Série: noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados / noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v

v-xvi. Morenitchá + Rainha das Estrelas ii (queen of my stars)

12 de maio de 2018

noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v
anatomia da alma frágil: mapa geográfico da corrupção e perversão humana [ou: heartshaped star — heartshaped star]

estava de volta à primeira firma e, é claro, muitas histórias paralelas ocorreram durante esse showdown da Miss Bondade. estava de volta para o reino da Rainha das Estrelas, a Senhora da moça que me convidou para conhecer suas algemas, e agora já não era mais um garotinho ingênuo que não entendia muito bem por que ela chegava perto de mim e se movia de maneiras específicas, fazia gestos e sons específicos. conhecia tudo, e confiava que conhecia tudo.

os personagens tradicionais desse lugar praticamente não mudaram. apenas os menos importantes, que sempre iam embora de qualquer forma.

a verdade sobre a firma é que, enquanto estava trabalhando no outro lugar, era mais fácil pra mim me controlar a respeito da minha sexualidade. como disse ali nos arredores da Foránea, era um lugar de relacionamentos mais-ou-menos saudáveis e sem tensões sexuais, mas agora o ouvinte já até sabe bem onde eu estava de volta. é um ambiente estressante onde as pessoas se odeiam, há muita aflição sexual, e de repente eu conseguia perceber as “rapidinhas” que as pessoas davam para trepar, conseguia entender que certas mulheres vinham com determinadas roupas em dias de fazer sexo com algumas pessoas e outras determinadas roupas em dias de outras e outras determinadas roupas em dias de se comportar. não precisava mais achar migalhas nas conversas das pessoas para isso, era tudo muito claro.

a minha sexualidade simplesmente desabrochou ali. eu tinha desejo por mulheres agora, da minha maneira toda torta, e meu corpo começou a ceder a isso de maneiras estranhas.

ao entrar na firma o personagem que veio de encontro a mim se chama Morenitchá. coloquei aceito no “á” porque fica mais legal de pronunciar assim, como o “tchá-tchá-tchá”. a Morenitchá era considerada a biscate da vez na empresa, a “menina gostosa do marketing”, a gatinha que todos os homens já tinham pegado da sua forma. vocabulário agressivo para situação agressiva. quando trocamos olhares pela primeira vez ela fixou os olhos em mim de uma maneira semelhante à da moça do outro lugar, a da reunião. entendi claramente o recado ali: “você não vai escapar, garoto”. ela não entendeu muito bem que ela nunca tocaria em mim, que ela nunca, nunca tocaria em mim, mas não entendi muito bem (ou até entendi) que não era certo oferecer conteúdo visual ela, que fazer isso significava algo vil da minha parte, mas para mim mais uma vez era só um jogo sem significado nenhum já que ela tinha começado e eu estava com ódio demais para ser gentil e avisar que “não moça… eu não jogo não… deixa quieto isso aí”.

ódio, meu ouvinte, é o que define esse período da minha vida. não só por tudo o que aconteceu aí, mas porque já não tinha mais suporte emocional: a minha casa estava falida, a minha mãe estava em depressão e já não era mais capaz de me fornecer o abrigo emocional que oferecia outrora. pelo contrário, eu me vi perdido tendo de carregar esse fardo dela, da minha mãe, da pessoa que era segura, da pessoa que tinha me confortado durante a minha depressão. vi a sua depressão e percebi que, sim, não era coisa da minha cabeça, eu tinha passado por uma depressão fortíssima. ver como aquilo era grave me fez pela primeira vez me sentir uma pessoa forte, me sentir um sobrevivente. sempre soube que era sobrevivente mas nunca me senti assim porque para mim eram só uns monstrinhos da mente nada palpáveis, eu sabia discursar contra egoístas e insensíveis que vinham com a conversa de que “é tudo coisa da sua cabeça então não é importante” mas dentro de mim mesmo não acreditando nisso usava de argumento para me menosprezar, “seu sofrimento nunca foi real”. foi um período em que, para sobreviver, passei a contemplar o meu sofrimento, passei a conversar com Deus e lembrar dos momentos e situações, perguntar “isso aqui foi grave?” e ouvir “sim, foi grave”, “isso aqui me machucou?” “sim, te machucou”, “todo mundo sobreviveria isso que eu encarei?” “não, não sobreviveria”. não tinha motivos para ficar feliz que não fosse ver Deus em coisas pequenas, ver livramentos, ver como ele me protegeu nesse tempo. era um memorial que me dava forças.

fui para um novo círculo de amigos, cheio de pessoas mais jovens que eu, e confiei minha vida a um amigo antigo ainda dos tempos da faculdade. nesse grupo teria a liberdade de ser mais jovem, de levar ou ao menos aprender a fingir que levava as coisas menos a sério. entrei bastante tímido porque estava mais abalado emocionalmente que quando voltei à igreja três anos atrás já que não estava frustrado com a vida mas com a própria igreja. era… diferente. era legal, um pessoal falando de meninas, de gostar, de dar em cima, essas coisas que eu achava bastante safadas e por conta do convívio exclusivo com pessoas mais velhas fui ganhando a certeza de que eram safadas mas, ao me envolver com pessoas que faziam o que era apropriado para minha idade, elas estavam fazendo as exatas mesmas burrices que eu só que sem levar em conta aquela quantia absurda de monstros que eu criava. levei tão a sério o último episódio com a Miss Bondade mas era normal, e quando fui contar sem mencionar nomes foi uma frase curta que o pessoal respondeu com “mulheres” e todos nós rimos.

