citação #1

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Ao pintor fica reservada uma prerrogativa profética, enquanto os leigos conhecem apenas a realidade que aqueles prepararam; uma realidade que não vemos, mas que conhecemos por força de convenções. Só a impotência artística não pinta o que vê da realidade, mas o que sabe da realidade – o nosso conhecimento da realidade é uma convenção como o uso da linguagem quotidiano. Como o poeta quebra o uso convencional da linguagem para restituir às palavras o seu sentido, assim o pintor altera a forma convencional dos objetos para restituir às cores a cor e à luz a luz. Não quer saber da realidade convencional. Coloca-se diante duma realidade nova, desconhecida – como míope ou presbita; já não são termos oftalmológicos – e descobre uma nova realidade, com gigantes, meninos, ninfas e santos bizantino-góticos, santos deformados. É essa realidade da pintura que nos faz prever outras realidades e suportar a nossa própria realidade.

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