disclaimer de 2024 sobre a história toda: fiz o meu melhor para alterar uma enorme quantidade de palavras desse capítulo sem alterar o sentido porque eu simplesmente não conhecia a palavra "assédio", e nesse capítulo tratei de várias coisas sobre sexualidade que eram muito confusas na minha mente por um monte de motivos que... sei lá, um dia escreverei a respeito, mas não cabe aqui. já passei por uma quantidade meio tosca de situações de assédio (para alguém que é reconhecido na sociedade como homem) mas, como não sabia que era isso, e como precisava de desculpas para tentar acreditar que eu poderia simplesmente não ser como eu era, eu achei que elas eram como se fossem abusos, como se fossem estupros. e não são. e seria horrível pra qualquer pessoa que passou por um estupro de verdade ler esse texto e ver essas palavras sendo usadas sem nenhum cuidado. enfim, eu fiz meu melhor, mas quando escrevi essa história eu ainda era um evangélico lutando muito pra fazer parte de uma cultura cisheteronormativa que odeia tudo o que eu represento então, sei lá, nem tudo aí tem salvação. mas tudo aí ainda foi eu em algum momento da minha vida.
eu não sei me comunicar com as pessoas. eu nunca estou de fato comunicando o que gostaria de estar comunicando. não me peça para dizer a você o que quero dizer, me peça para cantar.
é minha sentença, é meu castigo. é quem eu sou. não tenho uma personalidade, eu não suporto uma única personalidade, existem elementos demais na minha mente. tenho a capacidade de acordar pensando tudo ao contrário.
nada na minha vida foi normal.
nada.
decidi negligenciar o melhor. decidi, deliberadamente, não ser mais capaz. consegui desenvolver um horror pela notoriedade. eu estava satisfeito comigo mesmo mas ninguém mais estava. eu era incapaz de pensar nas expectativas dos outros.
eu espero que as pessoas adivinhem que estou com problemas.
eu sou o caos mental. sou a destruição. sou o mal.
isso é bastante engraçado de ler, é uma frase de vegeta do dragon ball, de uchiha sasuke do naruto. e sabe por que? porque é exatamente isso.
socialmente falando eu sou uma pessoa má. socialmente falando eu sou um vilão. una todas as variáveis acima e monte um quadro, você não encontrará um herói, você não encontrará um anti-herói, você encontrará um vilão. não aquele vilão com um objetivo, objetivo de dominar o mundo, objetivo de vingança. sou um vilão esquizofrênico, daqueles que olham para o céu e pensam “a lua está vermelha hoje, isso significa que preciso matar alguém”. sou vilão pelo simples prazer de brincar com as pessoas usando os artifícios disponíveis no palco, minha criança interior foi violada demais pelas pessoas mais velhas e perversas que se aproximaram de mim com o discurso “nossa, como você é maduro pra sua idade” e depois me deram uma rasteira, eu fui vítima de pedofilia intelectual. fizeram da minha mente superdotada uma bola e ficaram jogando ping-pong com ela.
pra ser bem honesto, sou um vilão com um herói interior secreto. jogo com as pessoas por prazer, mas conduzo a mente delas para o bem nesse jogo. elas vão se afastar de mim me odiando por se sentirem manipuladas mas aí é tarde demais, elas ficaram tanto tempo presas no meu jogo que absorveram coisas boas reais, palpáveis, de mim, e as levarão para o resto da vida, e quem sabe isso no começo torne tudo mais difícil mas a longo prazo dará um sentido para tudo o que elas fazem. mas elas vão se afastar de mim. me odiando. eu, assim como meu melhor amigo e rival elliot, tenho um desejo de ver pessoas felizes embora não tão secreto quanto o dele, mas ele é o tipo de pessoa que deixa flores na mesa de alguém sem colocar nome porque um sorriso temporal o satisfaz e eu sou o tipo de pessoa que reconstrói o coração dos outros sem que eles percebam e, se perceberem, ooops!! hora de dar no pé, ele vai se partir mas ainda assim continuará melhor do que estava antes. uma vez um amigo do Deus do meu mundo disse que um dos personagens que, na verdade, é como uma miniatura minha, é um orihara izaya do bem. ele podia não estar acertando cem por cento para aquele personagem, mas estava acertando pra mim.
orihara izaya, para quem não conhece, é o vilão de durarara. ele “gosta de pessoas”. eu não me recordo da história toda mas o que ele faz é basicamente induzir os personagens ao conflito, um com o outro, uma gangue com a outra. ele é ultra-inteligente e o seu pior inimigo é um garçom maluco que o odeia, sempre que o vê tenta matá-lo, e o irrita por não agir racionalmente. essa é a grande diferença entre eu e izaya, e é isso que faz com que eu seja um izaya “do bem”, não o próprio izaya.
o tipo de gente que mais amo é o que não faz sentido, eu provavelmente vou casar com uma maluca ansiosa pra ela fundir minha cabeça toda semana com medo de me perder, de uma maneira um pouco mais cruel que a lisbeth desmontando os sistemas do elliot todos os dias. é provável que ela me faça prometer que, uma vez por semana, vou deixar ela pisar com força no meu coração. acho que o ser humano se destaca pela sua capacidade de jogar fora toda a racionalidade, uma besta não pode escolher não ser mais uma besta mas um ser humano pode escolher não ser mais humano, eu sou uma música no final das contas. e não é que a música é irracional: é que a música está acima da racionalidade convencional, a música é a racionalidade de Deus, eu devo ter dito em algum momento que o céu é feito de música; a música é uma bomba lógica, milhares de informações aparentemente incoerentes por segundo e você precisa dar conta de tudo, você não tem domínio sobre a música. essa minha explicação não é uma explicação científica, nem mesmo a melhor explicação que alguém pode dar sobre música, nem mesmo a melhor explicação que eu posso te dar sobre música, eu nem tive esse intuito. eu tive o intuito de provocar você dizendo que a música é a melhor coisa que existe.
infelizmente, lúcifer era maestro no céu.
foi captando as relações? vilão, izaya, música, lúcifer. se você tem medo dos símbolos é melhor que pare de me ler porque pode concluir que estou dizendo que sou o anti-cristo, e isso não é nada seguro para uma pessoa de mente frágil. eu já fui acusado de ser o diabo algumas vezes. a última vez, do que me recordo, foi numa explosão de ansiedade minha com alguém de quase quarenta anos que estava querendo me manipular e, quando viu que não daria certo, juntou-se com várias pessoas para me ofender. denunciei pecados ocultos dessa pessoa e ela achou que isso era uma espécie de bruxaria satânica. vá, eu só joguei o verde, ouvinte de children of bodom tem cara de quem deixa a esposa bater nele com chicote, se eu acusei e você ao invés de desmentir ou ignorar ficou todo espantado falando que eu sabia pecados ocultos dos outros você expôs seu pecado por conta própria e ainda expôs sua esposa por causa de briga com um molequinho como eu. boa sorte costurando seu casamento que já nasceu uma fachada.
otário.
