SΓ©rie: marina

Marina I

12 de junho de 2012

Toca o despertador da mocinha, a banda favorita dela: Versailles, o vocal forte e viril a fazia delirar.
Marina era uma menina de 21 anos (gostava de se chamar de menina, ao menos!) e vivia um dilema que poucas pessoas consideravam viver. Mais detalhes seriam possíveis só depois. Há dois anos e meio estava engajada num relacionamento sério com um rapaz que amava muito, e sentia que estava no caminho certo. Só tinha um problema: ele não gostava das mesmas coisas que ela, e não odiava as mesmas coisas que ela. Ela o amava, ele… bem… ele… ele a amava bastante. Mas não era interessante no momento.

Maquiou-se e preparou sua melhor roupa: seu vestidinho multicolorido com estrelinhas em todo canto, suas luvas brancas e sua sombrinha favorita. Sua maquiagem forte, destacando mais que tudo o batom azul. Isso era Marina, indo para o trabalho. Era pesquisadora, no entanto fazia uns bicos de projeção de guindastes pela cidade. Adorava projetar guindastes. Esse dia era quase que folga porque só precisava entregar uma papelada, estava ansiosérrima para um dia quase completo juntinha de seu namorado – há eras não fazia isso, inclusive fazia uns dias que nem via a criatura.
No meio do caminho, já no laboratório, acabou tropeçando e caindo sozinha, derrubando toda a papelada que carregava consigo. O fato de ser desastrada mais do que o necessário também lhe rendeu um beijo saboroso no chão, que deixou a sua marquinha azul ali. Seu óculos com armação fina quase imperceptível também caiu e rachou em partes pouco importantes, o que fez com que ela o colocasse de volta mesmo assim. Enfim, teria de pegar os papéis todos, ou quase todos porque um rapaz resolveu ajudá-la na aventura – era seu amigo, nada mais natural.
– Marina! Saiu o novo episódio de Shirokuma Cafe, acho que a senhorita devia ver porque está muito, mas muito awesome! – disse, empolgado. A título de curiosidade, de maneira hetero.
– Oh… Eu não acredito! Mas hoje é dia de Lollipop Chainsaw e estou no aguardo, dei pre-order e a promessa é chegar hoje mais tarde. E deve ter no mínimo uns três quadrinhos que preciso ler hoje. Hoje. Hoje. Não dá tempo, é muita coisa. E eu estou mais é com saudade do Léo que qualquer outra coisa!
– Ah, o Léo… Aliás, e aí, algum avanço com ele?
– Não. Eu já tô é desistindo, quase. Eu já tentei mostrar pra ele tudo quanto é tipo de desenho que ele poderia gostar, e nada. Eu até me forcei a assistir uns episódios desse tal de Inazuma Eleven pra explicar pra ele, ver se ele se interessa porque é futebol, mas… Realmente nada. Eu tentei Shirokuma, eu tentei Medaka Box, tentei Gurren Lagann, FLCL, Evangelion, Paranoia Agent, Cowboy Bebop, eu tentei de tudo… Jogos então, nem se fala! Varri do FPS ao jogo de navinha, ele só se interessa mesmo no tal do Fifa. Histórias em quadrinhos, nem Vingadores… Mas gosto é gosto, eu gosto dele, não vou largar dele por isso.
– Mas vocês não tem nada em comum…
– Mas eu gosto dele, ué! Quem sabe um dia eu descubra algo que nós dois gostamos de apreciar assim.
– Bem, boa sorte! A Clara tá me esperando lá fora, e realmente queremos assistir Shirokuma Cafe daqui a pouco.

“Tomar no cu você não quer, né” pensou ela por um instante, mas se conteve em continuar seu caminho, agora com as coisas nos braços de novo. Depois pediu desculpas mentalmente pelo palavreado.
Enfim, antes de chegar em casa, percebeu que tinha recebido alguma coisa dos correios. Sim, era exatamente o que esperava. Novinho na caixa, sua cópia original de Lollipop Chainsaw, pra seu maravilhoso PlayStation 3. Lágrimas permearam seus olhos e borraram seu kit maquiagens. Pernas tremeram. Mãos tinham dificuldade em segurar as coisas.
Entrou em casa desesperada e: jogão da Eurocopa rolando solto na TV. A única TV que tinha em casa. Seu namorado e alguns amigos estavam assistindo algum jogo aleatório dessa tal de Eurocopa que tinha comentado umas duas ou três vezes com ela – a cerveja esparramada no chão, uns pratões cheios de carne vermelha, e um odor nada agradável de suíno suado.
– Léo! Que tá acontecendo?!
– Ah, amor – ainda estava com a boca cheia – Então… Jogaço imperdível hoje, convidei uns amigos – e engoliu o pedaço, mas logo mandou outro pra boca – pra assistir comigo nessa TVzola sua aqui que tu comprou pra jogar aqueles joguinho estranho seu.
– Ah… Tá, mas eu quero jogar meu joguinho estranho. Dá pra dar licença, por favor?
– Cara, por que tua namorada parece um boneco de porcelana? – perguntou um amigo, rindo, claramente debochando da cara da menina. Bem, como ela gostava de ser chamada.
Léo, claro, começou a rir junto. Os dois combinaram um high five estilosíssimo e acertaram, ainda rindo. Logo em seguida o namorado fechou a mão e acertou no nariz do outro, com toda a força que tinha, fazendo-o sangrar e derrubando o cara no chão.
– Porque ela quer, seu filho da puta!

Poucos instantes depois, todos os amigos saíram da casa e sobrou apenas o casal. Com toda a preguiça que tinha para tirar a maquiagem assim que chegava em casa, Marina decidiu sentar-se ao lado do namorado pra terminar de assistir aquele jogo entediante da Eurocopa. E logo depois, ele aguentou por algumas horas assisti-la jogando aquele jogo entediante de menina perfurando zumbis com a motosserra. E logo depois, dormiram juntos.

VocΓͺ leu um capΓ­tulo da sΓ©rie marina

escrito por nubobot42 narrado por yasu