Alguma vez você, ou alguém, já se perguntou como é permanecer aqui por anos ou talvez até séculos? Sem visitas, sem visitantes, só uma única pessoa que tenta, em vão, contar um pouco do que vê aqui dentro. Para ser honesta, seu vocabulário é frágil e mal consegue lidar com tudo o que preciso falar. Você está escrevendo? Ah, está escrevendo. Continue escrevendo.
Comecei séria, não é? Parece até que sou uma pessoa brava, nervosa. Talvez eu seja, mesmo. Tenho meus motivos, não tenho?
Sabe, vejo esse pêndulo balançando, de um lado para o outro, sem parar, há eras. Desde que tenho memória de estar aqui, existindo, vejo o pêndulo balançar. Ele chega até sua extremidade, depois cai, então chega à outra, cai novamente, e vai repetindo, extremidade após extremidade. É sempre a mesma coisa. Quer saber? O deus desse mundo, o caos, é ridículo. Estúpido, ridículo. Mais estúpidos ainda somos nós, caindo no seu terror e nas suas tentações, lutando em vão para permanecermos estacionários quando dentro de nós o movimento é uma constante. Talvez o caos seja estacionário, o único atributo estacionário do mundo.
Ah! como é um pesadelo imaginar o mundo sendo o que ele sempre foi. Já me sinto horrível só de pensar. Esse depósito macabro de pessoas tentando, sempre tentando, sempre agindo, sempre acreditando que há algo a se fazer. Não é que não há esperança, é que não há necessidade de esperança. Esperança em que? Amanhã vai ser melhor com relação ao que? Por que alguém gostaria de um amanhã melhor? Por que alguém acredita no amanhã? Um dia quero olhar para alguém, no fundo dos olhos, e ver o que se passa lá dentro quando pergunto “que diferença faz?”. Ah é, eu já fiz isso. É hilário. Não era possível mesmo que fosse algo bom, melhor que ridículo. Quando foi que começamos a pensar nisso?
Mas veja, não estou aqui para afundá-lo em meus devaneios existenciais bobos que só servem para deixar pessoas frustradas com o sabor amargo de um presente ligado a essa linha do tempo robótica e obviamente falsa. Nem para construir frases excessivamente grandes sem nenhuma vírgula. Nem para ser a torturadora que sempre fui. Estou aqui porque você precisa de ajuda, não é isso? Não foi para isso que veio aqui, como sempre? Ou é diferente agora? Peço a Deus todos os dias que você venha me visitar só para trazer flores, mas acho que… há! perdi a esperança.
Não me entenda mal, eu não ligo. Não faz diferença nenhuma. É que, às vezes, as pessoas mudam. Aliás, permita-me reformular, às vezes Deus envia alguns anjos para corrigir algumas falhas humanas que ele mesmo escolhe quando quer corrigir. Mas isso não importa. Queria saber qual é o seu sabor quando não está com os problemas de sempre. Por que você só vem aqui quando tem problemas? Vem cá, não posso ser sua amiga não? Desse jeito você vai morrer sozinho. Oh, não é uma piada. É um alerta.
Tem uma verdade bastante inconveniente sobre você. E sobre muitas pessoas que estão passeando pelo mundo. Pensando bem, a certo nível, todas. Que é que vocês são umas criancinhas assustadas com a grandiosidade do Universo e até mesmo dos universos. Em você é bastante engraçado como isso se manifesta. Posso apontar ou essa parte será cortada? Será como se tivéssemos conversado em segredo? Beeeeeeeem de pertinho!
Bobo.
O fato é que você está sempre esperando por mim. Sempre esperando o momento certo, o sentimento certo, o contexto certo. Já notou como suas frases são todas cheias de vírgulas? Você pensa em tanta coisa ao mesmo tempo! Nunca é uma coisa só.