(se eu fosse mesmo o diabo, seria importante lembrar que uma pessoa bem confessada pra Deus sabe agir contra pessoas possuídas. pessoas possuídas expõem seus pecados ocultos se satanás achar conveniente para impedir o seu exorcismo, eu sei disso porque já vi endemoniados na rua e o meu coração nessa situação sempre foi “pode mandar bala meu filho, já confessei tudinho”, não “ai Deus buááááááá o diabo me mordeu”)
eu gosto de verdade de um número muito pequeno de bandas. maior parte das bandas que já ouvi eu uso pra puxar assunto mesmo, não tenho amor por elas como tenho pelo genesis ou pelo yes ou pela banda da minha igreja, mas é agradável de ouvir. é como se eu estivesse praticando evangelismo musical. aquele negócio de estudar o movimento rastafari pra achar o ponto certo pra começar a falar de Jesus pros integrantes, sabe? eu faço isso com música. o children of bodom ficou pra trás no meu exorcismo, não fico jogando galho em fogueira que já me queimou.
que parágrafos terríveis você acabou de ler, não foi? tudo muito abstrato, confesso. mas vou trazer pra terra logo logo. quero que vocês entendam que os maiores desgraçados desse planeta foram pessoas cheias de ansiedade, homens capazes de fazer o que meu pai chama de “dar a rasteira numa pessoa hoje pra ela cair daqui a dois anos”. por mais “superdotado” que eu seja por favor não acreditem que falo de um assunto desse tamanho com seriedade, sei os meus limites, é só que não precisa ser uma mente brilhante pra entender: vocês já viram o aleksandr dugin falando? ele parece ter o planeta inteiro dentro da mente dele, é um exemplo de vilão que quer dominar o mundo na vida real, é assustador. e tudo isso é possível graças à ansiedade, primeiro a dele em si, e depois a capacidade que ele adquiriu de controlar isso para afetar os outros e não ele mesmo. isso é poder. você acha que ele vai pro inferno por isso? você sabia que, se ele aceitar Jesus como seu senhor e salvador mas não der tempo dele “converter” a ansiedade dele, ele vai pro céu mesmo causando o apocalipse? da mesma forma, mesmo que eu seja tão cruel como me coloquei ali nos parágrafos acima, eu sou cristão, Jesus me ama muito, fala comigo todos os dias e diz “hoje você se saiu melhor que ontem! que orgulho de você”, e vou pro céu.
mas não, acalmem-se. não sou tão cruel como me coloquei ali nos parágrafos acima.
eu sou socialmente mau e essencialmente bom. é contraditório? só pra quem acredita mesmo que o quanto você está agradando os outros determina o quão bom você é. se você é uma dessas pessoas vá se tratar, você é pior que eu, você não dorme de noite em paz. as pessoas que são manipuladas por mim dificilmente me odeiam cem por cento, elas são incapazes porque, contra a minha vontade, entram em contato com o meu coração e meu coração tem gosto de sorvete de flocos. se a minha mente quer devorar todas as outras mentes, qualquer coração quer devorar o meu. se sou socialmente mau é porque esse é o efeito natural de fazer a burrada que fiz, em tantas camadas e tantos níveis que talvez tenha se tornado impossível de consertar: ao optar por não cumprir o meu propósito na terra, ao optar por construir o maior castelo de mentiras da minha vida (o que sou uma pessoa medíocre ou até mesmo imprestável) eu me tornei um frustrador profissional de expectativas, eu me tornei um mistério. as pessoas precisam ir muito longe para descobrirem as intenções por trás das minhas ações e palavras. ou elas precisam de uma sensibilidade auditiva: quando alguém me pergunta “está tudo bem?” a resposta sempre será “sim!”, com a cara de que está tudo bem, com uma certa euforia, mas a nota que usei para cantar esse “sim” é quem diz se está ou não.
os sucessivos episódios de fuga de contexto desde a infância me tornaram insensível ao ritmo do mundo. eu nunca me senti em sintonia com lugar algum, mesmo quando estava, eu sempre precisei me esforçar para entender o ritmo das outras pessoas. a maneira de me expressar não é a mesma das outras pessoas, sobretudo porque eu não tenho capacidade de me expressar como quero, quando vejo uma pessoa eu tenho em minha mente no mínimo uma hora de coisas pra falar pra ela e o que sai é “oi”. quando alguém me faz uma pergunta a minha mente planeja em tempo recorde as mais mirabolantes respostas, em especial porque eu já tinha previsto aquela pergunta por já ter previsto todas as perguntas possíveis vindo daquela pessoa e já tinha as respostas meio que prontas. eu sei dela coisas que nem mesmo ela sabe, ou que ninguém além dela sabe. e antes de me relacionar com as pessoas ficava pensando que era coisa da minha cabeça, e no começo ficava fingindo que estava viajando totalmente, mas depois de um tempo passei a notar que as coisas aconteciam mesmo como eu previa.
a resposta que sai, no entanto, é a mais curta possível pra que meu sofrimento mental acabe e eu vá embora.
ansiedade.
fugir do contexto vai te tornando mau. vai te tornando o estorvo do ambiente. a pessoa que vai dar trabalho, a pessoa que vai precisar de um puxão de orelha, a pessoa que alguém precisa tomar coragem e chamar num canto pra avisar que está fazendo besteira. o único lugar onde me sinto realmente à vontade é meu quarto. eu levo meu quarto para qualquer lugar onde vou e, quando tudo está insuportável, quando tem gente demais, o invoco desesperadamente e me escondo nele. é muito feio, eu me sinto horrível porque sei que estou fazendo coisas desagradáveis de se ver, ouvindo música muito alto, tocando meu instrumento imaginário em momentos inapropriados, mas não consigo parar. às vezes fecho os olhos porque se abrir vai começar a doer, se abrir vou começar a chorar. eu espero os lugares ficarem vazios e, assim que eles ficam, choro tão aflito que me sinto morrendo.