comecei a notar que me importava demais. ligava demais para os sentimentos das mulheres dos meus meios sendo que não era para me importar, elas faziam besteira atrás de besteira e se machucavam sozinhas e a responsabilidade não era minha. não era de nenhum de nós, homens, eram delas mesmas e de sua pastora. ficassem com ódio da gente por sermos insensíveis, “nós não tínhamos como saber”, mesmo porque quando o oposto acontecia elas também “não tinham como saber”, apenas os idiotas que deixavam seus rastros é que se prejudicavam de fato. o comportamento da “responsabilidade emocional” quando se está fora de um relacionamento não existe na igreja, quando passa dos limites as próprias pessoas do mesmo sexo se repreendem com piadinhas e com apelidos como o próprio Light Fuse And Get Away, havia todo um código social que estava fugindo a mim e que todos os meus amigos mais velhos não me explicavam porque também não sabiam, já que eram mais velhos e tinham seus próprios códigos sociais ou quem sabe nem precisavam deles. um dos casais dali se conheceram piscando, sem frescura insegura de jovem.

mas ainda não era uma história sobre isso. ainda não estava prestando atenção em ninguém da igreja de novo, embora trocasse mensagens com a Bem-te-vi de vez em quando e fingisse ser uma pessoa insegura como ela porque sentia ela crendo numa segurança descomunal minha que eu não tinha, ou melhor, que até tinha, mas não queria ser cobrado a respeito. ainda estava para superar a sétima estrela, sempre quis ser cobrado menos do que merecia num relacionamento porque tenho um valor muito alto e tinha muito medo de corresponder a tudo isso, como se o meu valor viesse de um esforço e não do simples fato de eu existir e pensar como penso, viver como vivo. já sair… eu tinha um problema: eu não sabia chamar alguém pra sair, simplesmente não sabia. mais pra frente com ela isso deu certo mas acabei não entendendo que deu e foi um desastre enorme. bem, mais pra frente.

eu estava tendo complicações com a Morenitchá. ela descobriu as roupas certas para invadir os meus pensamentos, ela percebeu que eu dobrava os joelhos para a Rainha das Estrelas e decidiu apostar no visual dela (só no que era bom, o que era ruim ela sabia excluir) nos dias em que queria minha atenção. não foi muito difícil para ela dominar os movimentos, também, e ela tinha uma delicadeza de jovem que a Rainha não conseguia ter. sem contar que a Rainha era uma rainha, poderosa, atarefada, cheia de pessoas para cuidar em sua colméia, a Morenitchá era… apenas uma menina do marketing, ela tinha tempo, ela podia sair de sua sala sempre. não que eu fosse uma linda flor nessa situação, ela ficava incomodada com o fato de eu cair “quando quisesse”, e mais de uma vez enquanto ela estava jogando ping-pong com algum dos rapazes eu aparecia e ficava olhando pra ela, ela se perdia toda e começava a errar tudo. uma vez até tropeçou.

a partir daqui, ouvinte, já não levava mais nada disso a sério. não levei a Morenitchá a sério, mesmo que fosse sim tudo muito sério, que o objetivo final dela era mesmo me enlouquecer e me fazer prendê-la na parede, chamá-la de gostosa, de safada, de cadela e mais outras coisas porque afinal de contas era o que ela fazia com todos os outros que jogavam com ela. outra coisa que era séria era que ela tinha namorado, o que fui descobrir lá pra metade do caminho. por estar depressivo demais para me importar, me desesperar, pensar “nossa, que falta de caráter horrível a minha!”, só fui tirando o meu da reta lentamente. também sempre fui egoísta demais para me importar com essas armadilhas retardadas de mulher frustrada, de seduzir, seduzir, seduzir para, quando eles caírem, expô-los aos seus namorados como mulheres inocentes que os rapazes deram em cima por serem machos imorais e ela, tadinha, não pôde se defender. sempre pensei que, se o rapaz cai nessa, ele merece cair. por outro lado não gosto de julgar porque caí na Miss Bondade e na Carinha de Anjo e, se a Morenitchá era obviamente uma armadilha, sabe-se-lá o que ela fez para seu namorado acreditar que ela não era, quando contei ao meu amigo toda a história da Miss Bondade ele só falou “ah, já imaginava”. a minha mãe também passou a ter certeza que a Miss Bondade estava jogando ping-pong com a minha cabeça, e a minha mãe ficou furiosa comigo por ter levado tanto tempo para perceber que a mãe dela flertou comigo.

