a Bem-te-vi parecia uma menina ousada. eu estava quieto, no meu canto, disse que era tímido e ela disse “não, você não é tímido”. uau. ousada. ela me paquerou daquele jeitinho especial no meu carro. uau. ousada. mas logo vi que ela não era nada daquilo, ela era, algo que talvez eu esteja reiterando porque acho que ela merece, uma menina super inteligente e muito bonita.
mas carente e ansiosa.
muito carente e muito ansiosa.
conseguia sentir a ansiedade dela ao conversar comigo e fiquei incomodado, mas senti algo dela que nunca tinha sentido antes: ela parecia não ter muitas ressalvas em gostar de mim, em se interessar por mim, em fazer coisas para chamar minha atenção. ela simplesmente queria estar por perto. me partiu o coração não dar tanta atenção a ela mas sabia que não era o momento, eu sei que no meio de jovens é pra ser tudo muito rápido, só que não queria iniciar um relacionamento ou com uma situação pendente (no caso quando as coisas estavam acontecendo com a Miss Bondade) ou cheio de feridas de uma situação que me deixou mal, não queria começar mal e não queria que ela sentisse que eu estava iniciando um relacionamento para tapar feridas, um anestésico, uma substituta. achei que ela merecesse mais que isso.
quando me senti preparado para corresponder a tudo isso, e isso foi após bastante tempo, já não tinha um cenário muito bom. tinha o cenário de uma menina um pouco afastada, com problemas de ficar calculando milimetricamente cada mensagem para me enviar e, se para mim era difícil saber o que era ansiedade e o que era ocupação, conseguia perceber os dois acontecendo simultaneamente por esses cálculos que no começo não existiam. foi um caso onde esses truquezinhos de whatsapp, de visualizar certas mensagens e outras certas mensagens não, acabaram entregando tudo.
isso me deixou ansioso também mas já tinha aprendido a lição, não agiria mais por impulso, não sairia mais demonstrando coisas à toa e seria sutil e tranqüilo nas cantadinhas. “guardar o coração”. eu só… não sabia em que grau as coisas estavam. talvez levar tudo normalmente já não era mais o que deveria fazer mas consegui me segurar.
ela estava numa das festas de final de ano (tive várias, inúmeras), nisso nós já tínhamos a nossa linguagem corporal bem estabelecida. e eu, conversando com um amigo a respeito de alguns assuntos “da carne”, comecei a expor alguns problemas que tive durante o ano, contei a ele os problemas que tive com a Miss (sem citar nomes), como tinha perdido a confiança nas meninas e como estava com medo de continuar fechado para sempre até alguma mulher muito ruim se aproveitar de mim e acabar com a minha vida para sempre. ela foi até lá para ouvir e ouviu a parte mais importante da conversa, acho que isso foi após uma pseudo-briga que tivemos no whatsapp enquanto eu estava numa viagem e, se não foi, foi não muito tempo antes. algum tempo depois contei a uma amiga dela que estava afim dela e ela “me ajudou” investigando, e logo veio com uma resposta de que tinham conversado, ela tinha percebido que eu estava interessado e blablabla mas ela não estava e blablablablabla e eu, compreendendo a situação, concordei em ficar só na amizade mas aproveitei para pegar umas “dicas de paquera” e nessas dicas ouvi coisas que foram ditas como generalizadas mas não eram generalizadas, descreviam a personalidade e os sentimentos dela (que, oh, ouvinte, conhecia bem pelas minhas observações silenciosas) e minha cabeça pensou a pior coisa que ela poderia ter pensado.
“é um jogo! vamos jogar!”
deixei uma pergunta a ela se ainda estava de pé a vez que combinamos de sair a sós (isso aconteceu… em algum momento da história) e a pergunta não foi visualizada nem respondida. (ah, pelo amor de Deus, quem conhecendo mulher e como mulher é agoniada de curiosa, ainda mais quando um bolinho de ansiedade, acredita que a indivídua não visualizou? marcou o botãozinho de não deixar azul ~só~ pra ver uma mensagem. me senti especial)
dois dias depois ela foi numa reunião semanal da igreja que não tinha muito o costume de ir e ficou analisando e esperando alguma reação minha, algo público meu. a esse ponto, ouvinte, não preciso mais explicar como eu jamais faria isso novamente. então não fiz. tinha uma visita urgente a fazer a um ex-morador de rua e fui até lá e, chegando em casa (não sei como isso aconteceu, realmente foi quando cheguei em casa), recebi a mensagem de resposta sobre sair, “não iria sair”, falando sobre eu estar confundindo as coisas e que queria que eu não sentisse raiva dela por sei lá quais motivos (saber na verdade eu sei, tadinha. mulher não é só maldade não. mulher sofre também) e eu… deixei de jogar por um instante. escrevi um texto muito sincero sobre não ver problema nenhum na situação, não ter problema com nada daquilo, e sobre só querer que ela ficasse bem porque já tinha passado por situações como aquela onde a menina escondia que gostava de mim e a amizade nunca mais era a mesma.
