– O que aconteceu?!
A pobre menina boneca de porcelana estava em estado de choque. Seu grande amor… seu grande amor… era ele que estava ali.
Ele gritava sem parar: o braço direito com algumas queimaduras, nada extremamente grave, mas ardia bastante e ele não conseguia reagir de outra forma.
Marina também não conseguia ajudar muito. Era estabanada, foi correndo até a cozinha pegar alguma coisa que pudesse ajudá-lo, mas percebeu que carregava uma garrafinha de álcool na metade do caminho e teve que voltar. Acabou trazendo água mesmo, não sabia ao certo como fazer melhor que isso.
– Meu CG… calma. Respira. Senta aí. Me diz o que aconteceu. – disse ela, enchendo um copo d’água bem gelado e fazendo-o tomar, enquanto ficava indecisa se jogava o resto do conteúdo da garrafa no braço ou não. Era bem capaz que ela estivesse pior que ele, apesar do estado dele não ser nada bom também. Só não era notável. Era um grandalhão gritando “AI CARALHO” a cada cinco segundos, só.
– Ah mano eu tava fazendo os bagulhos lá e de repente. FUOSHHHH. Fogo pra todo canto, caralho meu… Pior que tinha maior coisa pra salvar lá do bagulho. Ah velho. Quase que perde tudo, mas maioria eu consegui salvar comigo. Primeira vez que eu faço uma baianada dessas, meu.
– Espera, eu não entendi. Não ao certo. Acabou ocorrendo incêndio em algum lugar, e tinha algo lá dentro, que você precisou entrar pra salvar? Por isso a queimadura no braço desse jeito? – foi interrogando ela, querendo lapidar o “conhecimento” passado pelo seu querido, já que soava mais estranho que qualquer outra coisa.
– Ah mano não vem com essas ideias erradas aí de querer tudo explicadinho. É o que eu falei e pronto! Eu tava lá, aí veio o fogo, aí precisava salvar as carne, aí eu salvei, mas meu braço foi pro saco… e tá aqui assim… e ah, velho, foi foda. Mas pior que tem que terminar esses negócios lá. Não dá pra deixar assim. Eu comecei o troço eu tenho que terminar, mas precisava de um… ah, nossa, tá foda.
– Que gesto bonito, amor… Você ainda quer voltar lá, e terminar o serviço que tava fazendo, de livre vontade? Sendo algo assim, tão arriscado? E só veio aqui pra eu cuidar de você rapidinho? – deu um abraço apertado nele, apesar do cheiro estranho, provavelmente do queimado, que já até mesmo fazia parte daquele corpo – Você me lembra meus heróis favoritos, sabe? Que orgulho… Tipo quando eles chegam em casa e já deixam claro aos presentes que amam muito eles e tal, mas que estão prestes a fazer um sacrifício pelo bem de todos… Eu nunca imaginei que ia passar por isso um dia.
Então ela começou a chorar freneticamente, enquanto apertava cada vez mais forte o rapaz, ainda tomando cuidado para não machucá-lo.
Ele não entendia ao certo qual era a ideia daquilo tudo, mas aceitou. “Ela tava gata”, de qualquer forma. Tinha um considerável benefício em mãos.
– Pode ir… Tome cuidado, por favor. Não quero te perder, tal como a Ciel perdeu o Zero, ou como o rapaz de Elfen Lied perdeu a Nyuu, ou… enfim. Mas se for necessário, assim, realmente necessário, eu quero que saiba que eu te amo muito.
– Oloco meu. – respondeu ele, um pouco mais calmo. Independente de estar entendendo alguma coisa do que ela estava falando, o gesto era forte. O abraço era forte. E ele não era boneco de mongo para não entender o que aquelas palavras significavam – Valeu, mozão, também te amo. Mas vou lá terminar o bagulho. Se não der nenhuma zica eu te trago alguma coisa.
– Tudo bem…
Então os dois se desgrudaram e ele foi até a porta, curiosamente sem ter passado nada no braço, para terminar o “serviço”.
– Tchau, CG, boa sorte!
– Fica com Deus, falou.