o que quis dizer nisso tudo é que fico no meio-termo entre não dar a mínima para o namorado de uma menina dessas e ficar com pena, porque quero que tenham pena de mim pelas armadilhas que caí e até as que ainda posso cair, mas também não acho que me defenderia em nenhuma delas. menos ainda conseguiria defender não ouvir as milhares de vozes dizendo pra mim “não faça isso!!!” e terminar com uma delas.

um belo dia, prestando serviço ao marketing, acabei esbarrando em uma das conversas da Morenitchá com um de seus amigos. nessa conversa ela me xingava horrores, perguntava se eu era gay, se eu tinha problema, por que ainda não tinha partido para cima dela. o amigo dela disse que era “viadagem de crente”. me senti um pouco envergonhado porque, mesmo fazendo a besteira de flertar com ela, as pessoas ainda levavam em consideração que eu era “crente”, que “não fazia coisa errada”, ou seja: era certinho o suficiente para eles não ter transado com a Morenitchá; não sei se entendeu bem a minha vergonha, a vergonha é que eu estava carregando mediocremente uma bandeira que tinha capacidade de carregar gloriosamente, as pessoas estavam esperando que eu fizesse 0% mas estava fazendo 1% e ainda tinha chance de voltar ao 0% sem ninguém perceber. ela estava perdida, não conseguia saber se estava enlouquecendo ou se eu realmente estava flertando com ela, ela estava consultando as amizades dela se aquilo poderia significar algo, desesperada, mas nenhum homem poderia respondê-la e nenhuma mulher poderia confirmar porque ninguém entendia minhas ferramentas exceto a Rainha das Estrelas. eu era homem, eu não poderia estar pegando ela em truques de mulher. a Morenitchá surtou de vez quando a adicionei no skype, precisando de uma informação do marketing, então perguntei algo do marketing e ela colocou a informação no meio de milhares de exclamações e então agradeci e nunca mais respondi.

por falar em Rainha das Estrelas, duas semanas após isso a Morenitchá foi mandada embora. ninguém sabe quem encaminhou aos Grandes Mestres Da Firma que ela estava sendo o depósito de homens da empresa, mas os homens casados e alguns solteiros “sortudos” como eu conhecem o sorriso por trás disso. nós já ouvimos a palavra da Rainha, “mulher que entra no meu departamento ou eu contratei ou é barata e eu piso”. nós sabemos que, quando ela repete plataforma por uma semana, é porque ela vai usar em alguém. ela reserva os saltos pra quem gosta.

a Rainha das Estrelas, ouvinte, é uma mulher especial. você percebe que todos os homens casados que sobem para um nível muito alto naquela firma vão se tornando homossexuais. não como os casais gays de novelas, é que eles começam a achar normal relacionamentos entre si, começam a ter preferência por travestis, começam a descobrir “buraquinhos alternativos” para se deleitarem e… começam a dominar técnicas femininas de flerte para despertar ansiedade e controlar os sentimentos dos homens em seu departamento. os homens casados que se tornam chefes simplesmente “mudam”, e todas essas ferramentas corporais femininas que eles adquirem têm uma estranha semelhança com a linguagem corporal da Rainha das Estrelas, a mesma Rainha que se junta conosco numa mesa de churrasco e entre gostosas risadas perguntamos qual casamento ela gostaria de destruir na próxima semana e ela só continua rindo. ela é uma personagem que eu simplesmente sei que muitas ouvintes, ao ouvirem sobre ela aqui, gostariam de ser, porque ela é a maior definição da mulher que parece ter o mundo em suas mãos. ela desperta uma infinidade de instintos, sentimentos e visões gnósticas nos homens mascarando-os. ela imprime sua marca no modo de homens adultos, casados, com filhos, andarem. você tem noção do quão poderoso é isso? e tudo isso é útil, porque membros de uma empresa com mais de sei lá quantos funcionários precisam ser marionetes, não podem servir nada além do trabalho, não podem ter emoções que não correspondam às do trabalho. pode ser que você trabalhe em uma empresa, seja burro e não saiba disso, mas está num ambiente robotizado, você não é real ali dentro, tanto que existe aquilo que comentei no capítulo passado de ser uma realidade tão paralela que as pessoas acham OK ter cônjuges que funcionam “apenas lá dentro”.

a Rainha das Estrelas sempre tem a conversa idiota de ser burra. uma mulher que manda em pessoas em um lugar cheio de cálculos complexos, burra. ela olha um gráfico e diz “ai, não entendo nada”, ela olha um código e diz “nossa, como você consegue se virar aqui dentro?”, ela fala devagar com as pessoas que gosta, está sempre cantando melodias com a voz independente de qual seja o assunto, está sempre usando o dedo indicador com aquela unha sempre bem-feita a pouquíssimos centímetros de distância do seu rosto para apontar as coisas. ela sempre me diz “bom dia” tímida. ela me fascina pelo seu grau de dissimulação extremo, é apaixonante, é talvez a mulher mais problemática da minha vida e esse período de frustração e depressão me confrontou com a realidade: fico tão fascinado por ela porque, se fosse uma mulher, seria como ela. porque a mulher que se criou em mim para desejar, lá quando eu era uma criança pervertida e fui mexido por uma, era essa. a empresa é um jogo de xadrez e as pessoas são as peças dela, sendo a outra jogadora provavelmente a dona da empresa, que conhece todos nós pelo nome, sobrenome, idade, endereço e o que faz quando está com medo. quando estou com a sexualidade aflorada eu ando como ela, mas já andava como ela antes mesmo de conhecê-la. ela cumprimenta a minha mulher interior.

