Série: noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados / noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v

v-xii. Foránea (Deus de companhia i)

12 de maio de 2018

noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v
anatomia da alma frágil: mapa geográfico da corrupção e perversão humana [ou: heartshaped star — heartshaped star]

a Foránea, a essa altura, era uma amiga muito próxima. ela estava tendo sua própria crise depressiva então tive de arranjar forças para me importar com ela ao invés de preocupá-la com meus próprios problemas. não me entenda errado, ouvinte: é muito mais fácil pra mim arranjar forças para me importar com os outros que para contar aos outros o meu próprio sofrimento, não estava sendo altruísta, estava sendo fraco. ela tinha muitos problemas, nós começamos a conversar de fato todos os dias porque ela estava tendo comportamentos extremamente bulímicos e recorreu a mim (Primeira Vítima), contei a história da reunião só a ela e ela riu, nós passamos a compartilhar os nossos cotidianos, incentivei-a a voltar a freqüentar uma igreja e ela depois de muito tempo me ouviu e foi então senti como se estivesse sendo sua companhia enquanto ela se levantava.

essa história é estranha porque, a princípio, não era carência. estava seguindo ordens, observava seus truquezinhos e seus flertes e ficava pensando “Deus, eu sou mesmo obrigado?”, mostrava à minha mãe e ela só olhava e não entendia por que ainda mantinha aquelas conversas, ela sabia que eu não seria tão resistente pra sempre. eu, bem, não estava sendo resistente também, não queria ser resistente, só não conseguia sair disso.

todo mundo ficava curioso com o fato de eu passar tanto tempo no celular trocando mensagem, eu não tinha tanto esse costume, nunca gostei de whatsapp e permaneço não gostando. a Primeira Vítima foi um sacrifício pra mim. a Miss Bondade ficava interessada e incomodada ao mesmo tempo, ela estava sempre observando e às vezes ela pegava da minha mão e começava a mexer na tela, o que me deixava meio tenso porque ela nunca teve esse tipo de intimidade comigo e ela era uma pessoa tímida, isso… significava muito pra ela. não que fosse suficiente pra mim, a Foránea tinha me doutrinado completamente contra a Miss, já aceitava a realidade de que se ela de fato estava interessada em mim ela deveria me falar e ela, obviamente, não falaria nada. ela morreria sem falar.

mais engraçado ainda: sabia que isso tinha acontecido, sabia que essa era a intenção subjetiva das conversas que tinha com a Foránea a respeito da Miss, conseguia sentir o ciúme esquentando meu celular mas tudo era dito em um tom passivo que escondia essa imperatividade sobre qual deveria ser meu gosto para meninas, como eu deveria me comportar a respeito das meninas e o que significava as atitudes delas comigo. não estou dizendo que não era sincero da parte da Foránea, estou dizendo que tinha esse efeito e que duvido muito que uma moça experiente como ela não sabia que esse efeito existia. e também não estou sendo esse homem soberbo que você deve estar acreditando que fui pensando que não iria cair na conversa dela, eu sabia que ouvir aquilo o suficiente moldaria a minha mente a aceitar tudo mesmo sabendo que estava acontecendo. eu sabia que me importar demais emocionalmente com ela me faria desobedecer minhas próprias convicções para satisfazer os desejos dela. eu vivi essa história e essa foi a história que me aprisionou no passado, o nome dessa história é Carinha de Anjo. ela é a menina que mais odiei na minha vida mas, a esse ponto, já tinha a perdoado. ela é uma moça casada e com filho e quando saímos qualquer dia desses junto com meu ensino médio não senti nada por ela e senti raiva de mim mesmo porque ela nem era tão gatinha assim pra ter feito tanto estrago.

foi por isso que, tantas vezes, me reuni com Deus na igreja e perguntei a ele “por que?”, como se estivesse carregando um peso enorme e eu de fato estava. não, a Foránea não era o peso enorme, os meus monstros do passado projetados nela eram. a bruxa cruel do salto dourado era. não sabia no que essa história daria, nós já estávamos amigos demais e ela ainda não tinha terminado com o namorado, só “estava para terminar”, ficou um mês no “estava para terminar”. foi a partir da fase do “estava para terminar” que eu caí e, em algum momento por ali, arranjei um escape para expressar com honestidade que estava tudo errado e que deveríamos parar de nos falar até as situações ficarem certas. foi uma conversa horrível. um dia depois voltamos a nos falar, “não conseguimos parar”, mas botei um limite e seguimos fielmente esse limite.