nos primeiros anos de igreja ninguém entendeu que eu precisava do meu momento de olhos fechados no meio da noite pra repousar minha ansiedade, fiquei conhecido como a pessoa que ia para os lugares dormir. testei inventar uma desculpa qualquer como “trabalho com computadores e preciso descansar os olhos” pra ver se alguém levaria a sério mas ninguém levou, imagine só se iria explicar que sentia um mundo de pessoas me engolindo e precisava me defender disso? eu olhava para o céu procurando a minha estrela, a que tinha o formato de coração, e quando a encontrava ficava mais tranquilo. note que a pequena londres sempre tem alguma estrela sobrando. essa estrela é uma aliança particular entre Deus e eu, é ele me dizendo “não se preocupe, eu estou com você aí dentro. e parabéns por ter conseguido ficar mais tempo fora do seu quarto hoje do que ficou ontem. eu te amo”. vocês podem me achar um doente, ou sentirem peninha, ou acharem que isso se resolve com psicólogo (disclaimer de 2024: resolver não resolve mas ajuda muito): eu conheço freud, conheço jung, conheço skinner e conheço lacan e quero que eles todos explodam bem longe dos meus problemas mentais, de intelectualismo minha mente está cheia e transbordando; eu preciso de amor, preciso que alguém entre no meu mundo e viva comigo o que estou vivendo que é diferente de tudo ao meu redor, preciso não que compreendam minhas palavras mas que compreendam o que sinto enquanto as escrevo. compreender minhas palavras só vai complicar a sua vida. compreender a bíblia não é o que agrada o coração de Deus: a função do diabo é compreender a bíblia, em especial as leis no pentateuco, justamente para poder passar o rodo em cada ser humano que fugir das sentenças dela; o que agrada o coração de Deus é, ao ler a bíblia, o livro que ele inspirou pessoas a escrever, conseguir sentir um pouquinho do amor que ele sentiu por nós enquanto escreveu a história de adão e eva, de jó, de noé, de abraão, de jacó, de moisés, de josué, de davi, de salomão, de ezequiel, de isaías, de daniel, de joão batista, de Jesus, dos apóstolos e por fim a minha e a sua; se você sentiu o amor de Deus lendo uma dessas histórias já pode até descansar em paz, acabou, você é melhor que qualquer teólogo que passeou por esse livro a vida toda e nunca o sentiu.
eu não preciso de pena porque, caso não tenham compreendido, isso é sobre ansiedade: todas essas vinte mil palavras não existem concretamente e, se você entrar em contato com a minha vida e ver que maior parte do tempo está sendo uma delícia, vai dizer “vai se ferrar, você é que tinha que ter pena de mim”. mas, em primeiro lugar, espero que o capítulo anterior tenha explicado bem como isso é sério. em segundo, e mais importante, Deus sabe do que preciso. ele não tem vergonha de colocar uma estrela no céu e falar comigo através dela todos os dias, ele não sente pena do tipo “tadinho do meu filhinho, é retardado, precisa de cuidados especiais”, ele sente o amor de um pai pelo filho que é tão grande, mas tão grande, que desenvolve uma linguagem só para os dois para que a intimidade seja completa. ou você acha normal mesmo pai e mãe repetindo o “gugu dadá” do filho, ou você acha normal ver aqueles casais de namorados imitando bichinho um pro outro na maior alegria? todo mundo faz isso, Deus fez comigo e é por isso que ele é meu melhor amigo, meu noivo ou qualquer outra figura que você tiver a paciência de encontrar. seguindo o modelo que trouxe no capítulo passado, ele é quem faz a minha cabeça e a sensibilidade dele só está lá para cuidar do meu coração. Deus já usou sarça ardente, já usou pomba, já usou o escambau pra conversar com a intimidade de seus filhos amados. e Deus usa as estrelas do céu para conversar com a minha intimidade quando me sinto só em meio a uma multidão, o que é mais difícil de suportar do que se sentir só porque está, de fato, só.
só quem já esteve como eu sabe a sensação da solidão absoluta e irresolvível. é, sabe aquele clichê do “estamos próximos mas distantes”? isso é muito palpável pra mim às vezes, às vezes me desconecto totalmente da realidade ao ponto de sentir que só eu existo no mundo, mesmo que todos os meus amigos estejam ao meu lado. às vezes minha mente, cansada, decide recalibrar os símbolos todos e eu troco de personalidade, eu me controlo o máximo que posso mas quando estou mesmo muito mal acabo passando da alegria para a depressão em um salto de dois segundos. ninguém entende, alguém me pergunta se aconteceu alguma coisa e a verdade é que eu também não sei.
as pessoas são muito injustas quando me perguntam algo, o caminho da pergunta até a resposta é surpreendentemente longo. na minha casa é aceitável trocarmos respostas falsas e, quando o conjunto de respostas falsas completa uma melodia preocupante, sentamos e conversamos por horas com direito a “espera! estou construindo na minha cabeça o que quero, de fato, te dizer”. eu às vezes tenho a sensação de que ninguém em casa precisava disso até eu nascer, um segredo é que acredito que meu pai não tem interesse em quase nada do vasto conhecimento que ele adquiriu, ele só adquiriu para que eu tivesse alguém com quem falar e parasse de me afogar nas minhas poderosas fantasias sozinho. isso deve ser mentira da minha cabeça, mas ele não parecia tão inteligente até eu me tornar depressivo, ele parecia resolver tudo meio na força até então.
não acho que seja tão extremo mas vi muitas coisas em casa mudando com a minha depressão. não percebi na hora porque estava completamente sedado nesse período, mas meus pais se tornaram pessoas muito sensíveis convivendo comigo naquela forma. a fé deles se fortaleceu muito, tornou-se uma prática comum nos reunirmos às vezes no quintal para nos perguntarmos como estava a vida de cada um e conversarmos por horas a respeito. nós nos tornamos uma verdadeira casa de conversas. o depressivo traz uma mudança muito grande para seu ambiente, linguagens de amor que funcionavam outrora não funciona mais, eu tenho uma resistência enorme ao amor.
não importa o que você faça, se eu perceber que você deseja aprofundar seu relacionamento comigo eu vou me proteger de você a princípio. o amor inseguro me fere porque desperta um monstro dentro de mim, montado com fragmentos dos meus abusos psicológicos, e esse monstro está pronto para desconstruir todos os atos amorosos que partem de você. eu recebo amor já criando expectativas de quando vai ser o momento que a pessoa vai me destruir, quando ela vai me dar a rasteira e dizer o que realmente quer, quando vai dizer “só estava brincando pra passar o tempo”, quando vai parar de me devorar para curar suas feridas emocionais e me jogar fora. ou seja: eu não recebo, de fato, amor. ansiedade. algumas pessoas tentaram jogar o jogo que crio em torno disso para me salvar, ou porque tinham sentimentos de fato mas não sabiam que não deveriam encarar esse jogo de frente, e se frustraram muito ao ponto de terem que sair da minha vida para se curarem do que aconteceu. é importante perceber isso, que não se encara esse jogo de frente: não, “o amor” não vence qualquer jogo, você não é habilidoso o suficiente, você não é experiente o suficiente; primeiro que o jogo não é um caminho até o amor, ele é a própria grade que se coloca para evitar o amor, o amor é quando você quebra o jogo de fora pra dentro.