quando percebi essa “coisa” um espírito de perversão tomou conta de mim. entenda isso da pior maneira possível. fui atormentado por um espírito, simplesmente atormentado por um espírito. fiz coisas bizarras nessa semana, tive fantasias extremamente prazerosas e complicadas de controlar, enxerguei todas as pessoas de maneira distorcida, tive uma conversa meio complicada com a Foránea para que ela “me” cumprimentasse também. por fim, despertei uma mulher linda três anos mais velha que eu, ela era baixinha e tinha um olhar forte e possessivo, ficou um tempão aguardando uma atitude minha mas não entendi o que aconteceu e só fui embora. chamarei ela de Baixinha. antes disso o meu amigo foi orar por mim e sentiu que “estava ocorrendo uma guerra espiritual por mim naquele exato momento”, ele disse que “viu alguém tentando me usar como uma marionete”. não chame de “alguém”, o nome desse personagem é “rebecca”.

se bem que tenho tantos personagens chamados “rebecca” que já nem posso usá-los pra mais nada. sem contar a rebecca de verdade. que confusão! sim, ouvinte, levo a sério o mundo espiritual, os espíritos, mas as minhas experiências espirituais não são algo que ocorrem uma vez por ano, são cotidianas e estou acostumado a tudo isso mesmo que talvez não devesse e tenha medo de dizer que estou.

isso tudo não passava de coisas que estavam dentro de mim. o meu ódio e a minha frustração eram tão grandes que se tornaram demônios e, a princípio, não queria encará-los como eram porque os enxerguei errado. por que eu sentia essa atração agoniante por mulheres más? por que eu era tão mau? por que, Deus, o abuso, a dor, a aflição? por que? por que? as perguntas não eram essas. primeiro, o que havia de errado na Rainha das Estrelas ser perversa? era mesmo esse o problema dela, ou o problema era o adultério? se ela fosse perversa só com o marido dela ele seria uma pessoa de muita sorte, ela era inteligente, determinada, sociável, bonita, era “só” não adulterar, “só” ser fiel. é difícil entender o coração dela mas posso dizer que, em algumas partes, eu entendo, porque entendo o quão inseguro é o mundo de alguém que está sempre querendo o controle de tudo e de todos e, se ela preenche esse vazio que eu sentia controlando todo mundo, ela sente muito medo de perder e isso é uma luta constante porque toda hora aparece uma ameaça, uma baratinha para ela pisar. entreguei o controle do meu mundo a Deus porque do contrário teria me suicidado mas, talvez, se o diabo tivesse chegado e me falado “sua vida estará sempre sob controle se você se prostrar”, eu teria me prostrado e estaria como ela até hoje.

sou incapaz de acreditar que nem sempre que ela tem todos aqueles movimentos milimetricamente calculados dos braços e mãos para me apontar um problema é porque ela quer chamar minha atenção de alguma forma, mas algumas vezes já estive no lugar dela e algumas vezes senti que ela queria mesmo me ajudar. isso é algo que poucos percebem: ela está sempre tentando ajudar de alguma forma. ela sempre está muito maquiada, com um saltão, umas roupas coladas, brincões, mas solte uma vassoura ou uma louça na mão dela e ela fará o serviço sem frescura. ela tenta muito chamar as pessoas que gosta de inteligentes, tenta demonstrar interesse em coisas que percebe que seu coração sente agonia em contar. sempre acreditarem que há uma segunda intenção por trás das suas ações é uma prisão. muitas vezes é realmente difícil ficar se segurando quando ela está por perto, e muitas vezes ela instiga de propósito, mas não quer dizer que ela sempre quer que você caia. ela, toda poderosa como é, já me recompensou por não cair.

às vezes rio para ela quando ela tenta flertar comigo. é pra ela perceber que percebi, perceber que acho engraçado e sem-vergonha, e perceber que não a odeio por isso.

tive que aprender a não odiá-la por isso porque tive que aprender a amar a mulher manipuladora e má dentro de mim. tive que perdoá-la, tive que aceitá-la e tive que confiar que, às vezes, não havia segunda intenção por trás de cada uma de suas ações porque do contrário ela ficaria presa para sempre. a minha mãe, pouco tempo depois, sob efeito dos remédios da depressão e também de uma certa falta de vontade de se impedir que a depressão traz, brincou com meus sentimentos de maneira muito séria para que eu trouxesse um lanche caro pra ela e eu caí, e quando cheguei em casa com o lanche e percebi que caí eu ri. ela estava com medo de me pedir um lanche, pareceu mesmo mais vantajoso fazer todo esse processo complexo do que me pedir diretamente. mulheres são ridículas.

