depois de tudo isso me afastei do meu grupo de amigos, fiquei chateado de ter destruído tudo aquilo, embora aquilo já estivesse se dissolvendo naturalmente. a Miss Bondade, obviamente, se aproximou muito mais do meu amigo, começou a ficar bem claro que eles estavam começando algo de verdade ali e, como pude, eu tentei me desligar dessa situação. infelizmente não consegui porque os rascunhos das minhas estrelas cadentes da segunda metade da quarta até a sétima sumiram, alguém pegou, e aí cansei dos joguinhos da Miss e exerci uma força-tarefa para bagunçar a cabeça dela flertando com ela e mexendo com a auto-estima dela através do corpo e de cartas corrosivas.
me odiei pelo que estava fazendo, mas o ódio que sentia por ela era maior. toda aquela situação me destruiu emocional e mentalmente, eu já tinha perdido a confiança em todas as pessoas da igreja porque todos tinham estabelecido “torcidas” e porque todos os que conheciam a situação já me olhavam estranho, não sabia se para rir ou sentir nojo, e… meus rascunhos das estrelas cadentes tinham sumido, com tantos dos meus sentimentos e, não só isso, como com um pedaço de uma novela minha que escrevi com quinze anos. eu era movido pelo ódio, pela frustração.
quando a Miss Bondade assumiu namoro eu tinha acabado de mandar um rascunho da oitava estrela para ela. um rascunho de uma personagem chamada “rebecca”, uma bruxa que destruía a cabeça dos outros por ódio e frustração. a Miss Bondade, depois de conhecê-la, nunca mais tocou teclado em público e levou meses para ser bonita de novo. quando a Miss Bondade assumiu namoro ela viajou para longe, numa semana onde haveria um evento importante de jovens na igreja.
nesse evento eu não tinha um grupo fixo de amigos e isso não teve problema nenhum, porque conhecia muita gente e interagi com muita gente, mas senti uma vontade agoniante de pedir perdão ao meu (ex-)amigo porque, não importava se ele tinha feito tudo aquilo ou não, o que fiz foi horrível e eu não deveria ter feito. eu, no entanto, estava com a alma corroída pelo ódio e, embora isso não fosse me afetar no pedido de perdão porque não era capaz de desobedecer o Espírito, simplesmente não poderia passar pelo que passei: em algum momento no meio de tudo um antigo amigo meu, o que me apelidou de Light Fuse And Get Away, me chamou para conversar “como homens” e já começou jogando que eu estava sozinho e perdido no evento porque tinha feito a besteira e perdido os amigos (“aceitei” o personagem e fingi que acreditava naquilo, imediatamente mudei meu semblante para o de um coitado sem amigos), ele foi me dizendo várias coisas que eu já tinha pensado mil e uma vezes sobre o que era justo, ele foi me contando a história como alguém “que acompanhou desde o início e viu coisas que eu não vi”, foi me perguntando coisas e fui mentindo para ver se ele construiria a história com base nas mentiras e ele construiu. encerramos a conversa comigo concordando com o perdão, embora já concordasse antes.
me senti triste. me perguntei por que tudo isso, por que me desmontar e tentar me remontar com mentiras como se eu fosse uma pessoa ingênua, como se não tivesse visto coisas que só eu vi, conversado com as pessoas coisas que só eu conversei. eu… perdi a confiança que tentei ter nas pessoas, a confiança que lutei tanto contra meu pai (uma pessoa ainda mais machucada pelas pessoas que eu) para ter, isso se perdeu aí.
a minha dor era grande demais para eu suportar, mesmo não confiando em mais ninguém. contei à Olhos de Cristal tudo o que estava sentindo e ela não entendeu muito bem, só achou muito errado fazer o que eu fiz. triste e incompreendido. ela estava muito bonita naquela festa então acabamos flertando, e começamos a conversar num dia qualquer mas logo disse que não queria porque poderia confundir as coisas de novo, ela concordou mas foi uma fachada porque não paramos de conversar até que enchi o saco e cortei tudo novamente.
ainda digo “oi” para a Olhos de Cristal quando a vejo, ela ainda fica feliz em me ver. ela ainda diz “você anda sumido” pra mim às vezes.
nessa semana a Miss Bondade voltou de viagem e, já no primeiro dia, tentou flertar comigo de novo. aceitei dar corda e olhei em seus olhos com um ódio absoluto, de quem queria matá-la. nós nunca mais nos olhamos depois disso.
depois disso tudo ainda tive uma guerra contra a minha ansiedade porque, entrando no trabalho novo, não conseguiria tirar férias para uma viagem missionária que queria muito fazer e que já tinha pago. passei por uma situação onde não havia controle algum, finalmente não tinha nada o que eu poderia fazer pelo “sim” ou pelo “não”, não sabia o que era isso na minha vida.
a situação terminou em algo errado, frustrei muita gente que acreditava mesmo que eu tinha poder de mudar aquilo. acho que acostumei as pessoas com meu poder mas, elas não sabiam, tudo na minha vida tinha dado errado. aquilo ao menos me aliviava porque não estava no meu controle. aquilo foi reconfortante porque, diante da derrota, pude fazer muitas coisas boas como pregar e surpreender uma pessoa em uma mesa de reunião de uma empresa e ajudar financeiramente um amigo meu que foi e estava sem dinheiro. Deus me deu o dinheiro que faltava para viagem nos últimos dias, fiquei ansioso pensando que poderia ser porque ele queria me ver lá de todas as formas, mas o dinheiro estava destinado ao meu amigo e ele me usou para isso. Deus não me queria no meio de pessoas que eu não confiava, falando sobre o amor quando meu coração estava lotado de ódio, embora ele também tivesse o poder de mudar meu coração ali. Deus, me amando profundamente, preferiu trabalhar o ódio no meu coração e me ensinar a amar pessoas com ódio no coração, que são as pessoas ao meu redor.