pode ter ocorrido em todas essas histórias que ocorreram até então, exceto a Sobrenome Lindo. se todas elas, em algum momento, tentaram “coisas” comigo, eu as repreendi. exceto a que comentei que mexeu com a minha sexualidade já que ela rompeu a barreira “sem querer”, eu tinha certeza de que ela não tinha feito de propósito e só pensei “que porcaria, lá vou eu ter que lidar com isso tudo de novo”, como se fosse normal, rotineiro… aos oito anos de idade.
esse bloqueio com certeza ocorreu com todas as meninas dos três capítulos anteriores, só que de uma forma diferente, evoluída. as próprias histórias explicarão tudo. nessa época eu era mais simples na rejeição, repelia fisicamente e ficava muito emburrado, deixava a menina sem entender nada e pronto. a minha cabeça já era bastante perturbada (ou, quem sabe, privilegiada) aos oito anos de idade, eu já lidava com isso de uma maneira bem complexa, sabia que tinha um mundo fantasioso incontrolável na mente e precisava mantê-lo coerente caso não quisesse surtar. era um desafio enorme para uma criança, sobretudo uma criança que estava no auge da isolação social. o bem precisava vencer o mal, o amor precisava vencer o ódio, o final precisava ser feliz, Deus precisava existir e vencer o diabo, ou meu equilíbrio mental iria embora e eu seria engolido dentro da minha própria cabeça.
começa a fazer sentido a parte que disse que, quando me tornei ateu, eu contaminei a minha mente com a morte, não começa? ser engolido pela própria mente: ser engolido pela morte.