é mais fácil perdoar o que é ridículo do que o monstruoso. ficou mais fácil assim, vendo que minha mulher super má, monstruosa e assustadora era só uma pessoa com medo de perder o controle. parecia uma criança chorona muitas vezes. tive que tirar o controle dela algumas vezes para que ela passasse de tentar me matar a apenas abusar de mim, e de abusar de mim a espernear, e de espernear a aceitar, e de aceitar a entender. tive também que, às vezes, ceder o controle a ela totalmente para que ela expressasse sua gratidão e me mostrasse o que sabia fazer com o controle.

tudo o que estou dizendo é subjetivo demais, mas quando a minha mulher manipuladora está em controle eu não estou. quando a coloquei “em seu lugar” acabaram as válvulas da minha mente, eu podia saber o que estava me interessando porque era realmente interessante e o que só me interessava porque junto com aquele assunto vinha uma gatinha, e obviamente aumentei muito a qualidade do meu cafajestismo porque não perderia mais tempo estudando coisas que não me interessavam, só aprenderia a “levar na conversa” aquele assunto. isso, também, não aumentou apenas meu cafajestismo: aumentou a qualidade da minha carga de fardos, era difícil para mim saber o que era meu e o que não era e de repente ficou fácil, de repente entendia com uma facilidade enorme que estava orando pelos outros e não por mim mesmo.

algum dia desses uma amiga minha estava com um aperto forte e incessante no peito. “de vez em quando aparece, não sei o motivo”. eu sabia o motivo. eu a instruí a parar de guardar sentimentos e sabia exatamente qual sentimento ela estava guardando, mas não senti necessidade de expô-lo. um final de semana após aquilo Deus falou com ela exatamente a mesma coisa. isso na verdade ocorreu na semana da viagem da Miss Bondade, mas nada aqui é automático, tudo é gradativo, grandes eventos como o espírito do ódio e da frustração me abriram muito os olhos mas recebi a oração do fardo ainda na Foránea.

o mais engraçado sobre várias dessas coisas é que elas me divertiram. talvez você tenha chorado ouvindo sobre quando Deus me tocou, mas foi muito divertido quando comecei a me acostumar com isso, quando nosso relacionamento não era mais um converseiro sem fim e tinha os momentos de apenas ser tocado. isso me desinibiu muito espiritualmente mas também carnalmente e tive de tomar um pouco de cuidado. em algum período por ali meu corpo se tornou um elástico, eu queria ficar mexendo toda hora, mas tudo isso foi muito bom.

descobrir tudo isso sobre “a mulher controladora” também foi muito bom, foi muito prazeroso. deixar de ser reativo nos flertes para ser ativo foi bom, ter controle sobre a minha auto-estima foi bom. resolvi parar de fazer progressiva para ficar com meu cabelo enrolado como veio ao mundo, instruído (mas não controlado) pela Bem-te-vi, tive uma crise de identidade assim que me olhei no espelho que levei alguns dias para assimilar, mas assim que me acostumei fiquei muito satisfeito. ainda assim às vezes sinto falta da progressiva, é uma pena que não dê pra ficar com progressiva dia sim dia não, talvez a minha vontade de viver tantas pessoas diferentes clame pela necessidade de perucas ou talvez devesse investir mais em teatro. me diverti com a mulher controladora, com as coisas mirabolantes e às vezes maldosas que vinham na minha cabeça, também passei pelo sentimento de parar de me sentir controlado por ela para me sentir protegido por ela. isso acabou refletindo na construção de uma segurança real, aquela que as pessoas acreditavam que eu tinha, dentro de mim mesmo.

esses fenômenos recuperaram, através do espírito, coisas que perdi para sempre e muito cedo no mundo material. bom e ruim ao mesmo tempo, foram coisas que aprendi a controlar e o esforço mental me levou a um cansaço enorme, às vezes parecia que tudo na minha vida estava quebrado.

mas tudo na minha vida e na minha sexualidade sempre esteve quebrado. não estava “reconstruindo” a minha sexualidade, embora você possa levar em conta que, biologicamente, eu nasci homem e tenho o corpo de um homem. eu estava a construindo pela primeira vezo roubo da minha identidade sexual aos três anos de idade fez com que eu dependesse de opiniões, idéias e padrões sociais de “homem” para me definir, e conheci milhares desses e me tornei uma completa indefinição suicida. mesmo os padrões mais aparentemente saudáveis como os da igreja me faziam mal porque eles nunca vinham como sugestões, vinham como personagens literais que eu interpretava à risca, não condiziam com a realidade e acabavam me destruindo tanto quanto os outros modelos. me olhei no espelho várias vezes e ouvi vozes na minha cabeça dizendo “que gatinho!” mesmo que não me sentisse assim, vários cantos do meu interior já estavam satisfeitos com quem eu era, os padrões esquizofrênicos de auto-imagem que criava (não, não eram “padrões de beleza”, eram padrões esquizofrênicos. já quis ser muitas pessoas feias e horríveis pelo simples fato de que eu não conhecia quem eu era) faziam com que eu me olhasse no espelho e sentisse nojo, insuficiência, vontade de vomitar e até de morrer e começar tudo de novo e outras coisas que acho até que já disse. as vozes da minha cabeça, no passado, queriam esses padrões e me rejeitavam violentamente por eu não alcançá-los (ou por não me rebaixar a eles), unidas às vozes das mulheres que fizeram chantagem emocional pelo fato de que não quis ficar com elas e de mulheres que me rejeitaram de fato.

