Série: heartshaped star - estrela cadente / melodia dissociativa

elliot e a estrela cadente v

21 de agosto de 2017

guerra espiritual: melodia dissociativa vi

 

atenção: o elliot é um personagem depressivo, complexo e que você pode julgar ter um grau de psicopatia bem alto se não compreendê-lo muito bem. antes de ler verifique no seu coração se isso não é algo que te afeta, não vai te deixar confuso, triste ou em casos mais extremos até mesmo destruir toda a sua consistência mental e suas percepções das pessoas e do mundo. eu não sei o que ele vai escrever mas isso pode acontecer. eu sei que pode acontecer porque já aconteceu. se você decidir ir contra meus avisos tendo esse perfil “afetável” é provável que, em algum momento, você comece a acreditar que ele é louco e talvez sinta um pouco de revolta: aceite essa crença, aceite essa revolta e vá embora. isso faz bem pra sua saúde mental.


oh, sim. terei de escrever novamente. bem, eu quero escrever dessa vez. quem seria capaz de me ler até o fim? não que eu escreva complicado, só escrevo coisas que variam do entediante ao terrível e depende do senhor se isso atacará seu saco ou seu estômago.

eu particularmente não gosto de escrever para os outros. não que muitos textos que estejam localizados aqui sejam “para os outros” mas se, no final das contas, eles foram publicados, é porque eles tiveram abertura o suficiente ao ponto do escritor acreditar que alguém, nesse vasto mundo, poderia ler. eu não sei se acredito que alguém, nesse vasto mundo, pode ler o que estou escrevendo, mas costumo escrever coisas que ninguém pode ler. não que sejam palavras proibidas. é só que se alguém ler não vai entender nada porque não é feito numa linguagem de comunicação entre várias pessoas, é feito na linguagem de comunicação entre eu e eu mesmo, eu e Deus, quando muito entre eu e a lisbeth. eu gosto da lisbeth porque ela se esforça pra entender o que estou falando. eu gosto da lisbeth porque ela sempre vai falhar. mas ela sempre tenta. ela vai morrer tentando.

tenho certeza que, se ela não tivesse o coração imaculado que tinha quando a conheci, ela não duraria dois meses. tenho certeza que se ela não tivesse colocado na cabeça dela que aceitaria qualquer coisa que viesse da minha intimidade, até que eu fosse um teatro humano na frente dos outros e escondesse cem por cento da minha personalidade, e não tivesse capacidade no próprio coração de suportar ver isso acontecendo, ela não duraria dois meses. tenho certeza que, se ela tivesse buracos na alma, ela morreria se chegasse ao terceiro mês, porque eu atiraria em todos eles pra me divertir.

talvez eu seja uma pessoa má. ela me diz que não. eu confio mais nela que em mim mesmo. não sei o que as pessoas lá fora pensam, como elas conseguem conviver. na minha cabeça eu sou a pior pessoa que já conheci.


ah, repito, mas numa linguagem mais clara porque pode ser que você não tenha entendido: pare de me ler se esse texto estiver mexendo contigo. eu nunca soube que minha maneira de pensar traz sofrimento, desespero, agonia, desesperança, mas traz. se você não tem o mínimo de resiliência para lidar comigo você pode simplesmente ir embora. e se você é aquele tipo de pessoa que gosta de colocar coisas ruins na cabeça quero que saiba que, em algum momento, vou colocar uma armadilha que vai sabotar sua mente e ela vai ruir e esquecer tudo o que leu. e só a sua mente vai fazer isso, a de qualquer outro leitor não vai. eu não estou aqui para satisfazer a auto-destruição mental de ninguém, nem para ser acusado de “destruidor de sanidades”. estou cumprindo meu dever de colocar em palavras o que fiz na quinta estrela cadente.