Estou aqui todos os dias. Te esperando todos os dias. Você nasceu dormindo, não foi? Vai ver é isso. Por que você não se importa? Por que nunca se importa? O que é importante para você? Há algo que, de fato, importa ou a realidade é algo que você encara de olhos fechados, arrombando as portas de entrada do universo e simplesmente ignorando todas as dores que contrai com isso? O seu sorriso dói às vezes, sabia? O que mais as pessoas vão ter de fazer para te ajudar a perceber que existe, que há um pedaço de você que está fora da sua cabeça? Te esfaquear? Atirar em você? Isso também não vai adiantar, não é? E não me corta não, palhaço, vou te matar se você me cortar.
Não, você não espera, a sua ação é o não-agir, pouco me interessa o quanto isso pode soar contraditório. Quando está esperando aí sim sabemos que está em movimento, em sintonia com as explosões que ocorrem dentro de você. Quem espera sem agir, presa em sua própria impotência, sou eu. Eu espero você. Todos os dias. As flores do meu jardim esperam um cuidado seu, elas se sentem bem quando as toca. Por que sempre que faz isso em gentileza é apenas em uma espontaneidade que pode ser vista tanto como graça quanto como desprezo? Nem todo mundo quer uma gentileza acidental. Você não consegue ser deliberadamente gentil, ousadamente gentil, inesperadamente gentil? Em um português mais claro: quando é que vai conseguir ser, contra todas as expectativas, gentil? Por que é que acredita que o problema de ser um planeta está em prender pessoas na sua órbita, como se as pessoas não quisessem estar em sua órbita, e não em elas estarem lá por um simples acidente?
E aí acontecem esses desastres. Meu jardim é o que pra você? Um hospital? Uma casa de bruxaria? Onde você vem, deita no meu colo, repousa, conserta as asinhas, vai embora e que se dane a palhaça aqui? É claro que sei que você não é um interesseiro, seu tonto, conheço exatamente o que se passa aí. O que me deixa com mais raiva ainda. Também não estou falando dessas coisinhas que você estava pensando tanto umas semanas atrás porque, por mim, poderia não pensar em mais ninguém nunca mais. Acho a vida algo legal demais para dividir com alguém. E não me venha com a conversa de “compartilhar”, já estou velha demais pra ouvir essas coisas. Já “perdi meu homem na guerra”, como vocês costumam dizer. Foi horrível.
Estou falando de relações humanas mesmo, sabe? Essas coisas que a gente tem às vezes entre as pessoas: amizade, afeto, interesse, intimidade, carinho; e também raiva, vontade de meter a mão na fuça, trancar a pessoa no quarto quando ela não estiver percebendo. Quando foi que você se tornou uma pessoa incapaz de vivenciar isso? Pensando aqui, quando te conheci você era muito pior. Sempre foi assim? O que foi que fizeram com você? O que o mundo fez com você? Doeu tanto assim? Ou foi o contrário, simplesmente nem percebeu as coisas acontecendo?
Não vou nem perguntar outra vez, você só pode ter nascido dormindo. Seu nascimento foi doloroso, não foi? Entrar no mundo é doloroso, sempre é. Lembro perfeitamente do meu nascimento séculos atrás e parece que foi ontem: aquela coisa horrorosa, aquele caos terrível de estar num lugar completamente desconhecido, desprotegido, com frio, cheio de marcas de dor no corpo (dor que sequer foi sua!), todo o barulho que parecia tão distante tocando como se fosse através de caixas de som nos ouvidos, o vento corta. Como é que você passou por isso tudo dormindo? Ao menos significa que não vai ser difícil passar desse mundo para o outro também. Que bom!
Fique calmo, meu querido visitante. Só estou instigando a sua imaginação. Não sou nenhuma psicóloga. Não posso dizer, com certeza, que sei como nasceu. Como foi? É interessante saber. Você quis estar aqui, nesse mundo? Ou a dor de ter preferido o útero da mãe, de ter detestado ter sido tirado de lá, daquele conforto, te acompanha até hoje? Sabe, meu doce, eu conheço as pessoas. As coisas aparentemente mais idiotas assombram elas em suas noites de sono. Aparecem, reaparecem. Em forma de dores, em forma de lágrimas, em forma de sonhos, ocasionalmente até mesmo se tornam figuras de seus próprios pensamentos e com isso chegam a orientar algumas de suas ações.