(ou que acreditei que tinham me rejeitado já que meu primeiro fora, de verdade, foi o da Olhos de Cristal e esse fora foi por um tempo piada entre nós, só me fez bem, não me machuquei fiquei mais desinibido depois dele. pelo amor de Deus, ouvinte, não estamos falando de namoro, de casamento, estamos falando de paquerar. não é a rejeição que dói, para se sentir rejeitado primeiro você tem que se sentir aceito e você não foi. o que dói é o fato da realidade, essa megera, ter pisado no seu castelinho de areia de ilusões a respeito de “a outra pessoa gostar de você”, ou no seu castelinho de areia de projetos inevitáveis de uma vida ao lado dessa pessoa já que você criou sentimentos imaginários por ela e pela pessoa que acredita que ela é. pelo amor de Deus, você não gosta de ninguém até lascar uns beijões bem gostosos nessa pessoa, não importa as músicas românticas que ouviu, as histórias românticas que leu e os filmes românticos que assistiu. não menospreze o “gostar”: o gostar tem a bênção e a maldição de fazê-lo ignorar tudo dentro de você e todas as outras pessoas para ter mais uma dose das sensações que vocês têm juntos. o gostar quase sempre só acontece no namoro; e, muito menos ainda, menospreze o “amor”: o amor exige duas pessoas que se conhecem de verdade, com amizade, intimidade e convívio. pessoas imaginárias não se amam, e não estou falando de internet, estou falando que você não conhece a pessoa por trás da máscara até te ela permitir conhecê-la. o amor quase sempre só acontece no casamento.

isso é algo que você pode não saber muito bem quando aprendi, mas vou revelar e espero que não se surpreenda ou não fique irritado comigo achando que sou mais cafajeste do que realmente sou: aprendi com a Carinha de Anjo aos dezesseis anos. depois disso, em termos românticos, nunca usei o “amor” e sempre que usei o “gostar” foi: 1. a preferência por usar o vocabulário e os conceitos do meio ao invés dos meus para não destoar ou destruir as ilusões de ninguém. sou uma pessoa visceralmente diferente no meio e a sós, quando fico interessado em alguém fico irritado só de pensar no processo de me envolver com o círculo de amigos, fazer coisas idiotas em público como se eu estivesse totalmente iludido como fiz com a Miss Bondade. eu… já passei dessa fase, as coisas são bem definidas pra mim. infelizmente me mesclo tão bem ao meio que ninguém acredita nisso; 2. achar que a outra pessoa acredita nisso e tentar ajudá-la, não desmontando a idéia mas usando a idéia para chegar ao fim que chegaríamos de qualquer forma se fosse para chegar e, graças a minha honestidade, não chegaríamos de qualquer forma se fosse pra não chegar. só hoje sei que isso é idiotice, que posso me apresentar como sou e jogar as minhas cartas na mesa)

abri esses parênteses enormes porque achei importante, vamos voltar ao que estava falando antes.

estava falando das vozes na minha cabeça. passei a oferecer quem realmente era, o que realmente sempre quis oferecer, a mim mesmo. comecei a perceber que era amável, agradável, bom e confortável, porque tinha um relacionamento estável com um Deus amável, agradável, bom e confortável que tinha despertado todos esses atributos em mim, e todas as vozes na minha cabeça foram se rendendo a isso e dizendo coisas boas de mim, mesmo que eu não conseguisse senti-las. elas não deixariam uma voz astuta e destrutiva por natureza chamada “diabo” me dizer que eu era horrível, elas a combatiam. até a mulher má e manipuladora dentro de mim gostava de mim, tive de tomar a atitude de amá-la pra isso, o amor a quebrou completamente e mostrou uma pessoa tão agradável que eu gostava de ter dentro de mim, embora tenha sido obrigado a fazer algumas loucuras por ela.

aprendi também a aceitar o tipo de mulher que eu gostava. isso é um problema enorme para os homens de sexualidade prejudicada. você já deve ter conhecido um homem cheio de freios morais e frustrações que gosta de mulher doida e tatuada, ele fala disso o tempo todo, ele olha uma tatuagem em uma mulher na rua e chama a moça de “vagabunda” como se por instinto, ele vai destruindo mentalmente esse modelo de garota para ver se muda mas nunca muda. não só isso como ele vai atraindo mais e mais esse modelo, vai chamando a atenção e, nem que por conta do ódio, acaba se relacionando com essas meninas. não seria mais fácil só aceitar e já gostar de uma vez?