eu sou a pessoa mais solitária que conheço. talvez eu seja a própria definição de solidão:
- confiar com uma ponta de desconfiança;
- se colocar no lugar da pessoa não só para compreender o que ela está sentindo mas o que ela estaria tramando contra você se fosse uma pessoa má porque, afinal de contas, ela pode ser uma pessoa má ou só aprendeu a viver tramando contra as pessoas e ninguém conseguiu ensinar a ela o contrário;
- desmanchar símbolos sociais e dar suas próprias definições, às vezes até mais certeiras que a convenção social, por estar desconectado do “social” (mas às vezes fazer lambança com o que há de mais trivial, mesmo);
- calcular se tem energia o suficiente para sair de casa todos os dias e saber que ninguém nunca vai dar importância a isso. ninguém nunca vai dar importância à minha presença num lugar pelo “fator presença”, mais do que o gastar dinheiro, mais do que o gastar tempo. ninguém sabe quantos inimigos dentro de mim eu preciso vencer pra sair do meu quarto e nunca vai saber;
- ter perdido a sensibilidade ao se afastar das pessoas, afinal, já estou acostumado a pessoas irem embora da minha vida por quaisquer motivos que eu possa entender ou não. só não costumo usar isso como desculpa para prender pessoas, aquela chantagenzinha barata de “ai… todo mundo desiste de mim…”. vá em paz e deixe que eu lide com as consequências dentro de mim;
- ter perdido o medo de chorar, o medo de quebrar, o medo de ficar muito muito mal e me isolar de todas as pessoas e ninguém entender nada, interpretar da maneira que quiser e aí entrar no ciclo do afastamento;
- entre outros.
(eu gosto de listas)

eu não sei viver em grupo e nunca vou saber. eu cresci dentro de mim mesmo, não com o mundo. o mundo foi pra uma direção e eu fui pra outra e agora nós vivemos brigando. não existe lugar que não me faça me sentir perdido, exceto minha casa e um pouco mais ainda exceto meu quarto. não é que eu me sinta mal perto de outras pessoas, eu me sinto mal da quantidade de pensamentos que preciso frear quando estou perto de outras pessoas; não é que eu não goste de outras pessoas, eu não gosto muito de mim mesmo e portanto me sinto aquém de todos os que estão ao meu redor, e não gosto dessa sensação por isso quando percebo que está muito forte eu me afasto um pouquinho.

eu também possuo passatempos estranhos como mapear a linguagem e o espírito das pessoas e compreender o que elas estão falando em liberdade ou em escravidão. as pessoas não parecem ter capacidade de buscar e organizar as próprias palavras com originalidade, tudo o que elas dizem saiu de algum lugar, alguém ensina a elas uma palavra nova e elas a repetem pra todas as situações que pareçam apropriadas. alguém monta conjuntos de frases para elas repetirem em situações que pareçam apropriadas. alguém monta situações que parecem apropriadas. alguém monta cenários.

eu sou escravo de estar fora do cenário: quando entro num meio social eu não consigo ser eu mesmo. aceito me tornar um boneco ventríloquo e vou jogando o jogo de palavras das pessoas, me tornando o personagem que elas esperam que eu me torne até cansar de tudo isso e numa festa de aniversário qualquer acertar o bolo de chocolate com um chute giratório e arrebentar a mesa junto. foi numa situação dessas que acabei colocando a lisbeth na minha órbita pra sempre (eu realmente gosto dela então vou falar muito dela, e outra que no meu modo de ver as coisas todo homem precisa por obrigação acreditar que sua mulher é algo fascinante e surpreendente); foi quando, depois de chutar um bolo de aniversário e falar “é melhor pra todo mundo que eu nunca mais veja a cara de nenhum de vocês”, ela correu atrás de mim e no meio da rua me disse que nesse caso preferia viver o pior. depois eu descobri que ela odiava em segredo todas aquelas pessoas, só estava próxima delas porque queria estar perto de mim. ela é uma mulher estranha. talvez a gente se mereça.

