oh, não. soltaram nas minhas mãos uma história que não é minha para terminar ou que, talvez, era minha desde o princípio. tenho a impressão de que alguém de ouvidos muito sensíveis percebeu que, quando essa história nasceu, essa história estava nas mãos de alguém que não poderia contê-la muito bem. um narrador jovem, robótico, linear, tímido e contido.
se vieram aqui em busca desse narrador gostaria de iniciar a história deixando bem claro que ele morreu. que o desenho estava horrível, iniciante, amador. o desenho não estava levando em consideração nada do que era importante, ou quase nada.
recapitularei todos os personagens que apareceram até então e estabelecerei os graus de importância que o narrador anterior deu a cada um deles:
Primeira Vítima: máximo. teve um capítulo só pra ela que deu início a toda a história.
Moça da Carta de Amor: baixo. alguns parágrafos apenas. o narrador deixou claro que ela era um personagem muito forte e teve uma história forte para ela distante da noite na pequena londres, mas insisto que o grau de importância a ela dado foi baixo.
Miss Bondade: máximo. não vou explicar agora.
Namorada: médio. foi colocado pela história em si, mas não teve tanto valor quanto na história dA Garota Mais Legal Do Mundo.
A Garota Mais Legal Do Mundo: olha. teve uma história só pra ela, mas… baixo.
Miss Maldade: médio. embora tenha sido um personagem pelo qual todos vocês devem ter sentido muito carinho convenhamos que foi mais didático e dramático que sentimental de fato.
Olhos de Cristal: uau, encerrou muito bem o segundo capítulo. médio, vai.
Misticismo: médio, foi didático.
Heartbreaker Prototype: médio, se o alvo da história fosse o narrador e não seu amigo com certeza seria máximo mas não foi.
que ranking ridículo!
bem, a quem veio até mim pelos caminhos da noite na pequena londres e não das minhas estrelas cadentes eu vou me apresentar. meu nome é heart-shaped star, a estrela em forma de coração, um romântico incontrolável, uma enorme fantasia. uma verdadeira máquina de amor, inspirado no pai de todas as estrelas mas com as falhas de um pó estelar qualquer. você pode encontrar mais sobre mim em outras estrelas cadentes, em especial em um rock progressivo sobre ansiedade, mas garanto que sou um bom narrador e você não sentirá necessidade de me conhecer embora não garanta ser uma boa pessoa a qual você sentirá vontade de conhecer.
eu sou inconstante, crio histórias de amor todos os dias, vivo-as com a intensidade de quem está casado com filhos e as desmonto assim que as estrelas dos céus vão embora. eu sou um ótimo marido, mas um péssimo namorado e uma verdadeira tragédia como paquera. eu vou embora, eu definitivamente vou embora. eu vou deixar no seu peito a prova incontestável de que te amei, e também vou deixar tanta bagunça que você vai lutar contra a prova incontestável de que te amei. eu sou um heartbreaker hunter, eu também estou no alto escalão do clã dos heartbreakers, na subdivisão “chernobyl emocional”. eu sou uma bomba nuclear.
você deve estar rindo de mim ou incomodado com meu ego ou extremamente incomodado com como posso sentir orgulho de uma coisa tão horrível. ria de mim, não fique incomodado com meu ego, não acredite que sinto orgulho. isso, meu leitor, é um confessionário da minha força motriz emocional, não um confessionário dos meus atos e muito menos o que digo entre homens numa mesa de bar. aqui estou colocando quem posso ser, não quem sou. ser, ser mesmo, sou apenas um narrador.
eu e meu filho morto, o antigo narrador dessa história, temos algo em comum que expliquei em algum outro momento na sétima estrela cadente: nós somos espelhos refletores, tudo o que você sente de errado por nós não é realmente problema nosso, é problema seu. você perfura a nossa história com as brechas da sua própria mente e pode acreditar que fizemos coisas que, na verdade, quem fez foi você. pode acreditar que tivemos sentimentos que, na verdade, quem tem é você. pode acreditar que agimos por impulsos perversos que, na verdade, são todos seus.
