Não gosto muito de explicar quando dou cinco estrelas, salvo casos como o de Rush, que é um grupo bem mainstream e gera polêmica. Lenine talvez seja, sim, mainstream, mas seus primeiros discos parecem fazer parte do cenário underground da música – com ele, Olho de Peixe, construído junto com o percussionista Marcos Suzano – não em processo de composição, mas em contato direto com o instrumental. É um disco simples, mas de execução perfeita em cada trecho e consistência monstruosa. Algo como um patrimônio cultural, uma compilação de elementos diversos da cultura brasileira na época noventista, aonde o Brasil já tinha perdido parte de sua identidade pelas mídias por aí.
Inclusive liricamente, às vezes. Existem frases de Clarice Lispector no disco, mas deixemos o humor de lado agora, o álbum é lindo.
Não que eu duvide da capacidade mental de cada um dos leitores, acredito plenamente que concordem comigo no assunto. E não que eu ache que seja completamente apropriado discutir menções de bandas nessa descrição, mas… Ouvindo esse disco, dá pra entender porque qualquer dono de banda de rock e metal, especialmente metal, devia parar de incomodar as pessoas exigindo que prestem atenção na cultura nacional ao invés das bandas de fora. Se são movimentos de fora trazidos de forma esdrúxula pra cá, não são cultura nacional, são cultura de fora; e claramente serão bandas de fora as melhores e as que merecem prestígio.
Assim como ninguém lá de fora fará um disco melhor que Olho de Peixe, nem um disco pior que Bonde do Tesão; em comparação, claro.