segundo que as pessoas possuem um julgamento errado sobre “a inexperiência”, nunca conheci essa pessoa que ficou protegida de relacionamentos até a minha idade porque o planeta não girou pra ela, alguém que nunca teve um relacionamento profundo com vinte e poucos anos está trazendo um enorme arsenal de defesa contra os outros e é provável que esse arsenal seja o motivo verdadeiro por trás dela não ter tido esse relacionamento profundo. eu vejo meninas que “viram a cabeça” de virgens se aproximando de mim, acreditando que sou presa fácil prendendo-se no fator virgindade, mas elas não percebem que não sou um virgem de dezoito anos provavelmente incentivado pelo pai a perder a virgindade num puteiro, sou um virgem de vinte-e-três com a cabeça já perturbada sem um toque físico sequer. quem vai adquirir uma carga de desejos inexplicáveis e terminar gemendo sem saciar nenhum deles são elas. recentemente uma veio com uma conversa meio, sei lá, wicca, “você precisa perder a virgindade. você precisa se tornar um com o mundo”. eu me fiz de desentendido e olhei bem forte dentro dos olhos dela, entrei em contato com sua embriaguez e o resultado foi ela precisando ir no banheiro vomitar. desculpa, a bruxa dentro de mim é melhor que muita bruxa lá fora, e outra que estava tão claro que o próximo passo era ser beijado que as pessoas riram de mim falando “quase que ela te devora, hein” e eu “nossa, é, quase que meu bv vai embora”.
calma, eu explico. não se assustem. aliás, não se assustem muito, sei que isso é assustador. sei que explicar isso é assustador. sei que saber descrever esse fenômeno é assustador, que deveria estar fazendo isso com trinta anos, aliás, que nem deveria estar fazendo isso. eu sei que esse texto está causando muito medo em você, sei que estou desmontando sua percepção de mundo e quero que você, se está perturbado demais para continuar, não continue.
o que há de mais assustador em mim não é o que faço, o que faço é o que absolutamente todos os jovens da minha idade estão fazendo. eu não escapo da minha idade e nem tento escapar. a diferença minha é a maneira de explicar as coisas, o que jovens levam na brincadeira e explicam com o sertanejo universitário eu desmonto e remonto em várias linguagens diferentes vindo de universos diferentes e essas percepções mostram que tudo o que você faz possui uma profundidade enorme que mesmo você não percebeu. essas percepções também te dão instrumentos novos para dominar as situações, mas muitos desses instrumentos você não quer ter porque o domínio custa caro. o jovem só finge que quer controle mas, se ele realmente quisesse, ele não precisaria de orientação para não trocar de faculdade e de namorada de dois em dois meses. uma pessoa que quer controle pensa fora da faixa do tempo, ou aproximadamente fora da faixa do tempo, ela faz algo pensando em como aquilo afetará suas próximas gerações, ela faz algo pensando em como aquilo será escrito na história dos homens ou na história de Deus dependendo da sua necessidade. uma pessoa que troca de faculdade em dois em dois meses, ou seja, o jovem num geral, não quer controle, quer possuir. isso se estamos falando de uma pessoa que não dorme direito se não estiver trabalhando porque, se ela sente paz (e não estou falando de conversar com Deus e ser tranquilizado por ele, estou falando de não sentir a responsabilidade nas costas), ela é uma pessoa que não quer absolutamente nada na vida, está vagando pelo mundo pedindo para ser controlada e possuída por outras pessoas.
um homem assim não pode ter namorada, só mamãe. sorte que existem mulheres-mamãe aos montes pelo mundo para ele se encantar por uma, descobrir como é insuportável viver com uma e mudar sua maneira de ver as coisas à força. aos vinte é impossível isso acontecer mas, ao bater os trinta anos, ele vai se encontrar nessa situação onde é melhor se agarrar em uma que ficar sem nada. só aos vinte você pode enganar uma mulher-mamãe que está se agradando do fato dela cuidar da sua vida só pra se aproveitar do sexo possessivo dela e, ao chegar a hora de casar, fugir da raia e ainda fingir que você foi o ferido e não ela. aos trinta ela não acredita mais em você, aos trinta ela vai usar sua conversa fiada de príncipe encantado só para se divertir, não vai cair na sua chantagem emocional barata ao justificar seu desemprego e honestamente é o que você merece. eu conheço essa música. meu nome é heart-shaped star e eu conheço todas as músicas românticas do mundo.
eu pareço muito controlador e possessivo mas é mentira, minha mente é, eu não ligo pra quase nada do que a minha mente liga. pessoas como eu são consideradas ciumentas acima do normal e até paranóicas mas isso é mentira, só sou muito bom de reconhecer a perversão dos outros homens porque sou uma biblioteca barsa da perversão sexual, de vez em quando eu mesmo testo a ansiedade deles para ver se estou certo e sempre descubro que estou. não, eu não ligo tanto para o que não representa perigo. realmente só quero dar uns beijos.
só que temos aí esse problema: um beijo meu é muito custoso, ninguém consegue passar por cima do meu arsenal de ansiedades. é um mundo muito complexo e profundo que ninguém consegue entrar, meus anseios são fantasias completas as quais eu domino completamente. você não tem que agir de tal maneira, ou dizer determinadas palavras, ou gestos. você precisa encarnar um personagem por mim. mas é mentira, isso não é realmente necessário, é que esse universo complexo é uma tentação irresistível para alguém que o vê porque ele é muito mais divertido que a realidade. sendo assim a pessoa que se lança no mar dos meus anseios para tentar me agradar se torna uma marionete nas minhas mãos, e a princípio eu achava que isso era um fenômeno verbal, achava que isso se restringia a conversas pela internet porque estava no domínio das palavras e eu confecciono verdadeiros universos com palavras. isso já era assustador o suficiente. infelizmente depois acabei descobrindo que controlo corpos sem trocar uma palavra sequer também; mesmo pessoas que me odeiam podem, através desse ódio que cumpre o papel de me tornar especial no raio-de-visão dessa pessoa, se pegar fazendo com o corpo coisas que eu quero que elas façam. descubro pessoas ressentidas comigo fazendo elas sentirem tensão, criando um ritmo e enquadrando a ansiedade delas nele; o perdão, contra mim, não é algo pra te aliviar, é um escudo de proteção ao que posso e provavelmente vou fazer com você. como disse no capítulo anterior, o mundo é um verdadeiro playground pra mim. na depressão essas mulheres experientes que brincaram com a minha ansiedade e fizeram da minha vida um inferno, instigaram a minha imaginação às coisas mais absurdas que já concebi, sem querer me encheram de armas para eu me tornar um manipulador de ansiedades.
só que tudo isso eu fiz sem querer.
tudo isso.
tudo, tudo, tudo isso. todas as pessoas que se tornaram personagens para me agradar, despertaram sentimentos e desejos ocultos por conta disso, foram vítimas de algo que eu também não tive culpa. quer dizer, tive, mas não enquanto estava fazendo.
