citação #1
Marshall B. Rosenberg - Comunicação Não-Violenta
Nosso repertório de palavras para rotular os outros costuma ser maior do que o vocabulário para descrever claramente nossos estados emocionais. Passei 21 anos em escolas americanas e, durante todo esse tempo, não me lembro de ninguém ter me perguntado como eu estava me sentindo. Os sentimentos simplesmente não eram considerados importantes. O que se valorizava era “a maneira certa de pensar” — tal como definida por aqueles que detinham posições de hierarquia e autoridade. Somos ensinados a estar “direcionados aos outros”, em vez de em contato com nós mesmos. Aprendemos a ficar sempre imaginando: “O que será que os outros acham que é certo eu dizer e fazer?”
Ouço regularmente afirmações como: “Não me interprete mal, sou casada com um homem maravilhoso, mas nunca sei o que ele está sentindo”. Uma dessas mulheres insatisfeitas trouxe o marido a um seminário, durante o qual ela lhe disse: “Sinto como se estivesse casada com uma parede”. O marido então fez uma excelente imitação de parede: ficou sentado, calado e imóvel. Exasperada, ela se virou para mim e exclamou: “Veja! É isso que acontece o tempo todo. Ele fica sentado e não diz nada. É exatamente como se eu estivesse vivendo com uma parede”.
Respondi: “Está me parecendo que você está se sentindo solitária e querendo mais contato emocional com seu marido”. Quando ela concordou, tentei mostrar que era improvável que afirmações como “Sinto que estou vivendo com uma parede” despertassem a atenção do marido para seus sentimentos e desejos. Na verdade, era mais provável que fossem ouvidas como críticas do que como convite para se conectar com os sentimentos da esposa. Ademais, esse tipo de afirmação freqüentemente leva a profecias que acabam por acarretar sua própria concretização. Por exemplo, um marido ouve críticas por se comportar como uma parede; ele fica magoado, é desencorajado e não responde, confirmando assim a imagem de parede que a esposa tem dele.