Série: fazer nada é TUDO

Internet... Vamos dar um tempo

6 de junho de 2012

Por muitos anos eu fiquei na internet.
Eu tenho 18 anos, no entanto, como filho de engenheiro de computação, meu acesso à internet em casa é uma constante há uns 12 anos – o que sei que não é, assim, uma coisa velha, mas considerando aqui no Brasil até que sim. Nunca fui saudável com relação a computadores, sempre usei mais do que o necessário, assim como era com videogames antes dele – e vou continuar usando enquanto continuar sonhando com projetar sistemas de aeronaves, simplesmente porque tanto é meu instrumento de estudo e trabalho quanto porque é meu meio principal de diversão.
Mas enfim, dado o contexto, vamos começar.

Conhecendo a internet por 12 anos, eu fiz parte de turminha de ICQ, vi (mas de longe) o fenômeno que foi o IRC, participei de fóruns antiguíssimos… Mas como toda boa criança, eu usava a internet mesmo era pra jogar e assistir desenhinho. Mais de um ano fazendo download de uma série só de anime em .avi porque criança é burra, etc. Mesmo assim pra mim era o máximo, o mar de rosas; e como eu tive uma série de problemas na infância, foi aonde eu resolvi me esconder. Ué, por que não?
Durante a minha infância eu terminei, no meu querido computador, mais de 150 jogos. É quase metade da minha coleção até hoje, aonde o tempo não permite nem 10% do ritmo que eu tinha antes. Tinha tudo o que eu queria: joguinhos, desenhinhos, e estava bem longe de gente… Detestava gente. Serei sincero, parecerei imbecil (e sou! Que seja), mas eu detestava mesmo.
Enfim, eu amava a internet.

Tudo isso piorou lá pra quando começou a chegar a pré-adolescência, e aí passei a interagir com gente gordinha que gostava muito de internet também. Em um fórum e seu correspondente jogo online pra gordinho, e prefiro não mencionar qual é (mas todo mundo que me conhece sabe, risos). Não que eu fosse gordo, aliás, só saí do baixo no IMC recentemente. O fato é: meu rendimento em tudo quanto é coisa caiu (fora matemática, o jogo pedia muita matemática, tinha até derivada no meio), mas foram tempos divertidíssimos e com gente divertida que eu até sinto falta, só que prefiro nem saber o que aconteceu com cada um deles. Não me arrependo de nada disso… No máximo poderia ter estudado mais.
Aí veio o ápice da pré-adolescência, quase entrando na adolescência, época aonde assumi de vez os fóruns. O que firmei raizes foi o que construí as amizades sólidas que carrego até hoje, e espero carregar pro resto da vida. Era um forumzinho bem perturbado, mas foi lá mesmo então foda-se. Lá todo mundo partilhava opiniões sobre coisas que ninguém além deles ligava, se alfinetava porque projetinhos de jovens tinham que descontar a vontade de dar uns socos em algum lugar; no entanto, é óbvio que hoje, com 18, percebo a ingenuidade absurda que todo mundo naquele lugar tinha, assim como com uns 20 e poucos vou perceber minha ingenuidade agora, embora com 20 e poucos anos eu nem vá ter tempo de pensar nessas bostas. Era um lugar genuíno, assim como alguns outros fóruns que eu viria a visitar depois – sempre apoiado pelas amizades já mencionadas.

Enfim, teve o segundo fórum que eu fiquei por muito tempo. Esse eu comecei na ingenuidade, mas como passei a adolescência virtual lá e tinha bastante adultos, acabei começando a entender como funcionavam as malícias naqueles pontos. Só que era pouco, ainda era todo mundo “gente de internet” que, embora com experiência de vida real, ainda tem aquela ingenuidade de gente de internet. E tinha um pouco de gente que fazia de tudo pra escapar disso de “ser da internet”, transava dia e noite e virava o Jiraiya na cocaína e vinha contar depois, mas todo mundo sabe que a necessidade de ficar reiterando isso é coisa de gente ingênua da internet, né, por favor rs. Tu sai da internet mas a internet não sai de você.
Daí teve o VT. Quem raios usava internet mais de 4h por dia em 2008~2009 e, tendo 15 anos, não deu ao menos uma olhadinha no VT? Não digo que não era um lugar extremamente babaca, mas era divertido. Era um monte de adolescente falando merda e fazendo merda, como toda a adolescência tem que ser – aliás, o bom era que era fazendo merda e falando dela na internet depois. Rendeu muita coisa que a “camada mais alta da internet” tá usando só hoje e de maneira mais errada do que já era lá. E teve o 4chan também, mas eu nunca participei de lá com muita intensidade… De vez em quando dava uma brincadinha no /b/ mas o melhor era pegar uns wallpapers bons.
Tudo isso com gente. Isso me deixava bastante feliz, num geral. Eu ainda não tinha muito entusiasmo em ficar lidando com gente, mas já tinha perdido todo aquele asco que eu tinha quando menor, inclusive tentei ter vida social (quando digo “ter vida social”, não é a brincadeirinha de hoje, eu realmente não tinha) e não rendeu muita coisa… Mas o tempo que tive até que valeu a pena.