mas veja, continuo sendo um escravo. quem montou meu cenário? eu mesmo, testando diversos personagens e absorvendo ou rejeitando cada parte deles que condizia com a minha realidade ou não. me confrontando por meses, fechado no meu quarto, descobri que tudo isso era irrelevante. todo o meu exterior é irrelevante. não tenho auto-estima e não me importo com ela, dizer “sou lindo” ou “sou horrível” é causal, todas as pessoas estão bonitas se estão alinhadas esteticamente com o propósito estético de Deus ao criá-las e estão feias se não estão e isso é uma verdade absoluta. eu sou capaz de fazer qualquer pessoa perceber sua beleza exterior sem precisar mentir pra isso, eu sou capaz de me persuadir que estou bonito e que estou feio sem ninguém poder desmontar isso. mas isso é irrelevante.
o que tenho também é irrelevante, tudo vai embora. a minha vida em si não parece muito relevante, um dia eu vou morrer e ninguém mais vai se importar com nada do que fiz. eu tenho um desejo secreto de fazer pessoas felizes e, para evitar conflitos com a minha visão mórbida de futuro onde eu eventualmente esperaria uma recompensa que talvez não viesse e talvez fosse traído e machucado e blablabla, decidi que faria tudo da maneira mais anônima e inapegável possível. não quero meu nome nos lugares, não quero que lembrem de mim. estou odiando escrever esse texto porque ele contradiz isso, porque tem aquela porcaria de “elliot” no título e se o elliot que conheço não for apenas um atirador distante e sim a pessoa boa que a lisbeth fracassa em descrever isso vai estragar tudo pra mim.


mas eu preciso dela descrevendo “a pessoa boa que eu sou”, ao menos em segredo. eu preciso do outro lado da balança. eu vivo de construir o melhor raciocínio do mundo e, então, invertê-lo e me entreter rabiscando todos os desenhos que ficam entre os dois extremos. eu sou capaz de desmanchar cada ato bom que faço com um falso motivo mesquinho por trás e alguém precisa me avisar que não é bem assim, eu dedico meu tempo a provar psicologica, filosofica e metafisicamente se possível que sou uma pessoa horrível. que ajo apenas por orgulho, por inveja, pra tentar compensar tudo o que já fiz e ainda farei de ruim, o que é uma besteira sem igual porque honestamente eu não me importo com ser uma pessoa ruim. minha religião não permite. isso só não pode corroer a minha motivação mas, quando estou sozinho, isso corrói.

até nós descobrirmos isso nós vivemos coisas muito assustadoras. revisitando minhas memórias, revisitando os lugares, revisitando minhas notas, fiquei bastante assustado com como sobrevivemos a tudo isso. eu nem lembro mais o que é viver daquela forma, só consigo lembrar que era um inferno e que me tornou resistente a qualquer pressão vindo de dentro de mim, mas ao que parece fui poupado de manter a memória emocional desses fatos. talvez não haja memória emocional, talvez tudo tenha ocorrido na minha cabeça mesmo, eu não enxergava meu coração naquela época. ter tentado tirar minha própria vida várias vezes por conta da minha mente me faz pensar como a minha mente é poderosa, como ela me convence do que quiser, cria o que quiser e se eu não estiver atento posso acabar caindo. a minha mente é minha grande inimiga, sobrou pro meu coração a tarefa de se manter puro. quando aprendi isso, depois de ter contaminado a lisbeth com todos os meus sentimentos de morte e ela ter desistido de ser violenta comigo porque sabia que o resultado seria trágico demais, com uma “pequena” forcinha do papai do céu, minha vida foi começando a ficar mais fácil.

meu coração é muito estável, alguém que o acusa de qualquer coisa está errado. tem uma carta que acho que foi tiago que escreveu no novo testamento da bíblia, que diz mais ou menos assim: “se sua mente já era o negócio é ir purificando o coração mesmo”. eu levo muito a sério essa carta, não espero muitos resultados mas torna minha vida suportável. não me entendam mal, não é que eu não acredite em resultados e não os queira, mas pensar neles me paralisa então deixo para outros setores do meu espírito e da minha alma se encarregarem disso.

o problema da mente auto-destrutiva é, sobretudo, que ela blinda a visão espiritual das coisas. se eu não conseguia enxergar meu próprio coração era porque minha mente queria me impedir, ela sabia que eu extrairia coisas valiosíssimas do meu coração, então precisava inventar corações falsos e me fazer prestar atenção neles ao invés de viver o meu próprio. eu sempre disse que o tempo não existe mas no meu interior sei que quem determina o ritmo dos acontecimentos é o coração, e sei que meus corações de mentira brincam com a minha existência fazendo o tempo passar conforme quero, “parece delírio mas eu controlo o tempo”. gosto de brincar com tempos falsos e, mesmo depois de me casar com a lisbeth, continuo brincando e rindo de pessoas se perdendo nas minhas batidas; com ela não tem mais graça, ela se perde de propósito exceto quando trago algo novo. não que isso não seja normal e esperado. ou vocês não sabiam que casamento sem o homem trazer algo novo de vez em quando e virar tudo de ponta-cabeça não funciona?

