Eu vou voltar a escrever o máximo que puder em blog. Escrever sem rumo, sem estrutura e sem muito motivo. Porque o Twitter não substitui um blog, nunca substituiu e nunca substituirá. Nunca poderemos escrever sem limites no Twitter, nunca seremos lidos por pessoas profundamente interessadas no que estamos escrevendo (ainda que seja um total de zero pessoas). E pior: podemos ser infectados por um linguajar twitteiro terrível, falando sempre sobre assuntos específicos, de jeitos específicos, presos a pessoas e algoritmos específicos.
Enfim.
Percebi que tento escrever em alguns formatos e que, se não escrever nesses formatos, não sai mais nada. Percebi que só lembro como se escreve uma narrativa em primeira pessoa e uma crítica a um jogo de videogame, um filme, uma música etc. Para além disso, o que inclui um sem-fim de maneiras de escrever, já não lembro mais como faz, já empacoto em poucos caracteres e acabo cometendo algum, ou alguns, twits. Isso é péssimo.
Faz tempo que eu venho tentando ser eu. Eu me perdi um pouco, não nego. Entre os desafios de uma pandemia, os desafios de um relacionamento de namoro, e depois de casamento. Os desafios dos conflitos com as pessoas, das tensões entre pensar de uma forma e ser confrontado por hordas de pessoas que pensam de outra forma e seguem ensandecidas para que eu entre na dança. Essas coisas me desgastaram como artista. Como escritor, como compositor – já vai fazer um ano que rascunhei uma música, eu já sei exatamente o que preciso fazer para continuar, mas simplesmente não consigo; pudera, dessa vez vou me perdoar, pois estou sem teclado no meu apartamento provisório, não ousei subir quatro andares de escada com dois teclados para colocar num espaço que na verdade sequer existe.
Tentei gravar vídeos, e deu muito certo. Não porque tem alguém assistindo já que, como tudo o que eu faço, o sucesso é zero. O que importa é que percebo que consigo dialogar sobre muitos assuntos que estão no meu coraçãozinho num vídeo, dirigindo um carro, mas a fala não pertence só ao diálogo político, religioso, ou mesmo de temas quaisquer. Escrever é um tipo específico de fala, criar música também é outro tipo bem específico de fala. Esses espaços me fazem muita falta. Eu me sinto mais tranquilizado com relação às minhas opiniões, me importando menos com quem está do outro lado da trincheira, em especial porque ninguém mais pode me chantagear a mudar de alguma forma, algo que era feito com certa constância quando eu era solteiro e queria namorar, e depois precisava casar. Eu já não me importo mais, isso é muito bom, mas não sou só isso.
E pra que serve esse post, então? A verdade é que: pra nada muito concreto, nada muito claro. Pra tentar começar de novo de onde eu estava e, por algum motivo, parei de estar. Pra tentar tirar da caixinha todas essas vozes que ficaram trancadas lá dentro, aceitaram de bom grado ficarem trancadas lá dentro afirmando que “Tudo bem. É um momento que exige isso. Sabemos que esse momento vai passar”, mas precisam sair, eu quero que saiam. Será que alguém ainda gosta delas? Será que, nesses dois anos de silêncio profundo, as poucas pessoas que se importavam com isso acreditam que eu parei de dar comidinha a elas, que eu desliguei minhas antenas que captavam as ondas mais bizarras desse mundo e as transformavam em sabe-se-lá-o-que, em prol de virar um chato que vive sua vida banal e extravasa os excessos na internet? Que importa?
Bem-vindos, mais uma vez, à Church of Imagination. Aqui só falamos a verdade. Aqui tudo o que é dito aconteceu mesmo, a questão é em qual tempo e em qual espaço. Nem sempre existimos, mas sempre somos.
Sempre somos.