essa foi a pior consequência de todas ao esconder de mim mesmo minhas habilidades especiais. pior do que ofender os outros sem querer, pior do que os abusos, pior do que não fazer coisas que deveria ter feito. só percebi isso agora, depois de tantos anos, porque essa é a ferida mais profunda de uma auto-estima devastada pela auto-destruição. eu impedi as pessoas de me agradarem, eu fui amável com as pessoas até o momento em que elas quiseram me retribuir. é nesse momento, o da retribuição, o de receber um abraço, que transformo meu corpo em um amontoado de espinhos, perfuro a outra pessoa e deixo ela no chão sangrando. ninguém sabe o que fazer pra me agradar, ninguém sabe me presentear. ninguém sabe chegar até o meu coração. ninguém sabe o que eu realmente gosto. as pessoas me recomendam livros, jogos e músicas sabendo que vou conhecê-los no meu tempo, que não vou ficar feliz porque elas se dispuseram a abrir seus próprios gostos para mim.
as meninas preferem chamar minha atenção fazendo besteiras para eu ficar irritado com elas, ou outras coisas que despertem meus sentimentos ruins como ciúmes, preocupação ou desprezo, porque elas percebem que o caminho bondoso de brincar comigo, mandar cantadinhas, arrumar-se pensando em mim, tocar em mim ou me presentear com algum dom cria barreiras ao invés de nos aproximar. recentemente uma amiga minha dedicou toda sua voz em trinta minutos de performance pra mim e eu, que percebi esse monstro aqui dentro e estou começando a tentar lutar contra ele, fiquei a performance toda lutando para não corresponder acreditando que era algum tipo de pegadinha que tinha o intuito de rir da minha cara, “tá vendo, não consegue resistir”, até que bem no finalzinho eu não consegui mesmo resistir porque nossa música estava em total sintonia e portanto nossos corações estavam em total sintonia. eu sou uma música, só a música me arrebenta. depois de tudo isso ela veio me contar algo relacionado a isso, toda tímida, apertada de tímida, falando tudo errado e travado de tímida. ela é a menina mais extrovertida da igreja inteira, eu nunca vi ela sendo tímida, não é natural dela ser tímida então devia estar sendo o momento mais desconfortável da vida dela. eu fiquei sem jeito de responder.
você precisa entender que não é bem idiotice da minha parte acreditar que as coisas são um teste de resistência.
parágrafos sobre sexualidade abaixo. sexualidade não é um assunto simples se você quiser ser verdadeiro, se quiser fazer mais do que “Deus nos fez homem e mulher”, mais do que “ideologia de gênero” e mais do que o tumblr. ah, e vai ter conteúdo sujo e eu não vou nem me esforçar para segurar isso.
ainda tenho bastante nítida a imagem da moça me falando “é feio o que estou fazendo mas você vai se masturbar mesmo assim”, com aquele sorriso sádico de uma belíssima moça de trinta. e eu me masturbei. não vou falar o quão feio era. eu me senti uma marionete, tendo prazer sexual por algo que uma mulher me convenceu a ter só pra demonstrar que tinha completo poder sobre o meu corpo. eu não estava preparado pra nada disso, não tinha maturidade emocional nenhuma pra descobrir que poderia não ter autonomia sobre meu próprio corpo, foi simplesmente humilhante; pior ainda, foi mais um daqueles episódios onde a maturidade mental destruiu toda a oportunidade de me desesperar pelo que tinha sido feito comigo, passei por tudo isso como se fosse natural, não contei pra ninguém e fui me tornando mais e mais depressivo também sem perceber a relação entre os eventos.
se me perguntarem o ponto exato onde voltei pra igreja a resposta é que foi num evento de família onde no último dia a pastora, que também é psicóloga, psiquiatra e o escambau além de muito gatinha, dedicou-se a falar de abuso sexual. é muito estranho estar dizendo isso, mas eu chorei muito no fim desse evento. muito, muito, muito. desaguei de chorar sem entender por que estava fazendo isso, minha mãe ficou preocupada e me perguntou depois se eu escondia algo deles e disse que não, porque na minha cabeça era verdade, na minha cabeça eu não tinha sofrido nada.
por anos fiz zero questão de ter práticas sexuais, não tinha interesse nenhum nisso depois dessas situações, isso só está mudando agora por conta das centenas de cirurgias que estou sofrendo na minha alma. mas a minha super-resistência nunca vai mudar, sempre vou rejeitar com desprezo sádico se você me oferecer seu par de coxas sem conquistar a minha confiança. não faça isso só pra me testar, já fiz essa rejeição, e a idéia é parar de dizer “que nojento” e rir de você salivando porque não é nojento, seu desejo é natural e lindo e alguém um dia vai satisfazê-lo dando a segurança que você merece.
é que sou uma pessoa má. caso não tenha ficado claro nas minhas explicações fofinhas musicais minhas reações não são minha maneira de comunicar com o mundo, meu falar não é e meus gestos não são, minhas reações são meus sentidos tentando me proteger do mundo. nada do que falo é natural quando você é um estranho, ou quando está entrando em um assunto delicado para mim (e meu leque de assuntos delicados é enorme), é só minha maneira de dizer “cale a boca, você está me deixando ansioso”.
entrei na igreja com minha sexualidade completamente destruída e iniciei um processo de correção, eu e Deus sozinhos. primeiro mapeei meus problemas visíveis, do âmbito da ação, e falei “são esses, Deus. isso aqui eu preciso parar de fazer. e são essas as pessoas que preciso cortar conversa, não deixar mais sentar tão perto de mim”. então comecei. fui muito bem me controlando por meses, até que um dia saiu de controle e, quando saiu, não voltou mais. não voltou mais mas eu tinha fechado todas as portas que, para abrir novamente, teria de rejeitar Deus, teria de tirá-lo do meu quarto novamente e isso foi muito importante porque demonstrou que não estava fazendo mais aquilo por querer, então fui aprendendo a trabalhar o sentimento de culpa no meu coração. a minha mente sempre soube com detalhes que a culpa é o sentimento mais inútil que existe mas meu coração não, meu coração era o bicho mais aflito que existia com a culpa, então meu eu de quarenta anos passou um tempo enorme tentando comunicar que essa culpa era desnecessária e só estava me atrapalhando a chegar no meu objetivo de voltar a ser uma pessoa normal, se é que um dia eu fui.
só que minha mente era totalmente racional, em um sentido meio diferente do racional-científico do capítulo passado, ela era totalmente racional-doutrinária. o meu personagem do momento era “um membro normal da igreja”. a maneira que ela confrontava meu coração não era violenta mas era ineficaz, porque eu estava omitindo qualquer fantasia que não fosse a do mundo espiritual pentecostal. a fantasia do mundo espiritual pentecostal é totalmente falsa como fantasia, mas não me entendam errado, não estou dizendo que a igreja pentecostal é falsa, eu sou pentecostal e nunca vou deixar de ser, estou dizendo que precisamos pensar fora da caixa. o mundo espiritual pentecostal é melhor que uma fantasia, ele está além da fantasia. ele é, dentre várias coisas, o próprio conjunto de fantasias humanas, se você deixá-lo se tornar só mais uma fantasia as portas para perceber a realidade se fecharam e só vão se abrir se você arrebentá-las com uma marreta.
