Eu muitas vezes afirmo que o magnetismo é a mais bela das magias. Tudo o que há no magnetismo é bonito. O seu funcionamento místico, a sua palavra confortável em grande parte das línguas, a sua capacidade de resgatar no mundo científico uma racionalidade maior — é impossível, para o racionalismo menor, explicar o magnetismo. Tudo isso é belo.
O magnetismo também está nas mentes. O magnetismo atrai vozes.
Você conhece as vozes?
Quantas? São infinitas possibilidades. Pode ser uma voz, ou podem ser milhares, milhões, quantas forem necessárias. Tudo isso depende de magnetismo. Você acredita em vozes? As vozes acreditam em você? Você consegue resistir ao escândalo aí dentro? Você consegue dormir? Quando o poderoso homem esmagador vai embora de você, o que sobra para combater as vozes? Você deseja combater as vozes? É necessário combater as vozes? É necessário entender as vozes? O que são as vozes? Por que falam as vozes? Vozes. Vozes.
Vozes.
Magnetismo.
Vozes.
Você corre delas.
Magnetismo.
Como mágica, elas se atraem a você. Elas trazem novas vozes. Essas são as vozes. Você não as vence, eu sei que não as vence, você as esconde para que ninguém perceba e convive com elas ali. Sempre ali. Sempre dizendo. E quanto mais esconde, mais elas aparecem, com mais amiguinhas.
Você é derrotado pelas vozes? O quão derrotado? Em quanto tempo? Por que elas te derrubam? Elas querem sua morte?
Vozes. Magnetismo. Morte. Como mágica, a morte se atrai ao corpo. Ela pode vir intensa, tentando destruir, devastar de uma vez só; ela pode se atrair lentamente, tentando te conquistar, bajular, até virar sua amiga quando se aproximar o suficiente. A morte tem uma faca no bolso. Não faça parceria com a morte.
A parceria viola o magnetismo. Almas se atraem como mágica — quando devem se atrair. Quando não devem, não adianta trazê-las com as próprias forças para perto. Magnetismo, quando não atrai, repele.
O magnetismo também não se respeita.
O magnetismo está no universo. Regido por leis, sujeito a manifestações divinas, prostrado aos poderes de quem não precisa respeitar leis. O magnetismo manda, mas também obedece. E quando obedece, as vozes são congeladas — não para que você fuja, mas para que sente e converse com elas, uma a uma, em seu estado estacionário, em seu estado carente; sem o magnetismo, resta você, o pai das leis e suas vozes.
Só há uma opção.
Há como vencer as vozes? Há como derrotar a si mesmo? É saudável se derrotar? O que seria de você sem as suas vozes? O que seria de mim sem as minhas? As vozes são más? Você é mau? Você conhece as tuas vozes, uma a uma, saberia reconhecê-las quando a poluição é removida de seus arredores? Você sabe quem você é? Sabe o que pode ser, sabe o que não pode ser?
O que resta de você quando cortam o seu magnetismo?
Resta algo?
Ou você morre?
Algumas pessoas morrem.