Nunca conheci alguém que, de uma forma ou de outra, não a temesse. Todas as noites ela estava ali, observando a Lua. Olhos vermelhos, cheios de sangue; olhos de morte. Se alguém me perguntasse quem exatamente era ela, eu só poderia contar quem já pereceu por ela.
Por vezes, já me perguntei o quão proposital era a morte irradiante daquele corpo. Já tive diversas crenças, e já também ameacei olhá-la nos olhos.
Para você, não posso oferecer nada.
Disse ela. Nunca insisti. Ela, no entanto, já me buscou com seus olhos mais vezes. Superficialmente sempre me buscou, mas nossos espíritos se repeliam. Ela queria oferecer, ela não podia. Eu não queria aceitar, eu também não podia. Eu tinha curiosidade. Não adiantava.
Eu, depois de um tempo, comecei a entender a composição daquele olhar. Por que de morte? Aonde estava a morte? Alguns não conseguiam perceber. Alguns simplesmente, e sabiamente se quiserem saber, mantinham distância; outros, num ato de extrema tolice, “pagavam para ver” — um desastre total, uma verdadeira zumbificação que tinha seu início num olhar vermelho e seu fim dependendo apenas do bel prazer da dama da Lua.
Descobri que a morte não estava em raios nem trovões, nem em palavras, nem em gestos. Descobri que a morte era independente. Seus olhos dependiam da morte, não o oposto: a Lua era um remédio, as estrelas incontáveis nos céus eram distrações; o que eu sempre busquei foi descobrir corações inquietos que vissem na Lua a verdadeira insignificância dos nossos corpos, a contemplação da figura maior, alguém que descobrisse nas estrelas um emblema da perfeição do universo e como é possível viver através da condução do espírito pelas cordas do tempo, entrando e saindo, como se ali estivesse confinado mas àquele lugar não pertencesse verdadeiramente.
Alguém que se sentisse intruso numa arquitetura perfeitamente moldada para acomodar corpos imperfeitos e direcionados ao abismo.
Não era isso que havia no coração da Dama dos Olhos Vermelhos. Aquela Lua, para ela, como eu disse, era um remédio. As suas dores eram aparentemente irreparáveis, como se um julgamento terminal, como se uma porta tivesse se fechado na sua alma e se trancado com sete chaves. A Lua era o descanso temporário, a luz que dava energia a seu corpo para bater na porta novamente até cansar, a transmissão de feixes como um éter da lista de argumentos talvez infalíveis para tentar negociar, desesperada, com o juiz da morte, mas a morte não aceita argumentos. As estrelas não lhe traziam nenhum conforto, as estrelas não lhe interessavam na verdade. Mas sua interação com elas era curiosa, a interação de quem não tem mais nada, mas busca nos números — e que numerosas eram — algum sentido, alguma justificativa, para provar que na verdade não há nem sentidos nem justificativas.
Era estranho lidar com a Dama dos Olhos Vermelhos. Ela queria explicar muito, também queria observar muito, mas acabava não chegando a lugar algum e não observando ninguém fora os tolos que se atraíam por ela. Tudo parecia contraditório, não pelas contradições da natureza, mas pela natureza das contradições.
Tudo parecia triste, inevitavelmente triste.
Disso tudo, acabei entendendo que, realmente, não há nada que a dama e eu possamos conversar. Nem mesmo com o olhar. Nem mesmo com a hipnose dos seus olhos. Nunca poderemos sentar juntos e conversar sobre a disposição das estrelas, porque não importa. Nunca poderemos discutir a beleza da Lua, isso também não importa. Não sou capaz de entender a cor de seus olhos, não sei o que significa o sangue. Nem sou capaz de andar de mãos dadas com ela, porque nossas mãos não se encaixam. Ela realmente não tem nada a me oferecer.
Tudo o que ela pode oferecer é a morte que possui, e que a possui. E eu, seja isso bom ou ruim, já estou morto.
De você, não posso tomar nada.