não, não é. veja bem: cresci no meio de mulheres manipuladoras e más, fui marcado por elas, machucado por elas, destruído por elas. assim como o homem da “mulher tatuada”, ou da “mulher corporativa”, ou da “mulher romântica poetisa”, provavelmente já foi arrebentado por uma delas e criou em sua mente o conceito de que esse modelinho não presta. o meu playground mental precisa ser usado, sacudido, brincado, ele precisa de pessoas criando coisas e colocando lá dentro, mas quem é capaz de lidar com tanta coisa é apenas a mulher madura o suficiente pra não se perder dentro do playground e essa mulher madura é geralmente uma frustrada com a vida e com homens que gosta de virar a cabeça de garotos mais novos para descontar essa frustração e, não só temos esse problema, como fui vítima disso na infância. muitas mulheres frustradas se perderam em mim acreditando que estavam virando a minha cabeça, algumas personagens da noite na pequena londres fazem parte disso, só que sempre que falo “muitas” falo de pessoas que são irrelevantes pra mim mas nunca esqueceram de mim porque, “sem querer”, escavei monstros dos seus corações, briguei com eles enquanto estávamos juntos e quando fui embora elas ficaram sozinhas com os monstros sem saber como lidar porque, sim, os monstros eram delas, mas eu dei nome a eles, eu mostrei a elas sua forma e as armas usadas para combatê-los são minhas.

a Brunette, meses depois de termos perdido contato, após mais um episódio de sonhos frustrados só que dessa vez perdida em toda miséria espiritual que a apresentei, teve de se internar num hospício. outra menina, apaixonada por niilismo, que teve a certeza absoluta de que eu tinha muita fé em ilusões da vida (tenho menos ilusões na vida que um niilista. o niilista acredita que está vivo e vai morrer, acredito que já estamos mortos e só falta enterrar. sou irremediavelmente triste e cínico com o mundo, minhas alegrias vem todas de Deus, ou do “meu amigo imaginário super-poderoso que coincidentemente é o mesmo amigo imaginário super-poderoso das pessoas da minha igreja”. seria muito triste, não fosse o fato de que Deus me dá mais alegrias que qualquer pessoa no mundo, não faço a menor idéia do motivo. ele deve ser maluco) e passou meses tentando me desmontar. sendo confrontada com seus problemas de espírito, de alma e de personalidade, ela se suicidou.

nesse período, ainda antes da Primeira Vítima, o meu playground tinha a forma de um deserto depressivo e desesperador. eu expunha as pessoas a ele sem nenhum cuidado ou preservativo mental e emocional pelo simples fato de que elas pediam, de que elas viam ali um desafio ou uma presa (“ele é um homem virgem, bobão, tem até carinha de criança. não sabe de nada da vida”), mas meu playground é um centro de bruxaria moderna. ele tem data marcada para trocar todos os brinquedos e, quando essa data começa a chegar, ele começa a escurecer e deixar quem está dentro se perguntando o que está acontecendo até que, de repente, tudo o que está lá é demolido e substituído. a pessoa deixa de entender tudo o que estou falando, tenta adaptar a linguagem nova à antiga, faz todas as confusões possíveis e fica maluca e surtada. o playground é a minha parte mais legal mas quem entra na minha vida através dele morre dentro dele mesmo que faça a festa nele, brinque com ele, vire-o de ponta-cabeça, tudo o que você fez tem data marcada pra acabar. o maior exercício de amor pra mim é permanecer na mesma igreja porque troco o jogo de doutrinas toda vez que compro um par de sapatos novos. não acredito nas coisas para viver, acredito para me divertir.

mas, mesmo no meio disso tudo, nunca tive o coração de destruir as pessoas. esses “vazamentos” eram coisas que eu não sabia e não percebia porque, se fosse proposital, já teria feito um estrago muito maior. colocar o funcionamento das coisas como coloco faz até parecer que não fiz bem às pessoas. que, usado da maneira certa, não ajudei várias pessoas. nunca fiz parte desse jogo de interesses romântico e/ou emocional e todas as pessoas que também não o fizeram foram beneficiadas, nunca deliberadamente coloquei pessoas no meu playground porque estava entediado e querendo descontar as frustrações, eu… não sou mau. e não digo isso como um bichinho triste pedindo misericórdia, “buááááááá eu tenho coisas boas”, digo isso simplesmente porque sei que não sou mau. todas as vontades horríveis da minha vida foram expostas nesse período e ficou claro que o simples fato de eu não ser um assassino violento revoltado com o mundo por ter seqüestrado a minha alma indica uma bondade de coração enorme. nada do que tenho dentro de mim é tão relevante assim para me caracterizar um monstro, quando descobri isso um peso gigantesco saiu das minhas costas e, na verdade, tinha descoberto isso como um fato há muito tempo, mas só aí eu descobri com profundidade o que havia dentro de mim.

eu vi a minha mãe com depressão, vi ela encarando o monstro, vi ela em seus quarenta anos apanhando para esse monstro, vi como ele era assustador em outra pessoa. lembrei que ele faz parte de mim como algo vencido. percebi o número de lutas internas que travei para proteger as pessoas de mim, para proteger as pessoas dele quando ele estava as alcançando. eu nunca usei da minha depressão para despertar nas mulheres o instinto de salvação e proteção e levá-las para a cama como vi tantos outros fazerem: não só eu não fiz sexo com a Moça da Carta de Amor que ficou louca de preocupações por isso como nós construímos uma amizade sólida porque eu fui uma pessoa agradável, ela foi uma pessoa agradável, nós saímos e tomamos café juntos, falamos da vida e de coisas úteis e inúteis juntos, antes de qualquer coisa nós somos amigos.