Aí veio 2010. Com 2010, eu entrei com força nas redes sociais por desistir da resistência. Tentei diversas vezes usar Orkut, mas só fuçava nas comunidades de joguinhos mesmo… Perco maior parte das piadas com Orkut da galera. Entrei completamente anônimo, como sempre fui mas pra mim hoje tanto faz. Eu e alguns de meus amigos, outros tentaram usar mas não se deram bem, teve um que se isolou completamente da internet e só conversa com a gente e poucos outros agora. O Facebook ninguém ligava, o Twitter foi um ano de uso só no ciclo de amizades de sempre e era divertidíssimo, como sempre era se juntar pra perder tempo na internet.

E aí, 2011. Em 2011 eu entrei na faculdade e minha visão de vida mudou: escolhi o meu curso porque tinha “computação” no nome, eu queria mexer com computadores, mas embora meu pai fosse engenheiro de computação ele pouco tinha me alertado do absurdo que era. No entanto, o improvável aconteceu: ao invés de desistir, eu me apaixonei pela tecnologia; e não tô dizendo disso de “nerddddddddssss tecnologia hehehruherh”, eu tô dizendo de tecnologia, mesmo. Eu não gostava de nada na escola, de repente estava adorando resolver derivadas e integrais e brincar com lógica nos fundamentos de programação. E isso não era nada ainda, tinha muita merda por vir, mas explico melhor quando chegar no agora.
Enfim, 2011 também marca o ano em que pessoas da internet resolveram prestar atenção nas merdas que eu faço. Ainda um tanto anônimo, resolvi prestar atenção em pessoas “mais normais” do que as que tinha conhecido virtualmente até o momento; só que nas redes sociais, o que você faz é retornado pra você na hora. Parei pra prestar atenção em como os outros são babacas, os outros em pouco tempo resolveram prestar atenção em como eu sou babaca. Mas ainda achava deveras divertido, usava a rede social até como instrumento de estudo pra ficar explicando matéria pra gente que não queria e eles encherem o saco no retorno (foi a melhor coisa que fiz, gabaritei muita prova porque lembrei de algo que falei pra vocês!).
Mas era uma turma completamente diferente do que eu estava acostumado, e eu achava isso… Legal. O fato de não gostar muito de pessoas não quer dizer que eu não seja humilde em reconhecer que o idiota sou eu, mas eu estava interagindo com todo mundo, entendendo um pouco mais de como era a vida de “gente normal” e vendo que a minha tá engatilhada do jeito que eu quero. Foi o ano de entender de vez porque 14 anos é a pior idade do ser, entre outros.

E enfim, 2012. 2012 eu chutei o balde de vez nos estudos, res0lvi ler a bibliografia recomendada de todas as matérias da faculdade e de repente eletromagnetismo e mecânica vetorial estavam sendo os meus livros de ficção científica favoritos. Em compensação, com isso, tá cada vez mais difícil arranjar tempo pros meus joguinhos e desenhinhos (alguns deles vocês chamam de séries de TV), e pior ainda será quando eu enfim resolver aceitar alguma proposta de estágio (maioria é ruim porque eu não moro numa cidade que dá valor à tecnologia, mas como é obrigatório…).
E também marca o ano da grande depressão da internet.