de qualquer forma, voltando ao assunto, eu não poderia ver meu coração. era engraçado porque minha mente colocava medo em mim, “você só tem sentimentos horríveis, é melhor se esconder deles”, mas toda vez que saio desse transe e vou para o meu coração encontro muitas coisas boas. estou velho demais pra cair nesse truque, meu coração também está mais velho e maduro e vai deixando a mente brincar até o momento em que diz “chega” e tudo isso acaba. entretanto isso é uma vontade legítima da minha mente, eu preciso satisfazer, então já cheguei ao ponto de agendar minhas crises de solidão e desespero absolutos. são coisas comuns da minha vida. eu não tenho nenhum anseio de viver sempre feliz, acho que ninguém com mais de dezoito anos deveria ter uma ilusão dessas. eu fui criado sabendo que a vida seria um pêndulo onde as circunstâncias num dia estariam favoráveis e noutro contrárias e portanto minha função seria a de construir um alicerce para sobreviver em ambas, não fui criado nem para a felicidade nem para a infelicidade mas na adolescência quis viver a felicidade absoluta, fracassei e nesse fracasso que se deu no início da juventude eu quis viver a infelicidade absoluta.

acho que peguei um pouco pesado na infelicidade absoluta.


a lisbeth estava certa em querer fazer uma “operação resgate” comigo. não que eu ache correto que pessoas tentem salvar pessoas, se esse é o seu impulso ao ficar afim de alguém acho muito provável que isso vá terminar em complicação e problema. antes dela descobrir a minha profundidade ela já gostava de mim, isso de salvar veio bem depois. foi essencial ter sido depois. ela não queria salvar alguém para ganhar direito de posse ou para ganhar créditos no relacionamento (e com isso não estou dizendo que essa é a intenção aparente, essa é a intenção oculta), ela estava disposta a passar por essa aventura mesmo que fosse algo que tomasse a nossa vida porque o resultado não importava, o importante era estar comigo, “me salvar” já era salvar parte dela mesma. tanto era que foi. nós dois nos transformamos com tudo o que passamos e terminamos juntos, aliás, nenhum de nós conseguiu pensar em desistir do outro. “desistir” era individual, desistir era eu não ter forças para pensar nela ao tentar tirar minha própria vida, desistir era ela não ter forças para acreditar que estava fazendo diferença na minha vida. desistir nunca foi eu olhar pra ela e pensar “é melhor você ir pro seu canto e eu ir pro meu”. é muito estranho, pra falar a verdade, porque eu não a enxergo como uma ajuda, eu a enxergo como parte de mim; às vezes ela está machucada e não pode me ajudar, só me atrapalhar, mas quando você quebra um braço você não pensa em tirar ele do seu corpo e sim em consertar o mais rápido possível.

eu não quero que ninguém ache isso muito romântico ou se apaixone por mim, muitos homens são assim, só não sabem se expressar. tem gente que explica isso pra sua esposa com uma caixa de bombom todo mês na falta das palavras e das metáforas. os homens são bem menos ruins do que parecem.

a depressão faz eu me conformar com alguns sistemas de verdades que são muito danosos pra mim. e não é que eu estou errado, afinal de contas os sistemas são de “verdades”. é que conviver com uma mulher maluca que não está e não precisa estar interessada nos meus sistemas e sim em desculpas e situações novas para beijar minha boca me obriga a inserir essas desculpas e situações dentro dos sistemas, e elas prejudicam todos os sistemas. eu preciso dar enormes voltas em busca de muita coisa para que eles voltem a fazer sentido e nesse caminho vou descobrindo tanta coisa que, quando termino a volta, já não tenho mais o mesmo sistema. já estou em outro. estando com ela eu aprendi a não me conformar com meus sistemas, mas muitos anos foram necessários para eu entender que isso era bom, não só porque eu era muito teimoso mas porque ela tentava entrar nesses sistemas ao invés de quebrá-los por fora e isso é basicamente se afogar comigo.