Talvez eu esteja pegando pesado. Para falar a verdade, é o que quero. Você vem, visita meu jardim e não quer deixar cair nem uma lágrima sequer? Não se acha ousado demais, não?
Raras são as pessoas que não têm medo de estar dentro de si, mas é um trabalho árduo, pesado, de auto-investigação contínua, de descobrir seus piores demônios e ter coragem de pedir para alguém acender a luz, já que se dependesse apenas de ti isso já teria sido feito. Mesmo o mau caráter, pode confiar em mim! Todo mundo que mente quer esconder o demônio, transformá-lo em amiguinho, botar roupas agradáveis, maquiagem, banhá-lo a ouro, ensinar ele a dar piruetas, para que as outras pessoas não consigam perceber que é horrível e eventualmente ele mesmo deixe de perceber que é horrível. Só que o demônio sempre quer tomar seu banho de lama: aparece em uma noite qualquer sem os apetrechos, diz “bu!” e aterroriza sua dona vítima por alguns instantes que mais parecem a eternidade. Oh, pobres seres humanos. Vidas tão dramáticas, frágeis, pobres, desgovernadas e loucas. É difícil perceber isso e notar que está tudo bem, mas dá, já faz alguns aninhos que alguém provou que dá. Bem, teologia é com você, não comigo.
É por isso que acho tão engraçado quando vejo alguém que gosta de estar dentro de si. Dentro de si, mesmo. Não um masturbador compulsivo que constrói fantasias para fugir das duras carências de contato com a realidade, o que é tão ruim ou até pior que procurar em formas caídas a completude de sua própria identidade, mas alguém que já se percebeu e optou pela aventura interna. Já pensou nisso? Já percebeu que você é alguém que está sempre fazendo a lição de casa, mas tem medo de mostrar para o professor? Não é divertido? Coloque-se no meu lugar, por favor. Aqui, faremos isso simbolicamente. Isso, senta do meu ladinho. Agora vamos rir.
Agora me dá um abraço. Isso é muito triste.
Optar pela solidão é optar pelo caminho mais difícil. E quer saber? É uma grande besteira. Todas as pessoas sós são idiotas e idiotizantes. Não existe contemplação do próprio ser interior sem fazê-lo entrar nessa grande rota de colisão chamada “humanidade”, mais especificamente chamada “seu vizinho, seus pais, seus amigos” e quem mais aparecer depois. Não estou dizendo que você planeja ser um lobo solitário mas, afinal de contas, se não é isso que planeja, está mais do que na hora de começar a agir como alguém que não planeja ser um lobo solitário, não acha? Você é a pessoa mais inalcançável que já conheci, não estou brincando. É tão misterioso às vezes! Você não consegue perceber, consegue? Consegue se sentir misterioso? Consegue sentir que não tem muita gente entendendo muito bem o que você fala, de onde saiu tudo isso, como se formou tudo isso? Consegue até perceber, eu sei, mas sentir? Isso eu noto que não. Você não cansa, não? De falar sem ter a menor sensibilidade para perceber estar sendo compreendido, sempre essa suspeita estranha de que está falando sozinho. É meio aterrorizante. Eu já teria me matado. Você já tentou se matar?
É uma piada! Tão horrível quanto eu.
Que bom que aprendeu a se divertir com isso. Talvez tenha feito mal em te lembrar, peço desculpas. Como isso te afeta vai ser nosso segredinho, tudo bem? Já ia começando a falar aqui um monte de coisa, mas não precisa. Corta isso também.
Existe algo de intrigante em pessoas como você, e talvez como eu. Já cheguei no ponto onde não é fácil compreender o que digo, não cheguei? Não tem muito problema, já passei da idade de desejar que pessoas que mal saíram das fraldas consigam apreender o que há por trás das minhas palavras. Também não convivo com mais ninguém, não devo essas explicações. Estou ficando meio velha e rabugenta, vai ver estar contigo me cansa. Mas o que acontece contigo é diferente: é interessante quando você abre a boca, concluí isso. É cativante. É conquistador. A paixão juvenil, e até mesmo o amor de fato, que coloca em suas palavras deixa elas menos sufocantes, apesar de mais agressivas — sinto que, fosse você o responsável pela minha boca, minhas palavras não seriam tão imponentes mas ao mesmo tempo seriam muito mais interessantes.