na verdade sabia que ela poderia interpretar como uma “acusação” de que ela gostava de mim (mulher odeia que você “adivinhe” isso) mas… foi o mais sincero que pude ser, essa situação realmente aconteceu e não quero falar com qual das personagens foi mas se o ouvinte entender o grau de apreço que tinha pela Bem-te-vi talvez entenda qual é essa personagem.
ela caiu na pior das hipóteses. acreditou que era jogo, “conversa”. bem, eu não estava com raiva dela. fiquei com raiva dela. pensei “bem, se acha que tudo é flerte então vamos flertar” e ouvinte, nunca tinha me exposto a alguém da igreja mas dessa vez acreditei que valia a pena pela diversão. flertei com uns trinta por cento da minha capacidade de flerte, o que equivale a revelar a minha existência, um narrador audaz de romances, retirar da minha memória a peça de roupa que ela nunca repetiu porque foi para uma ocasião especial (melhor ainda que, nesse caso, ela não tinha nenhuma foto com isso) e inventar algo com isso, nesse caso foi uma Mary Jane marrom de salto e é claro que foi “estou completamente bem apesar do meu coração ter sido pisado por uma Mary Jane marrom de salto”, embora confesse que a cor eu não sabia de fato por ser daltônico e talvez fosse vermelho. ela não respondeu nada mas, chegando o final da noite, me bloqueou do whatsapp.
ela nunca mais usou salto alto na igreja. (não volte a usar salto alto só porque leu isso. é uma armadilha)
pequena série de parágrafos utilizando a dualidade heart-shaped star/ seu portador
conversei com um amigo meu a respeito disso e ele disse para eu ficar “ok” e concordei, até porque estava, mas ocorreu um problema interessante aí: heart-shaped star estava vivo, estava no meio de um show e não poderia parar. no dia seguinte acordei cheio de idéias, escrevi uma carta (nada romântica, era apenas uma explicação de tudo), fiz um esforço para lembrar seu endereço (esforço esse que durou quase meia hora) e deixei lá. um detalhe interessante é que não tinha certeza se era aquele apartamento mas algumas pessoas, aparentemente chegando de viagem, começaram a interfonar e perguntei se tinha problema no caso de não ter o número do apartamento ali porque não sabia qual era o número. o rapaz me respondeu “ter até tem, mas você sabe como é o amor, se é para a carta ser encontrada ela será” sem eu sequer falar do que se tratava a carta. eu, heart-shaped star, ouvi isso como se fosse um sinal dos céus (não, não acreditei que era “sinal de Deus”, Deus não brinca com a minha ansiedade. é só pra dizer que toquei umas notas legais na minha guitarra pela música sensacional que isso daria) e fui embora naquele dia.
o meu portador, pobre pessoa, pensou “aliviei você. agora vamos deixar a menina em paz, né?” e eu, com o meu sorrisinho, apenas disse “claro! você não confia em mim?”. passou-se o natal. no meio da semana tive outro dia inquieto e comecei a incomodar, “você precisa ligar pra ela e falar algo sério”. depois de muita, muita, muita insistência minha, o meu portador ligou e foi atendido e ficou ansioso demais pra dizer qualquer coisa.
o que você diria quando fica ansioso demais pra dizer qualquer coisa? “o sol tá bonito, né?” (8pm)? “nossa, acho que vai chover hoje”? “você tem aquela receita de bolo maravilhosa”? “preciso dos seus conhecimentos na sua área”?
ansioso demais, disse ah, só estava com saudades de ouvir a sua voz e terminei a ligação.
eu, ansioso demais pra dizer qualquer coisa, fui impulsivo. e essa é talvez uma das últimas descobertas que essa história traz sobre mim, ouvinte. eu só sou medroso enquanto penso, quando sob pressão a minha mente está calibrada para ser ousado. isso é porque, como disse na música anterior, é preso na parede que eu ataco.
o portador, pobre portador, primeiro riu comigo a respeito de toda essa situação. mas depois me disse “por favor. já tá bom”, ele insistiu que estava bom, ele suplicou que estava bom.
mas… no dia seguinte… torturei-o dentro de sua própria mente para que fizesse algo ainda pior, e ainda não sabia o que seria algo ainda pior, fui até a igreja meditar sobre o que seria algo ainda pior assim que saí do meu trabalho. concordei que seria ir até a casa dela e conversar com ela. o meu portador, poooobre portador, tentou falar com meu amigo e ele só me disse “nada do que disser aqui vai fazer diferença pra você, né?”, disse que não, ele riu e disse “boa sorte”. eu liguei, liguei, liguei, liguei, e quem atendeu foi a mãe dela dizendo que ela estava se sentindo perseguida e blabalbalbalbla e aí… pobre portador… porque fui embora e deixei ele respondendo a mãe. ele quase acreditou que eu era o diabo, quase me senti o diabo também.
assim que terminou a ligação eu, heart-shaped star, declarei o show encerrado e fui embora para minha casa.
fiquei sabendo que ela estava muito brava comigo. tudo o que pude pensar foi bem-vinda à noite na pequena londres.