acho que me tornei muito mais sensível com o tempo. em algum período lá entre o final da minha adolescência e o início da juventude minha ignição foi meu instinto protetor, meu instinto salvador, isso caracterizou meus anseios e desesperos. isso caracterizou minhas noites sem sono, minhas preocupações contigo e comigo mesma. mas, com o tempo, com as formas se chocando e se remodelando, talvez mais corretamente, talvez só de novas maneiras mesmo, no meu coração, acho que adquiri uma preocupação um pouco maior com um cuidado que não tinha antes.
um cuidado passivo.
é estranho falar de sentimentos. é estranho falar dos meus sentimentos. é estranho porque sempre vejo você falar de eternidade, de coisas que duram para sempre, de buscar o que dura para sempre. e entendo o fogo em seus olhos quando diz isso, entendo que é real, entendo que não está falando qualquer coisa que soe bonito. entendo que está falando por paixão. mas, por algum motivo, eu me sinto bem com meus sentimentos sendo volúveis como são, voando dia após dia, não sabendo o que será do meu sentir amanhã.
eu posso arriscar falar de eternidade? posso? prometo que não vou falar mais do que sei falar. prometo que não vou fazer feio. prometo que não estou gastando folhas do seu caderno com notas sem significado nenhum. pisque pra mim se eu estiver falando bonito, sorria pra mim se eu estiver falando feio. por favor sorria. saberei que está feio mas me sentirei mais confortável apagando isso com um sorriso seu que com uma cara de desapontado.
é que a eternidade dos sentimentos parece ser a sua própria temporalidade. parece que a única coisa que nunca muda, sobre os sentimentos, é a percepção de que eles precisam durar só um determinado momento. eles precisam passar. eles querem passar. “querer passar” é o elo de ligação entre todos, absolutamente todos, os sentimentos. a felicidade quer passar, a tristeza quer passar, a angústia quer passar, a ansiedade quer passar, e por aí vai. quem quer que eles passem antes da hora, ou que não passem nunca, somos nós. mas quem somos nós? nós não mandamos nisso. nós não temos muito controle disso. o controle que temos é o de nos enganar, é o de criar uma imagem mental de felicidade e tentar impô-la ao coração, mas é algo tão plástico e sem gosto que só mesmo dopando o próprio tumtum para não perceber a diferença. e mesmo assim eu, quando faço isso, percebo. eu vivo bastante meu coração, prefiro enganar minha cabeça. sempre tem alguém pra salvar minha cabeça.
o sentir tem uma ligação quase concreta com o momento. você sente porque determinadas coisas, que percebe ou não, estão acontecendo. é importantíssimo notar que nós sentimos muito mais de acordo com as coisas que não percebemos que com as que percebemos, então tentar racionalizar isso sem uma imaginação que muitas vezes escapa do raio de ação material só vai resultar em decepção. os meninos mais doidinhos sempre sabem explicar o que está acontecendo melhor quando estão falando de sentimentos provenientes de motores eternos de sofrimento por essa razão, mas nós, nóóóóós!!!, num geral somos muuuuuuuuuito melhores nisso~~
mas por que entrei nisso? isso é chato pra caramba. me desculpe, por favor. você piscou pra mim várias vezes. você me odeia. e o mais engraçado é que nem sabe piscar, aí aquela coisa estranha que faz com o olho é o que entendo como “piscar”. vai ver você nem piscou.
é que eu precisei falar disso tudo. ou espalhar tudo isso nas cabecinhas de leitores hipotéticos porque vou obrigá-lo a transcrever tudo isso (aiai como eu amo mexer com a cabeça das pessoas~) pra puxar as cordinhas depois. é que, quando digo que me tornei uma menina mais cuidadosa e menos salvadora, estou falando que no fundo parece que minha sensibilidade foi se tornando mais poderosa conforme fui me tornando menos preocupada em realizar coisas a longo prazo. você sabe? um dia é um dia, outro dia é outro dia. eu não preciso me preocupar com o que será da sua alma daqui a um ano, dois, e se precisasse me preocupar estaria perdidíssima porque não tenho poder nenhum sobre isso.
lembra quando eu queria te salvar? lembra quando queria te ver sorrindo novamente? quantos anos isso durou? não estou dizendo que não valeu a pena lutar mas, olhando hoje, conhecendo nossas portas mentais e emocionais como as conheço hoje, penso que poderíamos resolver essas coisas com muito mais facilidade. mas penso também que conhecer nossas portas mentais e emocionais como conhecemos hoje é o que torna essas coisas resolvidas para nós hoje com facilidade.
vê? eu odeio falar disso. eu quero falar de quanto tempo sofri porque queria resolver grandes coisas, queria mudar os “para sempres”. e no final das contas os nossos “para sempres” mudaram porque nós pedimos, não porque agimos. absurdo, né?