(odeio falar de “perceber a realidade”, me sinto o adulto de quarenta anos que não sou, mas não tem outra maneira de explicar o que quero que não seja essa. desculpa. acabo de recair tentando dizer que não sou inteligente)
em certo momento da minha vida me percebi tendo que arrebentar essa porta com uma marreta. esse momento foi o do desemprego, mas não pelo desemprego e sim porque, reconstruindo minha identidade masculina, me declarei para uma menina por ansiedade e percebi em tempo recorde que tudo o que sentia era mentira. que sentia aquilo na verdade por outra menina. foi até engraçado, ela foi me explicando “só te vejo como amigo” e eu pensando “caramba, também só te vejo como amiga, o que foi que eu fiz?”; depois, pra piorar, descobri que era joguinho, que ela gostava mesmo de mim e hoje se arrepende muito de ter feito isso (bem, ela é muito gata, se jogar pesado quem sabe eu não mude de idéia). por ansiedade, contei isso a quem não deveria ter contado e provoquei uma onda de eventos desagradáveis. esse episódio fica pra mais tarde, agora quero fechar o assunto da sexualidade.
parece delírio, mas curei a minha sexualidade voltando a ser doido. porque eu sou doido, a verdade é essa, queira eu aceitar ou não. nesses anos de igreja quis parecer uma pessoa normal, de uma personalidade só, de uma linha de pensamento só, e isso maior parte do tempo fez muito mal pra mim. me privou da criatividade para resolver problemas, me privou de conversar com pessoas de todos os tipos para focar apenas em um, me fez levar a sério doutrinas e ideologias que não passavam de doutrinas e ideologias. e nem venha encher meu saco, conservadorismo é ideologia e das mais vagabundas. na verdade foi um período muito importante porque, privando-me da loucura explícita, investi todas as minhas forças para manifestá-la musicalmente. até então minha melhor música tinha sido a melhor versão da antiga sétima estrela, de repente nasceu a música do peixinho ansioso, e de repente consegui expressar incrivelmente bem o inferno na minha mente, e de repente eu gerei um filho heartbreaker, o filho dos céus estrelados. oh yeah.
mas minha loucura explícita voltou e a primeira coisa que se resolveu com ela foi minha sexualidade. é sério. minha mente, com muito amor, passou anos estudando psicologia e psiquiatria na área da sexualidade porque viu que não conseguiria resolver os problemas da minha imaturidade emocional com argumentos e com artigos de jovens evangélicos, ela precisaria agir, ela precisaria preparar um terreno, ela deveria conduzir meu coração como um marido conduz sua esposa. então, quando tudo isso aconteceu, ela recriou meu mundo de fantasias com todas as correções necessárias e passou a integrar o meu coração ali. agora as minhas fantasias não tinham mais uma mulher abusiva, manipuladora, psicótica, que iria me dar carinho e depois um tapa na cara e rir dizendo “você sempre cai”. elas tinham uma mulher amável, talvez um pouco louca mas depois eu descobri que isso é porque todas as mulheres são loucas, uma vez cheguei na minha mãe e disse “mãe, acho que tenho medo de mulher” e ela só me respondeu “tem que ter, mesmo”. cheia de desejos para eu não me iludir que nem essa molecada que se surpreende quando a namoradinha chega no ouvido e diz “nossa, não sei, mas estou com vontade de sentar na sua cara”. muita menina teve essa impressão estranha de que gosto de julgar desejo dos outros por reclamar disso, mas meu ponto ao reclamar disso não é extinguir o desejo do mundo, é lembrar que só a sua pessoa especial precisa saber, eu não.
achei muito engraçado quando vi um pastor comentando que o sexo antes do casamento assusta os meninos, abala a amizade. fiquei me perguntando o motivo e depois que restaurei minha sexualidade e me peguei recusando carinhosamente desejos assustadores de amigas minhas (não, a amizade não deveria ter chegado até aí, mas isso é outro problema meu (NAANDTCAAMIEOPM)), inclusive as próprias algemas que no passado foram tão danosas, eu entendi tudo. entendi inclusive qual era meu contexto sexual. eu sou a pessoa que sabe fazer de tudo, sou capaz de lidar mentalmente com qualquer menina, entretanto meu coração não é maduro para lidar emocionalmente com qualquer menina, tem muitas que eu me vejo conseguindo lidar mas com um sofrimento desnecessário que destruirá meus sentimentos para o resto da vida. tudo seria fácil até demais para mim se eu desejasse apenas fazer sexo e não casar, mas gosto do casamento, quero que seja o melhor possível e pra isso preciso aproveitar ao máximo esse privilégio de nunca ter sido um canalha. é incrível que esteja escrevendo esses parágrafos todos, mas eu nunca nem beijei.
uma amiga minha uma vez foi flertar comigo meio pesado (NAANDTCAAMIEOPM) falando que eu era uma pessoa horrível, que gostava de colecionar desejos de mulheres e agora, oh não!, ela era mais uma das marionetes da minha coleção, será que eu poderia ter misericórdia e manipulá-la para terminarmos na cama? obviamente eu não fiz isso mas percebi uns resquícios de verdade nesse flerte: as meninas sabem que eu conheço os desejos delas e não estou fazendo nada a respeito. elas estão tentando tirar minha cabeça das nuvens e a impressão que fica é a de que estou resistindo para parecer difícil, ou para ser santinho. mas é só ansiedade mesmo. tenho a chave-mestra mas ela dá choque quando eu pego. um sexo pré-marital não vai me surpreender independente do que venha porque para começar a namorar alguém eu já descobri tudo o que essa pessoa quer mas, por esse mesmo motivo, eu nunca comecei um namoro.
geralmente quando estou falando algo de castidade as pessoas me perguntam “e se você casar e a pessoa não for compatível contigo sexualmente?”, eu não entendo essa pergunta, não entendo como um homem consegue namorar uma mulher por mais de um ano e não perceber que ela quer sentar, que ela quer pisar, quer morder, quer cravar unhas ou coisas do tipo. e estou sendo generoso desenhando essa linha do namoro porque eu bem honestamente percebo quando uma menina quer pisar em mim ainda na amizade. não faz sentido não conseguir identificar os desejos de uma mulher vendo e conversando com ela direto por mais de um ano, eu sei que esse tipo de homem existe aos montes, mas se você conseguir me mostrar um desses e me provar que ele não é viciado em pornografia eu te pago um sorvete de mais de cinco reais. o problema da pornografia é esse e só esse, o homem fica sexualmente burro assistindo pornografia, ele restringe suas fantasias àquilo que ele assiste e não tem quem abra seu mundo novamente porque a masturbação é um processo de solda dessa fantasia no cérebro. eu sei disso porque já estive nesse mundo e hoje estou fora dele e, não só isso, como estudei todo aquele material de sexualidade e eles diziam “se você fizer isso sua mente vai recriar os cenários assim. se você fizer aquilo sua mente vai recriar os cenários assado” e, quando tive forças para executar, percebi que aconteceu exatamente da maneira que esse material descrevia.