as leis do universo servem para te paralisar, te reduzir ao estado de animal submisso ao mundo e o mundo é depressivo. se quer saber: quanto mais você entende sobre “como as coisas funcionam” mais tonto e desmotivado você fica. absolutamente ninguém nasce gostando das leis do universo. a melhor coisa de ser humano é que a lei só tem serventia se você as ama a nível essencial, do contrário é melhor não segui-la a seguir com ódio porque esse ódio será mútuo, e vai doer muito ser odiado pelas leis universais porque elas estão dentro de você tanto quanto estão na pedra que cai por causa da gravidade. eu, por anos, odiei as leis universais da sexualidade por ter de lidar com consequências de mais de um episódio de exposição a cenas e conversas que, se fosse hoje, eu não gostaria de ter sido exposto, mas na época nem sabia o que estava acontecendo. não era culpa minha mas aconteceu e eu odeio que tenha acontecido, odiei as consequências, mas não pude fazer nada a respeito, ainda não posso e nunca poderei. a solução é não se importar com isso, mas ah, as leis universais são tãããããããão importantes!

que bobagem.


alguns desses parágrafos do bloco acima não significaram nada. eu só escrevi pra ver se você desiste de me ler.

mentira. eu me perdi.

mentira de novo. não importa a verdade por trás desse bloco acima.


disso tudo, é evidente que sou um guerreiro espiritual. nenhum espírito entra na minha casa sem minha permissão. eu sou responsável pelo progresso e regresso atemporal da minha vida e de todas as pessoas que decidiram se ligar a mim, como a própria lisbeth. a depressão não passa de mais um dos conjuntos de variáveis da minha mente, conjuntos de variáveis necessários para eu tomar decisões que mudarão o destino da minha vida e dessas pessoas para sempre. eu abro portas, eu fecho portas.

sinto o peso das decisões nos meus ombros e não tenho a opção de não sentir, não tenho a opção de não tomar a decisão, não tenho a opção de não analisar os conjuntos de variáveis. isso vai acontecer. isso é constante. se vai acontecer com um sorriso no rosto ou com lágrimas não importa, é irrelevante. depende do que estou decidindo, depende do dia, depende do meu humor. depende de todas essas coisas que, depois de tomada a decisão, não importam mais.

nas primeiras vezes que senti isso eu sofri muito sem saber o que estava acontecendo. ninguém me explicou que eu sentiria essas coisas, que era normal sentir. eu criei monstros muito complexos para explicar o sentimento por trás de decisões que alteram o curso das coisas na sua vida. eu quis decidir coisas que não precisava decidir para escapar de decisões que eu deveria, de fato, tomar. só que isso só piorou a situação porque as decisões fantasiosas não apagavam as verdadeiras embora parecessem apagar a princípio, apenas se anexavam a elas, então eu tinha mais problemas pra resolver e a opção de criar novas decisões fantasiosas ou ir resolvendo esse mar de mentiras até chegar na decisão verdadeira que eu tinha negligenciado e tomá-la.
quem aqui já foi viciado em entrar em relacionamentos para tapar buracos dos antigos e já notou que nos primeiros dias parece que funciona, mas logo depois esses buracos antigos voltam e se aliam a novos buracos que você acabou criando nesse novo relacionamento? o mecanismo das decisões reais e fantasiosas é idêntico. o vício em fugir da realidade, que constitui esse verbo nojento chamado “procrastinar” que só foi criado para brincar com um problema muito sério e paralisante. “procrastinar” é fugir do seu propósito, é um dos piores pecados que você pode cometer principalmente contra si mesmo.

mas, se isso existe, é porque tomar decisões verdadeiras não é fácil. a pressão não é fácil e eu vivo sob pressão. eu comecei a viver sob pressão no período que tanto eu quanto a lisbeth batizamos de “a tempestade”, a ter responsabilidades sérias, a ouvir pessoas dizendo “anda, se você não resolver esse problema em dez minutos a empresa vai perder duzentos mil reais no faturamento” no meu ouvido e sentando ao meu lado para me pressionar e torcer ao mesmo tempo e eu fingi que não dava importância pra isso. contava como se fosse brincadeira, “olha que legal a missão que eu tive, e os caras não vão nem me dar uma gorjetinha”, mas aquilo afetava minha estrutura psicológica de uma maneira muito profunda para o garotinho que eu era. eu não sabia lidar, eu não sabia como contar tudo isso para a lisbeth porque eu nem sabia que estava sentindo alguma coisa e nós não estávamos nos dando muito bem.