eu… lutei muito em nome da bondade pra acreditar que era uma pessoa tão ruim quanto me imaginava.

mas encerrando esse assunto: estava falando sobre as dificuldades no tipo de mulher que aceitei gostar e, bem, já dei uma pista sobre isso lá atrás, ainda nesse trecho. eu gosto de mulheres como a Rainha das Estrelas e, purificando a minha mulher controladora, descobri que uma rainha das estrelas não precisava ser adúltera destruidora de casamentos, até porque uma pessoa tão cheia de poderes como eu nunca fiz isso (ou fiz? bem. nunca fiz por querer). gosto exatamente disso, sou um político na alma. eu gosto do poder e gosto de mulheres que conseguem me quebrar, conquistar o que querem de mim sem que eu precise me permitir. loucas, independentes, cruéis. todas essas coisas que pareço condenar mas, se no passado condenei, hoje o faço como prova de resistência.

todas as personagens da noite na pequena londres falharam nesse ponto sendo que, em algum momento, cogitaram e me contaram o movimento da vitória e eu, heart-shaped star, preso no coração do meu portador ou não, fiquei rindo empolgado. “será que ela vai ter coragem?”.
- a Primeira Vítima cogitou muito e até gastou dinheiro em algo que, se ela tivesse feito de fato, eu não seria capaz de desistir dela;
- a Moça da Carta de Amor passou por duas situações: a primeira foi algo que ela faria mas foi interrompida no meio do caminho, ela teve a opção de chutar o obstáculo e terminar mas preferiu não fazê-lo;
a segunda foi uma vez que ela tomou um banho de loja e veio me mostrar tudo o que tinha comprado. fiquei paralisado e falei umas coisas engraçadas para algumas das roupas e ela, percebendo isso, me disse que qualquer dia me seduziria com uma daquelas. ela nunca cumpriu isso;
- a Projeto de Skinner foi a história mais boba de todas as histórias, não teve nada mesmo;
- qualquer momento em que a Miss Bondade tivesse demonstrado um interesse direto, em especial quando teve a coragem de construir a nossa linguagem corporal, teria me deixado no chão. durante o período da Foránea ela demonstrou interesses indiretos de todos os tipos, captei todos, até meus pais e meu irmão captaram alguns, mas eu precisava de um interesse direto. não haveria o episódio vergonhoso da cadeira se ela, ao invés de tentar me levar ao limite no flerte, simplesmente tivesse me falado “estou interessada em você”;
- a Miss Maldade se envolveu no meu grupo de amigos sem ninguém sequer conhecer ela direito. se ela tivesse tomado mais um passinho (tão fácil!) e passado a freqüentar o meu grupo de amigos eu não teria o que fazer;
- a Olhos de Cristal veio me consolar no desfecho do episódio final da Miss Bondade, seria “safadeza” demais aproveitar o consolo para desferir um golpe fatal mas eu queria ter recebido esse golpe fatal, fiquei esperando esse golpe fatal, fui conduzindo a conversa para algo normal e ingênuo e ela continuou a empurrar a conversa para algo menos ingênuo mas desistiu. também ofereci a ela as válvulas e deixei ela mexer, ela mexeu mas não teve coragem de aproveitar os resultados;
- a Foránea tinha um movimento a fazer que a colocaria para fora do playground e ela sabia que tinha esse movimento, talvez até não tenha o feito por pena. bem, a pena também faz parte dos elementos do jogo de poder. ela não o fez;
outras personagens como Misticismo, Morenitchá e Heartbreaker Prototype não teriam chance porque já namoravam e eu sou louco, não adúltero. caso fosse adúltero eu teria me tornado propriedade da Rainha das Estrelas antes mesmo de conhecer qualquer noite na pequena londres e, hoje, seria homossexual e provavelmente prostituído.

montando esse quadro, algo que fiz só aí e só aí tive consciência de tudo o que estava acontecendo, eu era o menino que enganava as meninas com um rostinho ingênuo de criança enquanto mexia com elas e as deixava cheias de perguntas “está acontecendo algo aqui?”. e não aguentava mais ver mulheres esbravejando, liberando toda sua valentia, tanto na igreja quanto na internet (“feminismo”), quando elas não tinham coragem de ser tão valentes quanto um homem que precisa ter a coragem de prensar uma coisinha delicada na parede e falar “estou afim de você”. é fácil quando é um homem enorme grande e violento que parece carregado de maldade, mas não é tão fácil quando é um bichinho tão aparentemente inofensivo, quietinho no cantinho dele e fofinho.

qual a sua opinião sobre isso? acharia mirabolante, maluco e besta, exceto se você percebeu que só seria assim fora do contexto, dentro do meu contexto não é.

eu queria alguém que tivesse a coragem de abusar de mim.

 

Você leu um capítulo da série noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados

Você leu um capítulo da série noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v

escrito por nubobot42 narrado por heartshaped star