Não estou te elogiando, apenas constatando. Também odeio elogios. Minha vontade de ser elogiada morreu com meu amado, foi embora junto com meu “para quem viverei agora?”. De onde vem seu ódio por elogios? É algo mais pontual, não é? Elogios também despertam o bebê dormente? Que divertido!
Segure minha mão por um instante, quero contar algo importante agora.
Quero que observe quantas flores diferentes existem no meu jardim. Que observe que algumas podem ser removidas e outras não. E que observe que todas elas estão aí. Sempre estiveram aí e sempre estarão. Se as que podem ser removidas forem removidas, elas serão repostas e tudo voltará ao normal. Se as que não podem ser removidas forem removidas, elas também serão repostas e tudo também voltará ao normal.
Enquanto houver alguém para repor o que pode ser perdido tudo fica bem. Quando essas pessoas forem perdidas Deus também as repõe. É simples. O que é permitido ser removido é permitido porque é, e o que não é permitido ser removido não é permitido porque não é. Não é uma lógica maravilhosa? É impressionante como as pessoas acreditam, do fundo do coração, que a permissão está relacionada com a integridade do meu Jardim. O que vocês estão achando, seus imbecis? Haveria motivo para eu estar aqui se, no final das contas, não tivesse o poder de deixar o Jardim exatamente da mesma forma como estava antes? Não é sobre as flores, nem sobre o Jardim, nem sobre mim. A permissão é sobre você.
Sabe, quando você tira uma flor de um jardim praticamente nada ocorre ao jardim. Uma flor a mais, a menos, que importa? Por outro lado essa é a única flor que seus dedos alcançaram, tocaram e por fim tomaram para si. Não, sua mão nunca vai pegar “um pedaço do jardim”, ela sempre vai pegar “uma flor” e depois “outra flor”, “duas flores” e “mais duas flores”, da maneira que melhor desejar. Há uma relação direta entre você e um indivíduo do jardim, que vai mudá-los para sempre, mas a forma do jardim em si permanece praticamente intacta.
Então, se remover uma flor que não pode ser removida, o jardim continua o mesmo. Seu coração, no entanto, nunca mais será o mesmo. A flor proibida se amarrará às pontas dos seus dedos e se tornará uma âncora, uma sentença, e você nada poderá fazer a respeito disso. “Você errou, eu significo isso” dirá a flor à você todos os dias. Pode recusar dar ouvidos, pode negar que aquela flor um dia esteve em suas mãos, pode até convencer as pessoas de que a flor proibida era na verdade uma flor permitida, mas o tempo — um dos deuses mais vorazes do mundo — tratará de registrar esse momento em sua alma com o próprio fogo. Nada pode ser feito.
Lembra, outro dia, quando mencionei que os deuses do mundo estavam mudando e que tudo o que haveria de ruir ruiria? Se está acontecendo? Meu Deus, tudo aparentou mesmo dar um giro de cento e oitenta graus, não é? Ainda assim falamos apenas do jogo de aparências da humanidade, do teatro espetacular dos deuses do mundo, nada disso realmente importa muito. As pessoas se desesperam demais por scripts prontos, escritos pelo próprio diabo e com permissão do próprio Deus para acontecerem.
É, sabia que Deus permitiu tudo o que estão interpretando? Mal dá para acreditar que pessoas estão querendo “lutar por Deus”, como se isso fosse grande coisa, como se ele não tivesse uma ordem bem maior para manusear. Como se isso não fosse apenas um detalhe que ele acaba esbarrando e cuidando pelo simples fato de estar cuidando de tudo e, portanto, não deixa de lado. Se as pessoas cuidassem de suas próprias vidas com certo carinho, zelo e generosidade, talvez conseguissem compreender um pouquinho do cuidado que esse velho esquisito tem pelo seu Universo e com isso entenderiam que nada pode estar realmente fora do controle. Mas veja, não há nem uma falta de sinais.
