a verdade é que o desemprego nunca foi fonte de uma crise horrível, só de ansiedade, mas depois da demissão tudo ficou bem no plano normal das coisas (só na depressão isso pesou. bem, numa crise depressiva até mosquito fazendo barulho é motivo para chorar ou surtar). troquei de carro e simplesmente ouvi pessoas dizendo “você está desempregado? quer emprego? eu quero uma pessoa como você na minha empresa”, poderia voltar a trabalhar quando quisesse, então depois dessa crise passar tomei vergonha na cara e fui atrás de um dos empregos que me ofereceram. decidi que, no dia seguinte, ligaria nessa empresa e conversaria sobre a vaga.
então, nesse belo dia, acordei com uma mensagem da Moça da Carta de Amor. a primeira mensagem, antes de contar qualquer coisa, foi algo como “não sei onde estava com a cabeça pra ter acreditado em você quando disse que era melhor pra gente não ficar junto”. oh, céus, eu era humano agora, aquela mensagem não me causou nenhuma ferida na alma que meses depois eu descobriria, aquela mensagem me quebrou imediatamente e passamos o dia todo conversando. fiz um malabarismo com facas impressionante convencendo-a a resolver seus problemas sem sugerir que abandonasse tudo e viesse ficar comigo para sempre porque “ó meu Deus! eu nunca a machucaria dessa forma! eu nunca blablabla! eu te daria o mundo! eu! eu!”, mas eu me conhecia muito bem, sabia que não era bonzinho assim e que aquilo seria uma safadeza bastante emocionalmente justificável mas ainda assim uma safadeza.
fiquei horrível e, por ocasionalmente manter contato com a Foránea, ela insistiu muito para que eu contasse o que estava me incomodando. contei e ela achou fofo, “minha cara”.
(acho que o simples ato de escrever essa história aqui é um malabarismo com facas, mas quem topou ser açougueiro não pode fugir da carne)
nessa mesma semana uma amiga com quem tinha saído uns tempos atrás decidiu flertar bem pesado comigo, veio falar umas coisas estranhas como querer ser minha escrava, que era apaixonada por pessoas loucas como eu, que blablabla. me diverti tentando entender o que ela estava dizendo, passamos dias conversando sobre freud, jung e mais um monte de coisa inútil de psicologia e não entendi como essa conversa aconteceu porque ambos somos analistas de sistemas. o sentimento que se passou no meu coração durante todos esses acontecimentos foi nobody breaks my heart cause it’s always broken. lembrei do que tinha passado com a Moça da Carta de Amor e foi muito forte, lembrei que nunca nenhuma moça da igreja tinha chegado perto de arranhar aquela ousadia e sinceridade, lembrei que tínhamos uma história enorme, bonita e inapagável e foi aí que despertei para a chave da “despsicopatização” de Deus: eu precisava “perdoar” Deus por não ter me feito pra ela, porque tudo parecia tão certo pra mim naquela época e nada nunca mais foi tão certo de novo, engoli em seco a decisão de Deus e fiquei implodindo sem nunca ter confessado que eu não aceitava, que não confiei na decisão dele e continuava não confiando; depois dela eu passei pela mão da Miss Bondade que só tinha me desprezado, passei pela Miss Maldade que por algum motivo me odiava e pela Olhos de Cristal que simplesmente não me queria, era óbvio que Deus não sabia o que estava fazendo ou que Deus não me queria com mulher nenhuma.
sim, você ouviu certo, ouvinte. eu tive que “perdoar” Deus e isso foi algo que ele me “pediu” através da minha música mas, por favor, entenda as aspas. quando perdoei Deus ele me contou isso: “ahá! você mentiu pra mim dizendo que concordava com a minha decisão. você deveria ter falado que discordava na época. você deveria ter chorado, ter me xingado, ter esperneado, ter brigado com suas autoridades, ter feito drama de filme de romance! você deveria ter sido sincero. eu brigaria contigo de rolar no chão mas nós rolaríamos no chão, nos resolveríamos e aí eu poderia preparar alguém especial pra você. com seu coração fechado eu preparei pessoas pra você mas você estava fechado demais para perceber”. essa situação é engraçada por diversos motivos. primeiro: não lembro muito bem por que o nome da música foi “nobody breaks my heart cause it’s always broken” mas o que Deus me disse foi exatamente isso, “ninguém partiu seu coração porque ele está sempre quebrado”, ele estava quebrado desde o round 2 da Moça da Carta de Amor e mesmo com todo o desprezo imaginário da Miss Bondade ela não conseguiu sequer arranhá-lo; segundo que, no final dessa música, ao me contar isso, Deus partiu meu coração.