essa foi a única amizade tão profunda quanto a da Moça da Carta de Amor, mas a Moça da Carta de Amor me conheceu numa história sobre depressão e suicídio, a Foránea me conheceu numa história sobre maldade. a Foránea teve um fardo muito mais pesado e uma queda muito mais cruel. contei e ensinei a ela uma infinidade de coisas, ela não sabia muito bem lidar com a carência das pessoas porque se via como uma pessoa super-suja, cheia de desejos horríveis. ela tinha um hábito estranho de acreditar que só ela tinha problemas, que fazia parte de um alçapão da humanidade onde estavam as pessoas problemáticas e ao redor dela estavam as pessoas normais com seus relacionamentos normais e suas vidas boas, e isso como toda crise de auto-estima tinha uma conseqüência horrível para o mundo ao seu redor porque ela se sentia no direito de ser egoísta com todos já que era tão insignificante. ela fazia um estrago gigantesco na ansiedade das pessoas, em especial nas dos seus rapazes, sem perceber ou sem querer perceber ou sem querer assumir que percebia seu potencial.

ela era, exatamente, como eu. e eu sabia disso. sempre disse que “sabia tudo o que se passava na cabeça dela” e levou meses para ela começar a entender que não era brincadeira, ela começou a entender que eu era estranho quando fui mostrando minha completa incapacidade de perceber seus gestos de carinho por mim e que, quando percebia, ficava assustado esperando vir alguma crueldade depois. nunca fui capaz de sentir o afeto de ninguém, minhas barreiras eram fortes o suficiente para que eu sempre acreditasse que era troca de favores, sempre vi o mundo como uma troca de favores desde que fui corrompido na infância e sempre o odiei porque não queria trocar favores, eu tinha um coração, amava as pessoas e esse era um dos grandes motivos pelos quais rejeitava retribuição emocional.

num evento para solteiros da minha igreja consegui fazer um desastre pior que a Miss Maldade, mas esse foi imediato, não prolongado: escrevi uma carta para uma moça que parecia tímida na minha mesa, era só uma sugestão de que ela não deveria ficar tímida porque estava agradando, mas me senti incomodado ao escrever aquilo e senti que não deveria mandar. não, melhor dizer tudo: ouvi, de Deus, que não era para mandar. contra tudo isso eu mandei. todo mundo ficou abalado com a minha ousadia. minto de novo, eu fiquei abalado com a minha ousadia, isso era algo que os outros já esperavam de mim porque eu era um gatinho seguro paquerador cheio de mim, essa era a impressão que a igreja tinha de mim. a minha visão distorcida, depressiva, não era real. os três primeiros capítulos da noite na pequena londres eram uma sátira dos acontecimentos porque, lá no fundo, o antigo narrador ainda acreditava que ninguém tinha se interessado por ele, mas a noite na pequena londres era real e até modesta, o narrador era de fato um destruidor de corações, filho dos céus estrelados, e absolutamente todas as meninas da história se interessaram de fato por ele. você consegue entender o meu grau de deturpação da realidade, ouvinte? consegue perceber como a minha auto-estima era distorcida, consegue imaginar? você não consegue. não estamos dizendo “só” de alguém que se acha feio sem ser, estamos dizendo que uma das pessoas que as meninas sempre perguntavam a respeito numa igreja com mil jovens se achava desinteressante. eu era uma pessoa e enxergava em mim mesmo outra, completamente diferente. não sei como sabia escrever meu nome ao invés do nome de um impostor.