eu simplesmente sei que um homem que assiste pornografia prejudica seu relacionamento e a esposa precisa ficar suportando sozinha até surtar e dizer “chega. não dá mais. essas merdas que você faz acabam comigo sim”, a não ser que estejamos falando de um homem assumidamente viciado, porque aí o perdão contínuo e apoio da esposa se tornam uma fortaleza de amor que aprofunda o relacionamento e é até uma chave para sondar o coração, encontrar a raiz do problema e matá-lo. o amor cura. o amor, definitivamente, cura. essa é a frase-padrão de todos os personagens do mundo onde habito. não tenham medo de contar seus problemas morais para suas esposas, só tenham cuidado e delicadeza, mulher é puro sentimento e se você colocar isso como uma aventura emocional e não como trilhões de justificativas racionais que só importam pros homens ela vai embarcar contigo. e não acreditem que estou falando algo que dominei e sei muito na prática porque tudo aqui é observado, pouquíssimo testado pessoalmente, eu assumo isso e sempre assumi. não sou um ser humano, sou só uma estrela que tudo observa e tem milhares de histórias de amor dos outros pra contar. só sei o que é o melhor, o caminho até ele e se é possível no seu contexto é com o ouvinte.
voltando láááááááá em cima porque me perdi completamente, voltei pra igreja nesse contexto. chorei num culto sobre abuso sexual como se tivesse perdido os freios dos meus olhos, sem entender o motivo, e nessa aventura de restauração da sexualidade sem devorar sexualmente nenhuma mulher pra isso (o que é o caminho mais fácil, de longe) eu fui descobrindo que fazia muito sentido. fui descobrindo que pouco importava ninguém ter me estuprado na infância: as mulheres que fizeram coisas estranhas com o corpo porque eu estava observando na infância não deveriam ter feito isso comigo, os homens adultos que me ensinaram coisas tão erradas na adolescência não deveriam ter feito isso comigo, as mulheres que já cansei de descrever o que faziam comigo na depressão não deveriam ter feito isso comigo.
outra coisa importante é que o que as mulheres faziam muitas vezes vinha como ambiguidade, eu não tinha como saber se estava mesmo acontecendo ou ficando louco. acontecia tudo exatamente como estava na minha cabeça mas, para mim, isso era só mais uma prova de que eu era um depravado. depois comecei a perceber que as meninas mais novas, quando tentavam fazer o mesmo, faziam tudo sem jeito, era um verdadeiro desastre. era até divertido de ver. tive que começar a cair em flertes corporais de propósito porque se fosse esperar um de “alta qualidade” eu jamais me interessaria por ninguém. mas o ponto não é falar disso, o ponto é dizer que eu finalmente percebi que essas mulheres sabiam o que estavam fazendo, eu não era o único problema ali.
sim, é verdade, alguns deles podem não ter feito por mal. eu sempre tive mesmo essa curiosidade compulsiva, e algumas mulheres adultas podem ter aberto seus desejos pra mim porque acreditaram mesmo que o fato de eu conhecer e notar aquilo significava eu gostar daquilo, ver amor naquilo, elas podem mesmo ter acreditado que estavam fazendo feliz um garotinho excêntrico. a cabeça das pessoas é estranha. isso não é um espetáculo de culpados e inocentes, o mundo só é esse espetáculo para satanás. é só que sempre cobrei minha curiosidade compulsiva, sempre me senti culpado pela minha vida ser do jeito que é. nunca pensei no fato de que eles eram bem mais velhos e, independente da aparente discrepância entre minha idade mental e minha idade emocional, eles deveriam ter noção de que certas coisas não se dizem ou se fazem para quem é no mínimo dez anos mais novo que você mesmo que essa pessoa insista. nunca pensei que eles deveriam. e infelizmente, por não ter pensado nisso até então e me libertado dessa culpa, prejudiquei muitas pessoas fazendo a exata mesma coisa, expressando conteúdo muito adulto como se fosse a coisa mais natural do mundo para pessoas incapazes de se defender das minhas idéias: é por isso que hoje em dia peço cuidado para as pessoas que desejam adentrar meu mundo, eu virei a cabeça de muita gente sem perceber, inclusive gente da minha idade, e achei injusto me cobrarem por isso. bem, agora é tarde. peço perdão e peço a Deus que cuide de vocês.
fim dos parágrafos sobre sexualidade
a última vez que tive uma explosão de ansiedade, muito recentemente, deixei a pessoa pensando em todos os motivos do mundo para justificar isso mas ela dificilmente vai notar que o motivo verdadeiro é “você deveria ter mais responsabilidade comigo”. fui ensinado a me relacionar errado por um motivo mesquinho, quase tomei decisões que acabariam com a minha vida por conta disso, sem contar o número de pessoas que prejudiquei. o meu adulto de quarenta anos, quando briga com alguém, não tem a intenção de destilar ódio gratuito contra essa pessoa, ele tem a intenção de dizer “meta-se com alguém da sua idade. nunca mais mexa com a minha criança interior”. é como se eu tivesse um pai dentro de mim. eu queria me manter sério mas constantemente me lembro da figura do yami yugi no yu-gi-oh!, que uma vez outro amigo disse que parecia comigo, e faz sentido; todo mundo assistiu yu-gi-oh!, né? o desenho do jogo de cartas com monstros, o personagem principal (yugi) era um molequinho, tinha dentro dele um faraó milenar que era muito bom no jogo, tinha uns poderes, era meio cruel e sempre se apossava dele em momentos de dificuldade.
gosto de fazer coisas tendo convicção de que estou fazendo porque quero, não porque alguma força externa está me levando a fazer já que, espero que tenha ficado bem claro, as forças externas que são capazes de me influenciar são muito rasteiras. tenho medo de ser manipulado quando algo é provocado no meu corpo, nos meus sentimentos, já falei alguns parágrafos acima como recebo amor. eu morro de medo dessa sensação de fazer coisas com os sentidos possuídos pela outra pessoa, vendo meu corpo agir contra minha vontade e a responsável na minha frente rindo de mim. é idêntico a ser possuído por um demônio. ouçam a voz da experiência em possessão.
antes mesmo de entrar em contato com isso diretamente Deus me proveu material para entender o que acontece dentro de mim. há algum tempo chegou uma linda cadelinha na minha casa, a cadelinha mais carente, carinhosa e amorosa que já vi na minha vida. não sei a raça, mas ela é peludinha e de porte médio. ela é o verdadeiro cão clichê de filme americano, senta na frente da porta quando você está chegando, fica pulando em você durante o trajeto entre a sala e o quarto todinho. quando estou jogando ou compondo ela às vezes aparece no meu quarto, fica de pé, se agarra no meu braço e fica puxando para tirá-lo do teclado; hoje em dia ela se conforma que às vezes estou muito concentrado pra parar tudo e fazer carinho nela, mas no começo ela não se conformava, eu precisava mesmo parar e ter um momento com ela ou perderia meu braço.
