Série: noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados / noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v

v-v. Miss Bondade i

12 de maio de 2018

noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados v
anatomia da alma frágil: mapa geográfico da corrupção e perversão humana [ou: heartshaped star — heartshaped star]

logo após essa dobradinha Projeto de Skinner com a Moça da Carta de Amor surgiu a Miss Bondade. é engraçado que eu tenha dado esse nome a ela: Miss Bondade. eu me acostumei com seu rosto de menina boazinha, seus trejeitos de menina boazinha, seu linguajar de menina boazinha, sua voz de menina boazinha… mas se pensar bem no dia em que nos conhecemos ela era uma garota mais-ou-menos imponente usando um sapato meio-corporativo só que plataforma porque ela não sabia usar salto, com uma roupa meio-chique meio-dona-de-casa, com vários hifenzinhos assim, porque ela estava tentando um pouco de tudo no primeiro dia em que a vi.

lembram, no capítulo passado, quando disse que a Miss Bondade tinha importância máxima para a noite na pequena londres? acho que já é válido explicar aqui: de coração devastado pelo episódio da Moça da Carta de Amor, com as expectativas elevadas lá no céu e magoado com Deus a respeito de relacionamentos, eu me ancorei na Miss Bondade. “eu me ancoraria na pior garota”. projetei nela uma paixão exagerada que eu não tinha, vi nela uma pessoa que ela não era e as minhas emoções eram tão boas em me cegar que consegui chegar ao ponto de acrescentar visualmente a ela coisas que ela não tinha. no fundo a única mulher que eu era capaz de enxergar era ela. nunca estive tão frustrado e carente na minha vida quanto nesse mês, ela apareceu nesse mês e tudo se formou na minha mente com uma velocidade impressionante que eu não consegui acompanhar.

não sabia como me defender disso. observar isso hoje, depois de tudo o que aconteceu, é fácil, mas era impossível para mim perceber isso de dentro para fora. nunca tive uma expectativa saudável a respeito de uma mulher, na minha cabeça elas não tinham nada a me oferecer ao mesmo tempo em que meu coração tinha acabado de aprender que elas me ofereceriam o mundo. tornei-me confuso e um pouco perturbado a respeito desse assunto.

logo contei a um amigo que tinha achado ela muito bonita e estava interessado, ele me recomendou prosseguir com tranqüilidade. ela tinha se interessado no meu círculo de amigos e logo se integrou a todo mundo e, em não muito tempo, passamos a nos reunir na casa dela todo final de semana. tudo isso em questão de dois, três meses. aprendi a conversar com naturalidade com ela pessoalmente mas pela internet não tinha como, sempre ficava ansioso demais, ela respondia tudo grosseiramente e eu não tinha coragem nenhuma de me manter assim. as amigas dela logo descobriram que eu estava afim dela e me incentivaram, também me disseram que ela tinha problemas com a internet e que manter a amizade acesa no final de semana era suficiente, algo que custei a acreditar que era verdade mas aceitei.

abrindo o jogo já agora: essa menina era, na verdade, um mistério. desse uma rasteira nas amigas dela e você descobriria que elas, na verdade, não a conheciam muito bem. que a vida dela era totalmente reservada à sua família. ela era… como eu, mas eu não sou flor que se cheire. tudo isso era nebuloso para mim porque eu não tinha como saber que ela era como eu, e também não tinha como saber que eu não era flor que se cheirasse. na minha cabeça eu era um menino bonzinho e perdedor que ninguém estava interessado, eu não sabia que eu era perverso, não sabia que eu era atraente e interessante, todo meu potencial estava oculto de mim mesmo. também via nela uma menina boazinha e não sabia nada de seu potencial porque sabia, no fundo, que não a conhecia. o assunto que tínhamos em comum era o teclado mas eu não sabia que sabia tocar teclado, o teclado era uma realidade paralela da minha vida assim como a minha vida sentimental: eu não expressava meus sentimentos para os meus amigos, apenas “seguia o fluxo” porque precisava aprender a viver em sociedade e estava dominando aquele sistema lógico de interações humanas, entretanto na minha visão da época eu estava sendo uma pessoa muito sincera.

esse foi o período onde cinco coisas importantes ocorreram:
1. a entrega desastrosa do meu trabalho de conclusão de curso, que o narrador antigo contou até que bem. ela não sabia me incentivar, acho que a assustei um pouco.
2. compus a minha música mais completa até então. a do peixinho ansioso.
3. aquele evento que o narrador antigo descreveu também. tenho preguiça desse. esse evento foi bizarro, foi uma performance sensacional da parte dela que… na verdade foi a única performance sensacional que vi da parte dela. mas deixo isso pra depois.
4. no final do ano, cansado de sofrer penteando meus cabelos cacheados e, na minha visão, muito ruins, decidi conhecer a progressiva. isso, a princípio, não me afetou em nada, mas é um fator importante para histórias que virão no futuro.
5. no início do outro ano a Miss Bondade estava sofrendo, muito, com carências. aparentemente ela estava afim de alguém muito próximo e essa pessoa não estava correspondendo, ela não suportava essa falta de correspondência, ela não suportava não estar namorando. eu não sabia na época, hoje não é difícil saber: ela não suportava o fato da tática dela de conseguir um namorado (se aproximar do meu círculo de amigos e atrair todos eles para sua casa) não estar funcionando. a Miss Bondade que o antigo narrador via é totalmente diferente da Miss Bondade que eu, heart-shaped star, vi, mas eu estava aprisionado, as minhas teorias nunca faziam sentido, as conversas que eu ouvia o início sem querer e se tornava inevitável continuar ouvindo pela minha sensibilidade auditiva exagerada não eram críveis. era muito mais fácil não ouvir minha voz, acreditar que todos eram uns anjinhos. adquiri uma confiança muito grande nas pessoas da igreja em contraste com a minha desconfiança fatal das pessoas fora dela, era uma ilusão generalizada, eu acreditei mesmo que estava vivendo no paraíso.

 

Você leu um capítulo da série noite na pequena londres ~ nós, destruidores de corações, filhos dos céus estrelados

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escrito por nubobot42 narrado por heartshaped star