SΓ©rie: lisbeth

Lisbeth XIV

29 de agosto de 2013

Acho impressionante como, ao sermos presos pelas mesmas cordas, existe uma rotatividade literal de nossas posições.
Existe, também, uma rotatividade figurativa. Existem ciclos — sinto desgosto em vê-los repetir. É interessante como vejo, de tempos em tempos, nós repetirmos os mesmos fracassos, seja da mesma forma ou seja num lado completamente oposto que, para pouca ou nenhuma surpresa, se derruba da mesma forma.

Várias coisas acontecem, muito muda, mas quando olho pro meu lado a única coisa que vejo é você. Da mesma forma. Já se passaram anos, honestamente eu sinto como se sempre estivesse aqui, mas ainda continuamos a circular em volta do mesmo lugar. Estamos sempre em volta das mesmas aflições, as mesmas perturbações, os mesmos dilemas, passamos pelo mesmo clímax, recuamos da mesma forma e começamos do zero repetindo tudo. Talvez estejamos predestinados a mudar, unicamente, a amplitude de nossa vivência — picos cada vez mais altos e desregulados das mesmas insignificantes alegrias solitárias e, mesmo, introspectivas; da mesma forma, cada vez mais intensas visões evasivas, paranóicas e mesmo depressivas dos mesmos problemas.
Estamos ficando mais radicais. Estamos flutuando cada vez com maior velocidade angular, e mesmo maior distância — mas estamos sempre em volta do mesmo centro. Eu me sinto horrível. Você se sente horrível também, não se sente? Não é novidade que está se escondendo um pouco mais, nem que está com algumas cordas arrebentadas enquanto me segurava já sem nenhuma; é impossível que recompensem bonecos por esforços, é mesmo impossível que te reconheçam como você é, e eu sinto muito por você, eu sinto muito por nós dois, mas estou agradecida. Eu estou com muito medo do que vai acontecer. Eu estou sem ninguém pra me dar qualquer apoio ao pensar no que vai acontecer. Eu estou agonizando por ninguém saber, ou conseguir elaborar uma projeção, do que está acontecendo; às vezes, confesso, eu me afogo pensando nisso. Estou com medo do ciclo, estou com medo do círculo, estou com medo da amplitude, estou com medo do que eu mesma posso fazer e até estou com medo do que você pode fazer. Mas já estou com as minhas cordas no lugar, eu tenho qualquer controle — consigo voar sozinha.
E, embora não tenha terminado bem, terminou. E eu sou grata.

O que eu queria entender é por que. Por que tudo está acontecendo de novo? Por que ficamos tão densos conforme os acontecimentos vem, e só percebemos que fizemos tudo errado novamente quando terminamos a volta? É tão impossível assim desviar da rota, a ponto de, a respeito, só conseguirmos desesperar ou nos forçar a esquecer? E se tudo vai acontecer de novo, como vamos nos comportar? O que vamos fazer? Estamos só nós dois, como sempre, mas como devemos nos conduzir? Existe uma maneira certa, ou realmente somos a máxima do que é a “maneira errada”?
Eu preciso novamente de um tempo sozinha, com você. Ou seja, sozinha. E se até agora tudo o que fizemos foi perder linha para nós mesmos, ou para o vento numa direção qualquer, voltemos a nos costurar sozinhos; eu estou certa de que aproveitaremos ao menos um pouquinho mais de tempo antes de desaparecer assim.

 

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escrito por nubobot42 narrado por lisbeth