As pessoas não percebem, e nem poderiam perceber, que os cenários mudam porque precisam mudar. Porque Deus precisa mudá-los. Porque nós precisamos ser as mesmas pessoas ontem, e hoje, e amanhã, e depois, e para isso o ontem precisa de um cenário, o hoje de outro completamente diferente, e por aí vai. Do contrário nós não somos pessoas, somos apenas parte do cenário. Tudo pode mudar mas algo precisa ficar, alguém precisa viver todos esses dias escolhidos a dedo pelo próprio criador para que fossem vividos. Deus gosta de pessoas, Deus criou pessoas, e não viu que eram boas, viu que eram muito boas.
É por isso que, meu querido, estou um pouco orgulhosa de você.
O cenário mudou mesmo. Todos os cenários mudaram. Esse seu coração está partido e exausto, mas isso pode ser resolvido com o tempo.
Cada vez que se arriscou a pegar uma flor do meu jardim foi maravilhoso. Não vou dizer que pegou apenas as que deveria ter pegado, mas assumo que fui um pouco desonesta ao não facilitar a identificação de suas permissões. Eu queria ver você lutar. Queria ver um pouquinho de culpa aí dentro, um remorso, algumas frustrações. Vamos lá, é disso que um ser humano é feito! Não só de sorrisinhos bobos mas de se jogar no chão e chorar por noites e mais noites, rachar-se internamente, perceber o mundo sem graça onde está vivendo, notar que sem um esforço da própria imaginação nada disso vale a pena.
Você sempre sai dessas melhor do que entra, então já perdi o resto de pudor que tinha contigo. Dessa vez, tenho o privilégio de estar te ajudando a transformar uma de suas áreas mais frágeis. Acho que fiz parte da reconstituição de todo o seu ser, às vezes eu mesma redesenhei algumas partes que estavam completamente erradas, algumas vezes pensando “meu Deus, como será que ele conseguiu viver todo esse tempo sendo assim?”. Às vezes Deus me respondia. E eu, não sabendo muito o que fazer ao perceber a profundidade da sua destruição, só conseguia chorar. Sim, eu já chorei. Pensando em você, ainda. Satisfeito?
Dessa vez não quero exigir que fique no meu jardim me fazendo companhia. Quero fazer diferente de todas as outras vezes. Você está livre.
Sim, não vou te forçar a ficar aqui. Não vou te deixar preso, entretido entre as flores, alimentando-o todos os dias com minhas idéias razoavelmente insanas. Passada essa noite, você pode fazer o que bem entender. Pode se curar da maneira que bem entender. Não sou a única pessoa que existe no seu mundo e, na verdade, se os passarinhos me informaram corretamente, você já está fazendo isso sozinho e muito bem.
Até estranhei que passou por aqui. Foi um vício do coração, não foi? Você nem precisava de mim, só sentiu medo. Bom. Não importa.
A minha exigência se transformou num simples pedido. Você está livre de mim para sempre. Não quero mais ter o poder de demolir, sozinha, as paredes da sua alma. Só farei isso com a sua ajuda a partir de hoje.
Só quero que permaneça aqui se quiser permanecer. Apareça por aqui qualquer hora, bata palma no portão. Posso preparar um chá ou um café bem rápido e podemos conversar. Sobre o que você quiser. Do clima ao seu coração, daquela menina chata que caiu mesmo na conversa de que você é tímido ao rapaz que quase te matou no trânsito, pouco importa o assunto. Você sabia, né? Que pouco importa o assunto. Que o importante é estar conversando. E, a você, só não é permitido esperar. Sou eu a pessoa que está esperando. Se você quiser, você vem. Se não vier, não aceitarei mais uma desculpa como “não sei fazer isso”, te vira.
Sempre senti que éramos amigos, agora você vai ter que me provar que sei disso. E então, meu amigo, o Jardim é todo seu. Não confiaria ele a mais ninguém.