o que minha sensibilidade transformada está causando em mim é eu andar vendo carências, inseguranças e incertezas de uma maneira bem mais dócil que antes. sei que tive que aprender a não te corrigir na marra, porque estava te prejudicando, mas com o tempo parece que passei por uma educação emocional que ressignificou toda essa minha vontade de correção. talvez eu não tenha o poder de corrigir, mas meu poder de influência é muito forte, eu percebi isso. eu percebi que, se eu ficar parada, você gira ao meu redor; mas toda vez que bato meu saltinho no chão você sai correndo.
eu confesso que ficava, e ainda fico às vezes pra falar a verdade, com muita raiva quando te espantava dessa forma. não faz nem sentido. por que uma demonstração de desejo te espanta? de amor? de vontade de cuidar, de apertar, essas coisas assim? isso é bom, não é? o que faz isso soar tão errado pra você? eu não sei. eu nunca vou saber. mas me peguei pensando esses dias por que acho tão importante entender o que faz isso soar errado pra você e descobri que estou equivocada. só soa, não tem nada que eu possa fazer, entender isso só vai me deixar com uma dó que eu não preciso ter. isso pode ser natural, ou talvez eu tenha partido seu coração em algum momento e não percebido. isso pode ser horrível. eu não quero saber. só está aí.
quero, sim, ser honesta comigo mesma. eu odeio isso. e vou fazer você se sentir mal às vezes porque quero você e sinto a necessidade de demonstrar isso. sei que já estamos juntos mas isso de “estamos juntos” só funciona de vez em quando, tem vez que é só uma mentira horrível de se apoiar, às vezes preciso te fisgar pra você lembrar que está comigo, e acho bom às vezes você me comprar sorvete e desenhar um coração nele com a colherzinha pra eu lembrar que estou contigo.
estamos juntos mas você ainda não se importa muito bem com meus desejos ou, mentira, se importa mas não consegue se aproximar tanto. mas que diferença faz? nos dois casos eu fico subindo pelas paredes. eu não vou ficar subindo pelas paredes não, isso é muito vergonhoso, separa aí uns dias do seu calendário pra suar frio enquanto eu te encurralo num canto e deixo minhas marcas em você. lá pra metade você esquece o medo. no outro dia eu conserto seus traumas, prometo que conserto.
mas, sabe, isso são certos momentos. outros momentos são muito mais simples. como disse, não preciso correr atrás de resolver as suas fragilidades. por que tanta pressa em momentos que não preciso dela? eu quero muita coisa. você não imagina o que tem na minha cabeça sobre você. é bem assustador, no fundo eu até entendo seu medo. mas, embora possa tranquilamente e até queira fazer isso todos os dias, todo momento, não é sempre que isso é uma exigência crucial. sempre que puder ceder por você, vou ceder.
é um privilégio estar aqui enquanto você se recupera. é um privilégio saber que você escolheu a mim pra te suportar enquanto você melhora. é triste eu não poder, todos os dias, colocar minhas mãos em você, te dar aqueles abraços de todos os jeitos mas às vezes eu posso, às vezes você deixa, e eu ando valorizando mais esses momentos ao invés de reclamar que eles são poucos. em especial por dois motivos: primeiro porque minhas anotações no diário estão ficando mais volumosas, o que significa que você está conseguindo mais em comparação com uns anos atrás; segundo porque eu ando aprendendo a saborear não só o momento, mas seu empenho em fazer esse momento acontecer, e sentir esse empenho me traz uma sensação inexplicável e única de que estou me conectando contigo, entendendo coisas da sua intimidade sem que você me explique nada.
eu sei que poderia fazer bem mais se você deixasse. é sério. eu posso ouvir qualquer coisa que você quiser me contar do seu dia, eu posso fazer sua auto-estima pousar na lua, eu posso me vestir da maneira que mais te deixa deslumbrado conforme você mesmo pede ao invés de ficar explorando seus gostos pelo que você curte no facebook e no instagram e deduzindo e sentindo toda vez que errei a mão. você não tem noção de como me parte o coração quando chega em casa horrível e aí deita em algum lugar, e eu não posso nem encostar, parece até que dá choque; eu tenho certeza que, se você me deixasse te abraçar e ficar fazendo cafuné e dando uns beijinhos bem leves, você melhoraria muito mais rápido. posso fazer até um bebê parar de chorar às vezes, imagina o que não poderia fazer com as vozes na sua cabeça? tenho certeza que poderia amansar todas elas, tenho certeza que envolvido nos meus braços você teria muito mais paz.
tenho certeza de tudo isso e muito mais, mas faz parte natural disso tudo chegar até o seu coração e tornar possível com o tempo. sempre que consegui você gostou, não gostou?