nesse evento conversei com a Olhos de Cristal, ela flertou comigo e correspondi ao flerte sem querer. estou descobrindo isso nesse exato momento. ela estava muito interessada em saber se eu ainda lembrava dos nossos assuntos, acabei respondendo que não, mas o assunto se prolongou e contei a ela que ela era uma menina difícil e exigente porque os rapazes teriam de ser assim, assim e assim para que eles fossem compatíveis, que poucos ali eram capazes de cuidar dela e ela ficou surpresa, “uau, você sabe mais de mim do que eu mesma”. “acho que você é capaz de cuidar de mim”. ela estava interessada nas minhas novelas, “você ainda está escrevendo? terminou aquela, do galinha?”, ela estava interessada na minha vida, mas eu… já estava interessado numa Foránea, sem namorado, ambos apegadíssimos às carências um do outro, que me mandava mensagens inclusive durante o evento.

queria concluir a Olhos de Cristal, seria muito legal concluir aqui. mas temos mais uma história.

a Miss Bondade, no entanto, ficou chateada com a carta. dei carona a ela naquele dia, o dia em que revelei que a pessoa do celular era de fato “alguém”. ela ficou revoltada comigo, brava de um jeito que nunca tinha visto em todos aqueles anos, primeiro porque começou a acreditar que eu “brincava com o coração” das meninas como o irmão dela fazia, segundo porque… bem, pobre Miss Bondade.

vou levar o nome “Miss Bondade”, mas a essa altura ela já não era mais uma Miss Bondade pra mim. ela não era uma santa, não era boazinha, embora ainda fingisse isso enquanto eu estava por perto. ela era uma menina astutíssima que gostava de homens mais velhos, que suplicava e se arrastava por homens mais velhos, e que se aproveitava do seu conhecimento de bacharel em corpo humano para flertar com uma linguagem corporal pesadíssima comigo de uma maneira que tive que me afastar. uma mulher tinha acabado de mostrar os seios pra mim numa reunião, já não duvidava de mais nada vindo do sexo feminino. ela era uma menina tão mascarada quanto eu, com a diferença de que eu fazia isso para me proteger dos outros e ela, concluí, fazia isso para atrair os outros. para Deus, os dois são iguais. para mim, como pessoa, no meu estilo de vida, ela é repugnante e eu não. estou errado mas não sou perfeito. nós em hipótese alguma deveríamos ficar juntos, eu ainda não sabia disso.

nesse momento senti que, finalmente, após todos esses anos, tinha cumprido a tarefa de partir o coração da Miss Bondade. num contexto totalmente inesperado. nunca em minha vida imaginei que seria dessa forma e, aliás, não imaginava que partiria o coração da Miss Bondade, da menina que me manteve cativo mental por mais de um ano. mas aconteceu.

a Foránea não ficou tão brava comigo assim, mas também teve sua cota de raiva. provavelmente guardou muito para agir com tolerância, ela tinha muito mais motivos para ficar irada que a Miss, ainda assim preferiu me dar uma lição de moral e combinar comigo que eu nunca mais faria aquilo. entendi e concordei, um cãozinho arrependido com o rabinho entre as pernas, e tudo ficou bem. essa tolerância me marcou bastante, pensei que uma pessoa que não fosse capaz disso não seria capaz de lidar comigo porque essa não seria a única vez que eu faria uma besteira dessas, caio em qualquer situação exceto a que caracteriza de fato “pegar alguém” e já não é mais necessário explicar o motivo. e, por ser uma pessoa honesta nesse sentido, gosto de ser repreendido com amor, gosto de aprender a maneira certa, a minha vida é muito sofrida por não saber a maneira certa de lidar com essas situações mesmo que não faça sentido alguém ser tão errado sem querer. não me senti constrangido nem envergonhado, foi a situação onde mais me senti confortável e amado em todo esse capítulo.

tem um episódio secreto que veio logo depois e não vou contar, fica para os bastidores. aliás, a noite na pequena londres em si é uma história cheia de bastidores e, se a princípio era por medo e desconhecimento da realidade do antigo narrador, eu como narrador tenho um compromisso com verdades emocionais mas não com as pontuais. não tenho obrigação, nem vontade, talvez sequer direito, de contar como era confortar a Primeira Vítima durante suas crises de bulimia e como eram essas crises. não tenho obrigação de contar sobre os desertos no coração da Moça da Carta de Amor e como passamos por alguns deles juntos. não tenho obrigação de contar os impulsos de auto-estima monstruosos que dei à Miss Bondade embora possa dizer que, se um dia ela tocou em público com uma banda, fiz parte ao olhar em seus olhos durante seu período de indecisão e dizer “você consegue. você é ótima. vá ensaiar a partir de hoje”. e poderia dizer algo assim sobre cada uma dessas personagens. e a Foránea, ah, a Foránea, não tenho obrigação, nem vontade, nem direito de dizer tudo o que ela passou e compartilhou comigo, porque ela passou e ela compartilhou comigo.

