nós nunca aprendemos. se tem uma coisa que nem mesmo me entristece mais, é que nós nunca aprendemos. por quantos anos estivemos juntos? ainda assim a força do tempo me arrasta para as cavernas mais escuras e assombrosas da ansiedade. da raiva, da solidão.

eu não gosto de tudo o que tenho de você em minha cabeça. não ao mesmo tempo. parece um vulcão prestes a explodir. eu te odeio tanto quanto te amo às vezes. toda vez que você não me corresponde eu te odeio, toda vez que passo dos limites e te assusto eu te odeio. realmente parece que perdi as contas de quantos anos faz que estamos juntos e você não se acostuma nunca. eu te odeio.
você sabe? é um gesto de amor te compreender e te respeitar quando você está assustado, mas é um gesto custoso, e estou apagando a cada vez que tenho de fazê-lo. não precisa se preocupar! eu sempre me recupero, e aí me restauro, e aí começo tudo de novo dia após dia. eu nunca vou dizer “chega”, já que te amo, já que escolhemos passar juntos o resto dos nossos dias. aqui, nesse silêncio, que é tão gostoso quando você está comigo, mas é tão deprimente e deformador quando estamos distantes.
às vezes tenho medo de você ter me aceitado, me acolhido, só porque eu era uma louca desesperada doente de paixões por você e você simplesmente não soube como se defender de mim. eu morro de medo de, um dia, você me dizer “nossa história terminou”. odeio me sentir um estorvo, nunca consigo resolver um problema seu, mas trago vários e fico tomando seu tempo. e você me diz que não tem problema! que ódio de você! que vontade de te esganar! você nunca sabe como eu me sinto. nunca

nunca

e aí você sorri pra mim e me destrói completamente. por que esse sorriso? não está tudo bem! eu estou sangrando aqui, não me enterra de uma vez com esse sorriso, seu desgraçado! por que o seu tom de voz está sempre calmo?! por que você não briga comigo?! não consegue ver? eu fiz algo de errado!
me dê motivos pra eu lembrar que você é um homem como qualquer outro e me ofenda! se defenda! eu não sei, você dinamita meu coração sendo assim, é porque você me ama ou porque não se importa ao ponto dos meus erros serem insignificantes pra você? por que? por que?!

por que?!

você
nunca
me conta o motivo. nunca! nunca! nunca!!! e sabe o que é pior?! eu não sei se é porque tem medo de se expor, ou porque não se importa, ou porque tem medo de me machucar. você é muito calculista, parece nunca sentir nada, parece debochar de tudo o que faço e levo a sério do fundo do meu coração. eu tenho medo de você falar mal de mim pros seus amigos, às vezes você me olha tão do alto de uma torre que me sinto um nada, como se fosse seu mero objeto de estudo, seu ratinho de laboratório.
e aí você expõe os resultados pros seus amiguinhos cientistas e ficam lá, debatendo, “como a lis é burra. não sabe o que tá fazendo. tem um gosto horrível. tem uma noção horrível das coisas”.

vocês homens são todos nojentos. não conseguem ver nada com bons olhos, eu odeio vocês! eu queria não sentir nada por vocês, queria não ter dívida nenhuma com vocês, queria não ter desejo nenhum. queria não ter nada a oferecer a ninguém. queria não ter essa vontade descontrolada de cuidar de alguém, só pra ser julgada assim que a satisfaço. ninguém nunca me agradeceu por ser generosa e, se agradeceu na minha cara, debochou de mim pelas costas. é isso o que todos vocês fazem. se são tão bons e puros assim, por que não nos rejeitam? por que nos querem?! ou pra vocês isso nem importa mais, homens não precisam mais dessa vergonha na cara? porque pra mim importa! pra mim precisa!