às vezes me sinto insegura pensando se é realmente pra mim. nas minhas piores crises de insegurança, como já devo ter dito antes, penso se alguém pode fazer melhor que eu. se alguém, no passado, já fez melhor que eu e pode voltar do nada chutando todas essas estruturas que estou sofrendo tanto pra montar e “mostrando como se faz”. seu passado é misterioso, elliot, coloque-se no lugar de uma pessoa que não convive contigo como eu: você nunca pareceu uma pessoa de ter se envolvido com outras pessoas, mas ao mesmo tempo seu conhecimento sobre elas é tão palpável (ao menos pra mim, mas eu sou tonta) que não parece apenas observado. ao mesmo tempo você parece ferido demais pra não se acreditar que alguém fez isso, é como se seu coração estivesse sempre partido, mas nunca viram alguém te partir.
eu, bem, eu conheço a história e a anatomia do seu coração. e sei a razão dela me deixar insegura. você desperta significado na vida das pessoas. a sua disposição natural de ser herói de qualquer alma danificada cria esses vínculos que você pode simplesmente corresponder e, dependendo de como está o meu humor, eu posso sentir que isso é tudo o que temos. mesmo que estejamos meia década juntos e que esteja provado por a+b que não é. e aí, se há um vínculo melhor que o meu por aí? e se há alguém de estrutura montada pra você? e se há alguém por aí nesse mundo para quem você deu uma chave do seu coração que eu não tenho e, só de usar, consegue acessar tudo?
ooooooooh! é de arrepiar!~ ainda bem que não estou insegura hoje, só vasculhando minhas palavras.
montar uma estrutura de conexão com o coração de uma pessoa difícil como você causa sim esse efeito estranho de sentir que estou correndo contra o tempo. de sentir que, se não fizer isso rápido, um dia tudo isso que temos juntos pode se desmanchar. e temos muita coisa juntos, ô se temos. esses cadernos todos aqui não nos deixam mentir. às vezes, quando você se fecha pra mim, sinto como se tivesse perdido tudo; sinto como se meu homem estivesse fugindo das minhas mãos pra sempre. eu posso me perder nisso muito facilmente.
mas você quer saber? tudo isso é mentira. eu posso não saber disso, mas sinto, do fundo do meu coração, que sou a pessoa que você procura pra compartilhar suas angústias quando quer compartilhá-las com alguém. que você se arrisca só comigo. que confia só em mim. sinto que, embora você esteja sempre aí conversando com várias pessoas sobre os problemas delas, tentando resolvê-los ou confortá-las, faço parte do grupo seletíssimo de pessoas cujos problemas tiram seu sono e doem como se fossem seus.
eu não sei se isso é bom ou ruim, angelical ou diabólico, mas ver você sofrendo por mim diminui a minha própria dor. bem, realmente, não vou nem explicar, tire sua conclusão. seja gentil.
eu sei que, enquanto comigo você simplesmente se retrai um pouquinho quando exagero um pouco contando meus desejos, outras pessoas geram uma reação de retaliação violentíssima. e isso também não deveria fazer eu me sentir bem, afinal homens todos cruéis mulheres tadinhas blablabla, mas faz. é o meu homem. nenhuma mulher é uma coitada flertando com meu homem.
eu sei que tudo isso significa alguma coisa.
eu me sinto muito honrada.
e eu fico feliz. fico muito feliz. por isso, diante de todos esses sinais, só me resta sentar ao seu lado e esperar.
você não precisa me contar seus problemas todos os dias mas, sempre que quiser, eu estarei aqui. e não precisa querer que eu alivie sua dor todos os dias mas, sempre que quiser, eu estarei aqui. sempre que estiver se sentindo só contando aquelas estrelas no telhado pode me chamar, eu não vejo graça nenhuma nisso, mas encosto a cabeça no seu peito e presto atenção nos seus batimentos cardíacos enquanto você o faz. você fica todo vermelho mas gosta, não pode me enganar, estou com o ouvido no lugar que conta toda a verdade sobre o que acontece de fato contigo quanto encosto em você. ao menos a verdade que quero ouvir, que importa pra mim.
não quero te salvar, quero participar da sua vida. não quero que encontre soluções em mim, quero que encontre força, esperança e suporte. quero ser seu templo, o único lugar seguro do mundo pra você errar e pedir perdão de joelhos e ser recebido com compaixão e não desprezo, a única pessoa do mundo que vai beijar seu rosto quando estiver salgado de lágrimas mesmo que essas lágrimas estejam aí por culpa sua.
e eu sei que, com o tempo, eu serei tudo isso. temos longos anos pela frente. você, seu jeito e seus problemas. eu, meu jeito e meus problemas. eu sei que, hoje, seus monstros te fazem correr muito. mas um dia você vai acordar sem isso.
nesse dia não se assuste se não conseguir se mover.
é só a minha teia. e só vai te prender pelo resto dos seus dias.