o que posso dizer, então, sobre esse momento, é que num período de passar por tantas coisas que estavam a mudando para sempre, ela levou um tempo para compartilhar mas compartilhou algo que a mudou, definitivamente, para sempre. não sei se ela percebeu o quanto aquilo a mudou pra sempre porque levou muito tempo para me contar que aquilo tinha a destruído por dentro, e foi num contexto que não era para falar sobre “isso”, era para falar sobre nós. isso mudou sua opinião sobre tudo, seu olhar sobre tudo, até mesmo potencializou um hobby totalmente relacionado a esse acontecimento. conheci uma menina experiente e vivida mas totalmente perdida, imatura que achava justo criar versões falsas de si e apresentar aos outros apenas para se satisfazer (sei disso porque botei todas as minhas versões para conversar com as versões dela, sobraram algumas minhas, provavelmente sobraram algumas dela também. esse foi o relacionamento mais mentalmente falso que já tive mas, por isso mesmo, um dos mais sinceros. não estava tentando nada, fiquei porque quis) e, naquele momento, o choque desse fato criou uma mulher.

esse acontecimento foi o que mais me deixou em crise, “será que era aquilo mesmo que deveria fazer? deveria continuar? por que essa história não encerra?”. também foi um período de muita dor espiritual em mim. Deus tinha acabado de me obrigar (e por “obrigar”, não estou dizendo que ele controlou meu corpo para ir lá e fazer isso. estou dizendo que ele disse “eu quero. eu definitivamente quero. se você fugir disso você não é mais meu filho”) a receber uma oração profética de que seria um carregador de fardos das pessoas, de que choraria por pessoas que nunca conheci e oraria por elas para tirar a agonia do meu coração. eu não queria receber essa oração, não queria carregar o fardo de ninguém, quando ouvi que haveria uma oração sobre isso pensei “coitadas das pessoas que vão receber essa oração. deve ser difícil, deve ser horrível, eu nunca faria isso”.

recebi essa oração e não senti nada mudar na minha vida. então Deus me explicou: “você não recebeu essa oração pra se transformar num carregador de fardos, você já é um carregador de fardos desde que nasceu. só queria uma situação espiritual formal para te batizar nesse dom”. mais uma vez, como narrador, tenho que explicar que é óbvio ao ouvinte que sempre carreguei fardos e sempre fui uma pessoa muito pesada, mas desgrude desse contador de histórias e entre na linha do tempo, no star daquela noite: não sabia que era um carregador de fardos por natureza até então, não sabia que os fardos das pessoas me machucavam e que precisava de proteção emocional e espiritual, quando Deus me despertou para isso o mundo das pessoas que carreguei durante a minha vida caiu sobre mim e entendi um pouco melhor de quem eu era e chorei.

chorei, chorei. chorei muito.

e chorei, também, porque tive a imagem clara do meu fardo e percebi que a Foránea estava presa ali naquele quadro. não sabia se ela poderia ser minha mulher mas ficou óbvio que, naquele momento, ela não era.

nós tivemos essa conversa por parte dela também, não me recordo se uma noite antes disso ou exatamente nessa noite, onde ela tinha caído em si, compreendido a devastação emocional que a situação tinha causado nela, compreendido que eu tinha sido um pai pra ela e a apoiado em todas as situações, mas deveria deixar de tratá-la como uma filha para tratá-la… como eu acreditava que deveria tratá-la, um amigo, um namorado, o que fosse (acho que, aí, já era “namorado”).