Não tô dizendo que a internet era melhor antes, blablablabl, tô dizendo que a internet tá começando a ficar impraticável pra mim. Há 12 anos eu uso a internet “pela zueira”, como vocês gostam de falar. Repetindo o começo, a internet é meu instrumento de estudo e trabalho (eu faço computação!) e de diversão também. Quando eu estudo e trabalho, no momento, eu não interajo com gente; quando eu me divirto, eu interajo. Só que não está mais divertido interagir.
Eu estou retornando ao tempo estúpido da infância, aonde achava insuportável ver gente, só que inclusive na internet agora.
Pareço ter retardo na internet e isso está fazendo com que eu me torne “cool”, e bastante gente preste atenção em mim. Não tô dizendo que tô ficando famoso de internet, calma lá! Eu tenho meus 800 e pouquinhos seguidores, não dá nem pra me caracterizar como menininha de 14/15 de internet. Tenho amiguinhos que, com 300, conseguem muito mais RT e fav que eu… Quer dizer, é isso que é fama na internet hoje, né? Acho que sim. Mas prossigamos. A interação e conhecimento com relação a mais gente “de alta” está me deixando desesperançoso com relação a qualquer coisa relacionada a gente. Eu sei que não devia me importar, mas é muita. Gente. Chata. Querendo dar palpite e controlar o que você faz na internet sem entender porra nenhuma de nada, querendo dar opinião a respeito de coisa que não é pra dar opinião.
E, é claro, é muita gente chata que eu odiava quando era pequeno, mas quando virei adolescente tive a “ilusão” de que não era aquilo que eu imaginava, eu que via muito pouco. Eu vi muito pouco é na adolescência – “é claro!” Você me diz, sabendo que eu ficava o dia todo na internet, mas pra mim não era tão óbvio antes. Já vou adiantando que será maneira de falar, e que nem todo mundo é assim, mas eu tô numa vontade muito grande de usar essas palavras do jeitinho que estão: churrasqueiro de cidade grande é tudo filho da puta mesmo, torcedor de futebol também, “crente” é tudo desgraçado desrespeitoso, social media é tudo gente chata que ao invés de prestar atenção nas mídias pra saber como vai usar quer controlar as mídias pra ficar mais fácil de usar, gamer é tudo sabichão mas na hora de fazer um review sério acha que “é a opinião que conta” e ainda existe nintendista, engenheiro é maioria perdedor que não conseguiu achar algo divertido pra fazer e resolveu fazer o que dá dinheiro, o gosto musical de todo mundo é uma merda, todo mundo é babaca egoísta de modo prejudicial, a política não vai mudar porque o povo é imbecil, gente de cidade grande é tudo metida, e todo mundo é frustrado com o que faz.
“Soltou o verbo mesmo hein babacão” e não pretendo fazer de novo, não se preocupe. Como eu disse, eu sei que estou fazendo uma generalização pecadora de tudo e só a fiz pra usar aquelas palavras em sessão de descarrego, eu sei MESMO que nem todo mundo é assim. Mas é isso o que a internet de agora está me proporcionando. É essa a mentalidade, e é esse o conteúdo. Você consegue enxergar a diversão aí? Eu não consigo. Eu não estou na internet pra ganhar dinheiro, não dependo das pessoas que estão nela pra ter dinheiro e assim sendo não uso nenhum de vocês pra ganhar dinheiro (recentemente até tentei pra ver se conseguia encontrar “a nova utilidade da internet” mas eu não manjo disso, minha área definitivamente não é publicidade). Se as pessoas da internet estão sendo problema ao invés de diversão ou interesse, é perda de tempo, e eu tenho muita coisa pra fazer pra perder tempo.

Não estou dizendo que estou saindo da internet, isso é só… um post de expressão, mesmo. É possível sim que eu resolva sair (não deletar conta, acho babaca) das redes sociais, é possível que não, ainda não é uma decisão definitiva porque pra mim é difícil. Veja bem, pra mim. Eu sei que maioria não se importa, eu não sou ingênuo assim.
Claro que, se parar, não vou parar de acessar a internet em si e contatos mais privados. Tenho amizades sérias que até mesmo já deixaram de ser “de internet” e, como disse, quero que dure até começarem as mortes. Não é isso que vai mudar, eu não serei nem o primeiro do grupo a parar de levar a sério “o resto da internet”.

E eu ainda estou me sentindo um tremendo babacão de ter feito um post do tipo. Quem vê pensa “hahaha otário tá até chorando” mas na verdade eu tô escrevendo até com desleixo. Não é que não estou nem aí, é que eu realmente não consigo ver aquela importância e sentimento de “imperdível” na internet. E é isso que está me preocupando.
Talvez seja só questão de dar um tempo.

 

Você leu um capítulo da série fazer nada é TUDO

escrito por nubobot42 narrado por elliot