tem um episódio de neon genesis evangelion, um desenho de robôs gigantes que um monte de gente fala que é sobre um monte de coisa, que um anjo (robô gigante inimigo do desenho) vai destruir a cidade em x tempo e o shinji (personagem principal) está no robô gigante dele com um coleguinha de classe dentro, e consegue destruir o anjo no desespero dos últimos segundos, gritando sobrecarregado de todas as emoções horríveis da pressão que um menino da idade dele não poderia suportar. quando essa cena aconteceu eu tive que pausar o desenho e começar a chorar, chorar muito, porque foi a primeira vez que entrei em contato com os meus próprios sentimentos a respeito dessa pressão que vem de uma responsabilidade da qual você não teve a opção de fugir. isso é comum pra mim hoje em dia, eu sei lidar até mesmo com o fracasso e com “ver o mundo sendo destruído”, imagine então com a vitória? eu compro aquele sorvetão gostoso e tomo pra celebrar, converso com a lisbeth sobre tudo o que houve de bom e ruim e deixo ela fazer aquilo que só uma boa esposa sabe fazer e o problema está resolvido. colocar isso num texto só pode ajudar quem está começando porque pessoas experientes como eu vão rir socialmente dessas fraquezas caso você as manifeste, é assim que funciona o teatro do meio social, mas converse comigo longe dessa palhaçada que eu te conforto porque odeio o teatro do meio social. no fundo ninguém gosta. é um jogo de não-demonstre-sua-insegurança.

eu era uma pessoa com muitas dificuldades para entrar nos meus sentimentos verdadeiros, vivia criando sentimentos de mentira e me refugiando neles. a lisbeth tentava me trazer para os verdadeiros com uma agressividade que me fazia criar sentimentos de mentira para fugir dela também. ela não entendia muito bem o que havia dentro da minha cabeça, só sabia que havia um problema comigo. ela queria fazer alguma coisa mas não sabia nem o que.

e tudo isso é resultado de fugir das suas decisões. das suas responsabilidades. fugir de quem você é. guerra espiritual. qual é a sua verdadeira identidade, você sabe? você tem uma identidade? você sabe quem você é? você sabia que não há problema nenhum em criar personagens para lidar com o mundo? todas as pessoas criam personagens para lidar com o mundo, consciente ou inconscientemente, isso depende muito do grau de aceitação que elas têm com sua própria realidade. elas são pessoas diferentes em casa, no bar, na igreja, no trabalho, em cada cantinho da internet, naquele churrasco de final de ano da família que vem parente até do ceará, na roda de amigos; quando feliz, quando triste, com raiva, na tpm; o importante é você não se perder no meio dessas várias pessoas que você é, e para isso você precisará enraizar alguns valores em todas essas pessoas. o que estiver fora do raio de alcance desses valores pode variar. isso se chama “contexto”. por exemplo, um valor que enraizei nas minhas pessoas é que nenhuma delas tentará suicídio novamente e portanto nenhuma delas tentará suicídio novamente, mas nem por isso eu vou deixar de viver o elliot feliz e o elliot mórbido. a lisbeth tem mais trabalho com isso que eu e, como a lisbeth é a única mulher que importa pra mim, usarei isso para dizer que mulheres têm mais trabalho com isso que homens. a lisbeth tem uma mania estranha de manter “amizade” com gente que odeia que sempre me dá vontade de perguntar se era realmente necessário, vai ver pra ela o assunto importa mais do que a pessoa em si. eu não sei. eu não entendo ela. se duvidar ela faz isso só porque eu fico intrigado e ela gosta que eu fique intrigado com as coisas que ela faz.

eu sou um marido horrível.