odeio entrar nos meus pensamentos, está cheio de coisas horríveis e sujas. odeio pensar em você. me deixa insegura, triste comigo mesma. eu me imagino fazendo coisas contigo que te dariam muito nojo, e não sei o que fazer com isso. outra pessoa não serve, não encaixa. tem que ser você.
é, eu já pensei em outras pessoas, me perdoe.
eu sei que significa muito pra você o que eu penso, só que eu ignoro todos os dias pra não fazer besteira, principalmente contigo. não era pra ser importante, mas parece que, pra você, tudo o que está aqui dentro é real. não sei me defender dessa acusação, sei lá, eu não presto, tá bom, faz o que quiser com esse fato.
juro que queria que meus pensamentos não fossem esse incêndio incontrolável, mas eles são. então queria que você entendesse que o que sinto é na medida certa pra você, meu coração está polido todos os dias pra você. meu corpo está lindo, eu conferi por quatro horas no espelho hoje que está, que não deixei nada sobrando, e fora eu mesma só você pode vê-lo e tocá-lo. mas você não entende isso também.

é tão difícil! você é muito complicado. mas atestar isso não me deixa com mais raiva, me dá um pouco de vontade de sorrir, ou mesmo de rir. será que imaginei no passado estar com alguém como você? dizem que nós somos complicadas, mas é porque só eu deito com um homem que acorda no meio da madrugada pra subir no telhado de casa e contar estrelas, os ditados populares não conhecem esse homem. os ditados impopulares talvez conheçam, mas eles são impopulares, nunca vão colar.
pensar em como você é complicado me faz sorrir. eu lembro que, por mais que fique imaginando mil e uma coisas, o que você pensa é a coisa mil e dois que me escapou. brincar de adivinha com você é uma delícia, sempre que perco eu lembro que você é um fofo, sempre que ganho você fica tão feliz que me paga um sorvete. mas mesmo isso me deixa insegura às vezes.

você se sente tão bem quando eu te compreendo, quando não duvido de suas intenções, quando te acompanho nas suas fantasias! existe alguma menina melhor que eu nisso? será que existe alguém por aí que pode te roubar de mim dessa forma? ou é disso que se trata quando falam que fomos feitos um pro outro?
queria ser firme como você, quando diz com aquela convicção nos olhos que eu jamais vou conhecer outro homem como você, eu não sei se isso vem da sua personalidade ou imponência ou se é uma realidade tão clara pra você que não consegue rejeitá-la com crises de auto-estima.
só que não sou, eu não consigo acreditar que não existem motivos pra você desistir de mim. tem dias que só consigo me esconder, eu quero me enterrar em algum lugar pra você não ver o que estou fazendo com a minha vida. é, eu deveria estar cuidando mais da minha saúde e não deveria ter gastado nosso dinheiro em filme romântico na guerra e todas aquelas tragédias que me fazem chorar e todos os beijinhos e todos aqueles atores gatinhos (desculpa!) e todas aquelas roupas maravilhosas que eu morro de vontade de achar um contexto pra vestir. eu não deveria perder tanto tempo assistindo essas coisas idiotas no youtube, nem procurando sarna pra me coçar no facebook.
uma pessoa como eu não é a melhor pessoa do mundo pra você. não posso ser. está tudo errado, eu faço tudo errado. por que você me escolheu? por que me aceitou? fico pensando, e pensando, e pensando. às vezes você se enganou. o que melhorou na sua vida quando eu entrei?

eu quero chorar e ninguém vai me impedir.

não, você abrindo a porta agora não vai. também não adianta vir e me falar que teve que ficar até mais tarde no trabalho. e o seu pote de sorvete… não, por favor, ele não vai adiantar. por favor não me beija. por favor, não me diz que estava morrendo de saudade, que depois do horário não estava mais rendendo porque não parava de pensar em mim. não… não me diz que esperou o dia todo pra me ver… não com esses olhos, não com esse sorriso, não me faz acreditar. eu não quero acreditar. cala a boca! não diz que eu sou o amor da sua vida, não, para de mentir, eu não vou acreditar. nem com… esses olhos…

nem eles…

eu te odeio, elliot.
e eu também te amo. você é o amor da minha vida.