ela também foi espancada pelo antigo dono e era uma cadela muito difícil de lidar. é às vezes, ainda. passou-se bastante tempo desde que ela chegou e ela melhorou muito, eu não fico muito tempo em casa mas presto muita atenção nela (oh, wallflower) e tenho em mente que sou o morador favorito dela na casa, mesmo que o menos importante. duas pessoas mesclam muito entre fazer carinho e brincar e cuidam dela, uma tem medo dela porque tem medo de cachorro, uma não tem muito saco pra fazer carinho mas se diverte muito e está sempre dando comida pra ela. eu sou a fonte de carinho exclusivo, ela nunca vem brincar comigo, só pedir carinho. ela tem preferência pelo meu carinho. os outros fazem carinho nela como algo comum e eu não, eu faço carinho quando ela está de pé, faço carinho nela quando está sentada no chão, quando está deitada, boto no meu colo e faço; sentado no chão, deitado no sofá, deitado na cama, no quintal. ela também vem pro meu quarto quando quer paz porque, desconsiderando o som do computador roncando, meu quarto é o lugar mais pacífico da casa. ele tem música de vez em quando também, sou uma pessoa tímida com meus talentos e só consigo tocar para Deus ou para compor, na minha cabeça eu nem sei tocar porque não tenho paciência pra aprender músicas que não saem de dentro de mim. às vezes ela deita atrás da minha cadeira e fica lá, deitada, sem fazer nada, se eu esboçar alguma ação como levantar da cadeira ela vem pedir carinho ou me acompanha saindo do quarto.
entrei em contato com um lado muito estranho dela que era a incapacidade de receber carinho por longos períodos. um carinho mexia tanto com as suas emoções que ela ia logo fechando os olhos e dormindo mas, assim que o sono batia nela de fato, ela acordava assustada, desesperada, me mordia e saía correndo do lugar onde estava. a sugestão era que eu desse uma bronca nela quando ela fizesse isso porque ela não deveria morder, mas eu nunca enxerguei dessa forma, ela já tomou umas broncas feias vindo dos outros mas nunca tive a coragem de fazer o mesmo. primeiro eu me conformava com o susto porque no passado era uma pessoa traumatizada com cães, depois ficava com vontade de chorar pensando em como deveria ser a vida dela antes de chegar em casa. só aqui ela aprendeu o que é carinho de verdade, ter comida sempre que necessário, água sempre que necessário, o que é não ter medo de apanhar cada vez que alguém aparecesse, não ter medo de se expressar.
ela também levava um tempo para voltar pra mim quando fazia isso. não sei se era medo de apanhar ou culpa, mas sinto que era culpa, que ela tinha vergonha de ter machucado minha mão enquanto eu fazia algo que era tão bom pra ela.
no começo eu achava estranho que ela não tivesse medo de fogos de artifício, depois de uns seis meses ela começou a demonstrar que tinha sim, mas ela escondia provavelmente porque tinha medo de apanhar. não acho que cães pensem como seres humanos mas sei que animais têm alma e sua alma estava adulterada com a informação “cão que faz barulho apanha”, mesmo depois desses seis meses ela não saía pulando por aí latindo, ela ia para um cantinho e ficava latindo baixinho, ofegante. hoje em dia ela ainda é assim, ela só toma liberdade de correr e latir quando está no quintal com a porta fechada. eu e meu pai percebemos também que ela fica ansiosa no meio de muita gente. ela, a cadela mais brincalhona do mundo, no meio de muita gente vai pra um cantinho como se estivesse ouvindo fogos de artifício. no final do ano eu vi ela nesse estado e não pude resistir ficar horas sentado ao lado dela, fazendo carinho nela e conversando com ela.
você lembrou de alguém aí?
é.
Deus me deu uma cadela que representava o estado da minha própria alma. me deu um cãozinho muito ferido para dizer que eu estava muito ferido. e pior: a ansiedade dela não era um sintoma, era uma consequência de ter nascido e crescido apanhando; assim como a minha ansiedade não é sintoma de absolutamente nada mas consequência de todas essas coisas que vim falando ao longo dessa estrela cadente. notei que não sei o que é viver sem me defender das outras pessoas, a ansiedade pra mim era um sintoma porque eu não sei o que é viver sem ela, aprendi a ler com dois anos e desde os dois anos existe expectativa em mim, descobri a minha sexualidade antes dos cinco e desde então sofro com pessoas jogando com ela.
achei que estava tudo certo com a minha vida porque tenho uma família boa (genuinamente boa, nós nos amamos do fundo do coração e talvez sejam mesmo as únicas pessoas que amei na vida. mas acho que não. o esforço que fiz para amar e ser amado por outras pessoas foi tão grande que foi amor de fato), estudei, fiz faculdade, conquistei um bom trabalho, mantenho um ótimo relacionamento com Deus, mas eu nasci e cresci apanhando. e apanhando mais do que o comum pra minha idade, e apanhando sozinho, sentindo que ninguém entenderia meus problemas. uma vez, não faço a menor idéia da idade que eu tinha porque vi que fiquei entre os quinze e os dezoito e isso é um intervalo enorme de tempo, vi meus pais achando doentio uma matéria sobre algo na televisão, comentando “o povo está ficando louco”, só que aquilo era normal pra mim, não como prática mas eu sabia que existia e já tinha sido convidado mais de uma vez a praticar por mulheres mais velhas; anos depois meu pai conversou disso comigo normalmente, talvez tenha notado, ou vai ver eu só pensei muita besteira antes de entender qualquer coisa porque era um adolescente ansioso. tenho essa constante sensação de que ninguém vai entender meus problemas porque meus problemas não estão no contexto das pessoas em que convivo, ou talvez até estejam mas não sei colocar na linguagem delas. sinto-me à vontade conversando com pessoas mais velhas ou de cidades mais cheias de ansiedade que a pequena londres, possuo muitos amigos valiosos em são paulo ou no rio de janeiro por conta disso. isso causa outra confusão enorme porque meus sentimentos são genuínos dessa terrinha, aterrados aqui, meus pensamentos é que são nômades, a minha música deixa as pessoas daqui ou fascinadas ou sem entenderem nada.
mas, às vezes, sinto que ninguém, de nenhuma idade e de nenhum lugar, entende de fato a minha música. sinto isso porque às vezes nem eu entendo.
a minha intenção era encerrar a história em três capítulos mas, como perceberam, eu não narrei absolutamente nada do que disse que narraria no segundo capítulo. sim, tem um quarto. na verdade só tinha o quarto, eu só descobri o terceiro agora.
desculpa por escrever a coisa mais triste que você já leu na sua vida. não que tenha sido a história mais triste que você já viu, mas acho que é a perspectiva mais depressiva de uma história triste que você já viu. não se preocupe, é o meu jeitinho: quando feliz, extremamente feliz; quando triste, extremamente triste. ansiedade!
não deixe sua estrela parar de brilhar.