por isso tomo muito cuidado com as pessoas de uma maneira que ela não entende muito bem, e muitas outras pessoas não entendem muito bem. a verdade, a sinceridade, são valores muito fortes pra mim. embora eu “não seja eu mesmo” nos cenários dos outros eu me dedico com muito afinco a eles antes de chutar o bolo de aniversário, dou o meu melhor para entendê-lo, para dar razão a ele, à sua existência, às suas justificativas de ser como é. o meu limite é entender que aquilo é um mar de falsidade, falso de ponta a ponta, falso em suas premissas e falso em seus resultados; é provável que, ao entrar nesse limite, as pessoas já estejam prontas para me expulsar assim que eu levanto a perna, porque os meios sociais possuem suas defesas contra pessoas como eu. eles montam armadilhas, preparam facadas nas costas, preparam o discurso público afirmando que você era um inimigo infiltrado, mas tudo o que aconteceu foi que achei falhas no sistema durante o debugging que não poderiam ser expostas e acabei expondo. ou às vezes nem cheguei a expor, só falei para o dono do sistema e ele, achando estranho eu estar mexendo naquele lugar, montou a armadilha preventiva e acabei caindo.

e, das experiências contínuas que tive com isso, aprendi que é muito difícil descobrir quais valores estão enraizados nas outras pessoas. e dói se enganar, machuca a alma, se me refugiava em sentimentos de mentira nos piores tempos e dei tanto trabalho pra lisbeth foi porque minha alma estava toda perfurada por essas situações que vêm desde a infância. desde a infância acreditei estar vivendo num cenário bonito para descobrir, depois de uma facada, que era tudo mentira. e a culpa não é de ninguém além de mim mesmo: lembre-se das leis universais.

por isso a minha ferramenta de desmanchar símbolos sociais é tão importante pra mim, eu gosto de despir as pessoas do meio social e descobrir quem elas são entre quatro paredes sem que elas sequer percebam que estou fazendo isso por não saberem quais símbolos manipulei para chegar até lá, não por prazer, mas para não me surpreender quando ela se revelar o contrário do que eu imaginava. não só isso, porque eu sei me proteger muito bem, como eu tenho que proteger a lisbeth disso porque ela não sabe se proteger muito bem. nem dela mesma.
quer dizer, ela ainda é a pessoa que permaneceu por anos no meio de um monte de gente que detestava pra ficar perto de mim. já eu gostava desse pessoal antes de descobrir que as pessoas mais inesperadas daquele grupo faziam de tudo para nos manter afastados, porque um queria namorar ela e outra queria me namorar, e unidos eles conseguiriam nos tornar inimigos um do outro, o que seria essencial porque era muito evidente que nós nos gostávamos e isso precisava ser destruído. se eu soubesse disso eu provavelmente teria saído na porrada com o moleque antes mesmo dele me explicar, e nunca teria me aberto com essa menina como fiz dias antes dessa descoberta.

mas ao menos rendeu uma história muito legal! uma das lembranças mais bonitas que tenho é de quando brigamos por conta disso e ela falou “nunca mais vou falar contigo na minha vida”, e dias depois ela me viu chorando em algum canto por uma situação qualquer, foi lá me confortar e me disse “acho que não consigo nunca mais falar contigo na minha vida, mas eu quase nunca mais vou falar contigo na minha vida”. lembro que, antes disso, em algum momento eu interrompi as lágrimas para olhar pra frente e lá estava ela. eu estava começando a descobrir que não fazia a menor idéia de quem ela era, e antes dela vir ela me disse com os olhos “se eu vou cuidar de você é porque você é minha posse”. bem, eu já sabia que a lisbeth era uma mulher possessiva, já sabia que quando ela botasse as mãos em mim ela não me deixaria escapar.


eu honestamente não sei onde quis chegar com tudo isso. você, que leu, achou que fez sentido? foi uma aventura muito estranha passear pela minha cabeça, não foi? mas eu não passo de uma pessoa tonta e boba como qualquer outra. a minha maneira de ver a realidade talvez sequer seja peculiar, as minhas palavras são e eu não tenho muito medo de contar o que se passa na minha mente e no meu coração, então o conteúdo pode parecer muito mais carregado que o normal.

mas é isso, apenas um ser humano normal como qualquer outro. às vezes em paz, às vezes em guerra. talvez um pouco solitário demais, mas quem nesse mundo não é demais em algo? eu também sou insuportavelmente lindo.

ops, já contei que minha auto-estima é biônica.

talvez esse texto todo seja.

tomara que eu nunca mais escreva outro.

Você leu um capítulo da série heartshaped star - estrela cadente

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escrito por nubobot42 narrado por elliot