na mesma semana, não lembro se no dia seguinte, tivemos uma conversa séria sobre como seria nosso casamento e demonstrei toda a desconfiança que tinha da situação, o que ela captou e, propondo “um tempo”, mencionei com toda a humildade mas com a pior escolha de palavras possível que acreditava que esse tempo era o suficiente para a Miss Bondade me traçar. não sei se você deu risada disso ou sentiu muita raiva de mim, talvez até tenha pausado a história para tomar um ar, mas foi exatamente isso e exatamente assim. um dia antes, também, tinha feito uma oração pedindo para Deus me revelar com urgência se aquele era o relacionamento onde eu deveria estar ou não, se havia algum desequilíbrio entre nós que faria mesmo a minha vida se tornar o inferno que os meus monstros diziam que se tornaria.

esse desequilíbrio se revelou aí. devo dizer que, por como eu coloquei as coisas da pior maneira possível, ninguém que não fosse um robô psicopata pensaria em fazer cálculos e extrair conclusões racionais disso. é que sou heart-shaped star e passei anos sem um coração, posso sentar e analisar qualquer situação friamente mesmo que ela tenha sido comigo desde que ela não esteja acontecendo exatamente naquele momento, e o desequilíbrio foi: diante disso a reação enérgica dela foi me bloquear de todos os lugares e sair disparando indiretas em tom “evangélico”, eu também não facilitei nada pela reação natural maldosa da minha parte, e tudo se desfez naquele momento.

você diria que qualquer um deveria ter aquela reação, eu também diria, mas estou colocando “desequilíbrio” em questão e não “erro” porque aqui não estou falando de erro meu, e nem depois em erro dela, apenas uma demonstração de débitos emocionais distintos. não devo emocionalmente a ninguém, ela devia emocionalmente ao mundo. eu, quando confrontado com a situação onde ela passou três horas no telefone com um ex-namorado com quem ela teve um relacionamento profundo de casamento, controlei todos os meus monstros violentos e apenas confessei o sentimento como era: insegurança; ela, diante da situação onde contei uma insegurança minha a respeito de uma menina com quem eu nunca tinha ficado, não conseguiu se controlar. quero colocar isso aqui esperando que não tenho ouvintes com psicose de santidade que vão concluir que eu estava certo, eu era melhor, que eu era mais controlado, nós somos apenas diferentes e possuímos cargas diferentes. é totalmente diferente possuir uma carga ilimitada de monstros na mente e na alma e ser uma marionete do mundo contra não ser assim tão insano mas ter sido a marionete sexual de pessoas como é a história dela, a minha opção de não me entregar aos meus monstros me tornou capaz de brigar comigo mesmo antes de brigar com os outros, embora eu tenha tantos monstros que esteja constantemente brigando comigo mesmo. ela não poderia aceitar que era apenas um medo meu, conheço todos os monstros que se formaram em sua mente e ela não lutou contra nenhum deles porque, com as pessoas que vieram antes de mim, eles não eram monstros, eles eram sua realidade concreta.

depois de um tempo ela esfriou e nós conversamos, ainda brigando, sobre tudo aquilo. todo aquele conjunto de fatores me fez não voltar atrás, me fez aceitar que eram sinais de que não daríamos certo. nós tentamos continuar amigos, queríamos continuar conversando todos os dias mas já não era mais possível e ela, em uma dessas conversas posteriores, me perguntou se tinha “perdido”. não lembro o que respondi, também não lembro o que significava a pergunta, mas qualquer resposta era horrível porque fosse “me perder” a resposta seria que não acredito que pessoas se perdem ou se ganham, elas são ou não são, e fosse “perder um joguinho” a resposta seria que não havia jogo algum.

com o tempo nós bagunçamos muito essa história. ambos temos motivos para acreditar que ela nunca existiu, que aconteceu simultaneamente com outras coisas mas o fato é que, mesmo se estivéssemos trocando fantasias, nós expressamos tantos sentimentos e sentimentos tão ricos que a própria abstração de tudo o que aconteceu é suficiente para nos marcar pra sempre.

eu estava honesto. estava entregando tudo o que eu acreditava que eu era. mas, perdido no labirinto de espelhos que é a minha alma, eu não sabia quem eu era.

Você leu um capítulo da série noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados

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escrito por nubobot42 narrado por heartshaped star