pensar perversões eu já acho que é tudo meu mesmo, a minha mente não presta muito.
quer ver só? as estatísticas levantadas sobre os leitores dos capítulos da noite na pequena londres, em especial o segundo, indicam que mais de oitenta por cento dos leitores acreditaram que o narrador fez sexo com alguma personagem, mais de cinqüenta por cento dos leitores acreditaram que o narrador fez sexo com todas. o narrador é virgem. o narrador nunca mencionou que fez sexo com alguém. a cultura brasileira vê o sexo como a finalidade de uma conversa, julga ser natural fazer sexo com a empacotadora do supermercado se ela sorrir para você, então se você é contaminado por isso você completou os trechos ocultos dos três primeiros capítulos da noite na pequena londres com transas e amplificou efeitos da história que não deveria ter amplificado porque, fazendo isso, jamais conseguirá encontrar as verdadeiras raízes do problema do narrador. mulheres sobem nas paredes porque passam meses conversando com o narrador sem uma brecha para mandarem uma foto nua, expressarem seus desejos verdadeiros, fazerem sexo com ele, e elas querem muito tudo isso porque já esgotaram as possibilidades de entregar sentimentos falsos ou omissos em forma de palavras.
o antigo narrador era burro. eu não sou. eu nunca fui. eu sou virgem mas nunca vi a virgindade como uma prova da minha inocência. não sou inocente, não sou puro. a virgindade é só uma conveniência que um dia terei de largar. quero que seja da maneira mais certa possível mas tenho certeza que, feito da maneira errada, eu não vou sofrer um palitinho. a castidade não significa nada para um homem como eu, ela é uma prova de amor à mulher e ela é uma prova de amor que eu quero, muito, dar, porque não existe prova de amor que eu não queira dar a uma mulher. não significa que eu conheça todas ou que vá dar todas, só significa querer. nenhuma mulher merece todas as provas de amor que eu posso dar, ou será que merece?
oh oh! como fui longe em algo que precisa acontecer durante a história. eu estava falando de rankings, não é? deixarei meu ranking aqui, o que não reescreverá a história que já existe, mas pode te nortear melhor para o que será escrito daqui em diante:
Primeira Vítima: mínimo. tudo sobre a história da Primeira Vítima é mentira, ela não é a primeira, ela não é santinha e o narrador também não é tão bonzinho quanto se fez parecer. aliás, minto, ele é. o narrador é honesto, muito honesto, mas incapaz porque montou um quadro de um incapaz. mostrarei como se faz um quadro de uma pessoa capaz, sem medo de se rasgar por dentro, sem medo de mostrar quem realmente é, sem medo de exagerar a realidade para se encontrar no meio dela já que retraídos reduzem a realidade para que possam se encontrar além dela e ficarem felizes com seu resultado que aparenta não ser medíocre.
Moça da Carta de Amor: esse é o personagem mais importante da história até aparecer a Miss Bondade. poderia renomear esse personagem para Nobody Breaks My Heart Cause It’s Always Broken, mas seria um nome gigantesco, enquanto Always Broken seria um nome insensível e Nobody Breaks mentiroso.
Miss Bondade: esse é o personagem mais importante, não da vida do narrador e nem mesmo da minha constelação, mas da noite na pequena londres. esse personagem é, junto com sua equipe, diretamente responsável por todos os problemas pós-Moça da Carta de Amor do narrador. não viu isso quem tem problemas de relacionamento como o próprio narrador.
Namorada: importante. não pelo que foi percebido mas pelo que não foi percebido, pela falta de empatia do narrador que se manifestou não em egoísmo mas em percepção ingênua da realidade.
A Garota Mais Legal Do Mundo: importante, sempre importante.
Miss Maldade: completamente irrelevante.
Olhos de Cristal: médio, não vou explicar agora. é um personagem que quero desenvolver aqui.
Misticismo: AHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHA!!!
Heartbreaker Prototype: muito baixo.
como vê, meu leitor, tudo mudou. bem-vindo ao quarto capítulo da noite na pequena londres. acenda as luzes da cidade.